Malcolm X, EUA (parte 1 de 2)
Descrição: A história da descoberta do verdadeiro Islã por uma das figuras revolucionárias afro-americanas mais proeminentes, e como ele resolve o problema do racismo. Parte 1: A Nação do Islã e o Hajj.
- Por Yusuf Siddiqui
- Publicado em 04 Jan 2009
- Última modificação em 07 Jan 2009
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“Sou e sempre serei um muçulmano. Minha religião é o Islã.”
-Malcolm X
Infância
Malcom X nasceu Malcom Little em 19 de maio de 1925 em Omaha, Nebraska. Sua mãe, Louis Norton Little, era uma dona-de-casa ocupada com os oito filhos da família. Seu pai, Earl Little, era um ministro batista sincero e partidário ávido do líder nacionalista negro Marcus Garvey. O ativismo de Earl nos direitos civis desencadeou ameaças de morte da organização supremacista branca Legião Negra, forçando a família a se mudar duas vezes antes do quarto aniversário de Malcom. Independentemente dos esforços de Little para escapar da Legião, em 1929 sua casa em Lansing, Michigan, foi totalmente queimada, e dois anos depois o corpo mutilado de Earl foi encontrado nos trilhos do bonde da cidade, quando Malcom tinha apenas seis anos. Louise teve um colapso nervoso vários anos depois da morte de seu marido, e foi internada em uma instituição para doentes mentais. Seus filhos foram divididos entre vários lares adotivos e orfanatos.
Malcom era um aluno esperto e focado e graduou-se no ensino fundamental como o primeiro de sua classe. Entretanto, quando um professor favorito disse a Malcom que seu sonho de tornar-se advogado não era um objetivo realista para um negro, Malcom perdeu interesse na escola e a abandonou com a idade de quinze anos. Aprendendo nas ruas, Malcom familiarizou-se com criminosos, ladrões, traficantes de drogas e cafetões. Condenado por roubo aos vinte anos permaneceu na prisão até a idade de vinte e sete anos. Durante sua prisão ele tentou instruir-se. Além disso, durante seu período na prisão, conheceu e uniu-se à Nação do Islã, estudando em detalhes os ensinamentos de Elijah Muhammad. Foi libertado, um homem mudado, em 1952.
A ‘Nação do Islã’
Ao ser libertado Malcom foi para Detroit e uniu-se às atividades diárias da seita, recebendo instruções do próprio Elijah Muhammad. O comprometimento pessoal de Malcom ajudou a construir a organização a nível nacional, enquanto fez dele uma figura internacional. Foi entrevistado em programas de televisão e revistas de destaque, e deu palestras em todo o país em várias universidades e outros fóruns. Seu poder estava em suas palavras, que descreviam vividamente o sofrimento dos negros e incriminava os brancos de forma veemente. Quando uma pessoa branca referiu-se ao fato de que algumas universidades do sul tinham matriculado calouros negros sem precisar de baionetas, Malcom reagiu com escárnio:
Quando eu não respondi, o anfitrião do programa mordeu a isca: Ahhh! De fato, Sr. Malcom X – você não pode negar que isso é um avanço para sua raça!
Aproveitei a brecha, então. Não posso dar as costas sem ouvir sobre algum ‘avanço nos direitos civis’! Os brancos parecem pensar que os negros devem gritar 'aleluia'! Por quatrocentos anos o branco manteve sua longa faca no pescoço do negro – e agora o branco começa a afastar a faca, talvez alguns centímetros! O negro deve ser grato? Por que, se o branco empurrou a faca e a cicatriz vai permanecer?!
Embora as palavras de Malcom alfinetassem as injustiças contra negros na América, as opiniões igualmente racistas da Nação do Islã o impediam de aceitar que alguns brancos fossem sinceros ou capazes de ajudar na situação. Por doze anos ele pregou que o homem branco era o demônio e que o Honorável Elijah Muhammad era mensageiro de Deus. Infelizmente, muitas imagens de Malcom hoje focam nesse período de sua vida, embora a transformação pela qual ele passou tenha transmitido uma mensagem completamente diferente e mais importante para o povo americano.
A Mudança para o Verdadeiro Islã
Em 12 de março de 1964, impelido pela inveja dentro da Nação do Islã e por revelações de imoralidade sexual por parte de Elijah Muhammad, Malcom deixou a Nação do Islã com a intenção de começar sua própria organização:
Sinto-me como um homem que de alguma forma esteve dormindo e sob o controle de outra pessoa. Sinto que o que estou pensando e dizendo agora é por mim mesmo. Antes, era por e pela orientação de outro, agora penso com minha própria mente.
Malcom estava com trinta e oito anos quando deixou a Nação do Islã de Elijah Muhammad. Refletindo sobre o que ocorreu antes de sua saída, ele disse:
Em uma ou outra faculdade ou universidade, geralmente em encontros informais após eu ter feito minha palestra, por volta de uma dúzia de pessoas brancas de boa complexão vinha falar comigo, se identificando como muçulmanos árabes, do Oriente Médio ou do norte da África que estavam visitando, estudando ou morando nos Estados Unidos. Eles me diziam que a despeito de minhas declarações acusando os brancos, sentiam que eu era sincero em me considerar um muçulmano – e que sentiam que se eu fosse exposto ao que chamavam de Islã verdadeiro, eu o entenderia e o abraçaria. Automaticamente, como seguidor de Elijah, eu me refreava toda vez que isso era dito. Mas na privacidade de meus pensamentos, depois de várias experiências como essa, me questionei: se alguém é sincero ao professar uma religião, por que se recusaria a ampliar seu conhecimento daquela religião?
Aqueles muçulmanos ortodoxos que encontrei, um após outro, me incentivaram a encontrar e conversar com um Dr. Mahmoud Youssef Shawarbi. . . . Então um dia Dr. Shawarbi e eu fomos apresentados por um jornalista. Ele foi cordial. Disse que tinha me acompanhado pela imprensa; eu disse que tinham me falado dele, e conversamos por quinze ou vinte minutos. Ambos tínhamos que sair para compromissos, quando ele me disse algo cuja lógica nunca sairia de minha cabeça. Ele disse que nenhum homem acredita de forma perfeita até que deseje para seu irmão o que deseja para si próprio (um dito do Profeta Muhammad, que Deus o louve).
O Efeito da Peregrinação
Malcom prossegue sobre o Hajj:
A peregrinação à Meca, conhecida como Hajj, é uma obrigação religiosa que todo muçulmano ortodoxo cumpre, se tiver capacidade, pelo menos uma vez em sua vida.
O Alcorão Sagrado diz:
“...A peregrinação à Casa é um dever para com Deus, por parte de todos os seres humanos, que estão em condições de empreendê-la;...” (Alcorão 3:97)
“Deus disse: ‘E proclama a peregrinação às pessoas; elas virão a ti a pé, e montando toda espécie de camelos, de todo longínquo lugar.’” (Alcorão 22:27)
Todos os milhares no aeroporto, prontos para partir para Jedá, estavam vestidos da mesma forma. Você podia ser um rei ou um camponês, e ninguém saberia. Algumas personalidades poderosas, que foram discretamente mostradas a mim, vestiam o mesmo que eu. Vestidos dessa forma, todos começamos a chamar intermitentemente Labbayka! (Allahumma) Labbayka! (Aqui estou, Ó Senhor!).Reunidos no avião estavam pessoas brancas, negras, pardas, vermelhas e amarelas, olhos azuis e cabelos loiros, e minha carapinha vermelha – todos juntos, irmãos! Todos honrando o mesmo Deus e, por sua vez, todos se honrando mutuamente...
Foi quando pela primeira vez comecei a reavaliar o homem branco. Foi quando pela primeira vez comecei a perceber que o homem branco, como usado comumente, significa complexão física apenas secundariamente; primariamente descreve atitudes e ações. Na América, homem branco significava atitudes e ações específicas em relação ao homem negro, e em relação aos outros homens não-brancos. Mas no mundo muçulmano, eu tinha visto que homens com complexão branca eram mais genuinamente fraternais do que qualquer outro já tinha sido. Aquela manhã foi o começo de uma mudança radical em toda minha perspectiva sobre os homens brancos.
Havia dezenas de milhares de peregrinos, de todo o mundo. Eram de todas as cores, de loiros de olhos azuis a africanos de cor negra. Mas estavam todos participando no mesmo ritual, exibindo um espírito de unidade e fraternidade que minhas experiências na América me levaram a acreditar que jamais poderia existir entre os brancos e os não-brancos... A América precisa compreender o Islã, porque essa é a religião que apaga da sociedade o problema da raça. Através de minhas viagens no mundo muçulmano, encontrei, conversei e até comi com pessoas que na América seriam consideradas brancas - mas a atitude branca foi removida de suas mentes pela religião do Islã. Eu jamais tinha visto fraternidade sincera e verdadeira praticada por todas as cores juntas, independentemente de sua cor.
A Nova Visão de Malcom da América
Malcom continua:
Cada hora aqui na Terra Sagrada me permite ter mais discernimentos espirituais sobre o que está acontecendo na América entre os negros e brancos. O negro americano não pode nunca ser culpado por suas animosidades raciais – está apenas reagindo a quatrocentos anos de racismo consciente dos brancos americanos. Mas como o racismo leva a América para o caminho do suicídio, eu creio, das experiências que tenho tido com eles, que os brancos da geração mais jovem, nas faculdades e universidades, verão a desgraça que se aproxima e muitos deles se voltarão para o caminho espiritual da verdade – o único caminho para evitar o desastre para o qual o racismo inevitavelmente levará a América.
Acredito que Deus neste momento está dando à suposta sociedade branca ‘cristã’ do mundo sua última oportunidade de se arrepender e expiar os crimes de exploração e escravização dos povos não-brancos do mundo. É exatamente como quando Deus deu ao Faraó uma chance de se arrepender. Mas o Faraó persistiu em sua recusa de dar justiça àqueles que oprimiu. E nós sabemos que Deus finalmente destruiu o Faraó.
Nunca esquecerei o jantar com o Dr. Azzam. Quanto mais conversávamos, mais seu vasto reservatório de conhecimento e sua variedade pareciam ilimitados. Ele falou da linhagem racial dos descendentes de Muhammad, que Deus o louve, o Profeta, e mostrou como eram brancos e negros. Também destacou como a cor, e os problemas de cor que existem no mundo muçulmano, existem apenas onde, e na medida em que, aquela área do mundo muçulmano foi influenciada pelo Ocidente. Ele disse que ao encontrar quaisquer diferenças com base na atitude em relação à cor, isso refletia diretamente o grau de influência ocidental.
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