Metodologia Histórica Moderna vs. Metodologia dos Hadiths (parte 1 de 5): Metodologia Histórica Ocidental

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Descrição: Uma comparação entre métodos modernos de registro da história e os usados nos hadiths. Parte 1: Metodologia Histórica Ocidental Moderna e criticismo externo.

  • Por Reem Azzam
  • Publicado em 29 Aug 2011
  • Última modificação em 24 Apr 2016
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Modern_Historical_Methodology_vs_Hadeeth_Methodology__(part_1_of_5)_PT-BR_001.jpgO estudo dos hadiths remonta a séculos e tem sido tema de muita discussão entre muçulmanos e não-muçulmanos.  Alguns estudiosos consideram as coletâneas de hadith como não autênticas e algo a ser descartado, enquanto outros alegam o oposto.  Onde exatamente reside a verdade?  Como ponto de partida, é útil examinar o criticismo de acordo com a metodologia dos hadiths comparado ao criticismo de acordo com a metodologia histórica ocidental moderna.  Portanto, o propósito desse trabalho deve ser primeiro explicar as diretrizes gerais para autenticação e verificação de fontes históricas, depois explicar as diretrizes gerais usadas na autenticação e verificação de hadiths e, finalmente, comparar os dois processos.

Metodologia Histórica Ocidental Moderna

Quando eventos ocorrem podem ser conhecidos por contemporâneos que passaram adiante seu conhecimento e compreensão (Lucey 20) [1] .  Na vida cotidiana as pessoas aceitam que o conhecimento de eventos pode ser passado adiante por testemunhas desses eventos e que podem ser transmitidos de forma exata.  De fato, em um tribunal, através do depoimento de testemunhas de um evento particular os fatos são estabelecidos além de dúvida razoável (Lucey 22). De acordo com um historiador, “o testemunho confiável é uma fonte incontestável e indiscutível de eventos históricos” (Lucey 20). É a partir do testemunho confiável de contemporâneos de eventos que se deriva o conhecimento histórico (Lucey 18). Consequentemente, o objetivo da metodologia histórica é determinar se os vários testemunhos que chegam até nós hoje podem ser aceitos com evidência sólida.

Uma vez que um historiador coletou fontes que direta ou indiretamente forneçam informação sobre um evento particular (ou seja, um livro, manuscrito, pedaço de cerâmica, uma foto, um clipe, uma tradição oral), ele deve avaliá-las usando as técnicas de criticismo.  Essas fontes históricas ou “testemunhas” fornecem informação ou depoimento.  O papel do criticismo externo é estabelecer a autenticidade de uma fonte (o fato de depoimento) e sua integridade (a isenção de corrupção durante a transmissão).  Em comparação, o criticismo interno se ocupa em estabelecer o significado verdadeiro de um depoimento e a credibilidade de uma testemunha (Lucey 23). Em última instância, os princípios básicos do criticismo de fonte levam ao estabelecimento de fatos ou ao descrédito de fatos previamente estabelecidos (Marwick 196) [2] .

Criticismo Externo

O criticismo externo envolve investigar a origem de uma fonte particular - em oposição ao seu conteúdo, que é objeto de criticismo interno.  O historiador precisa procurar toda a informação possível em relação a origem da fonte e possivelmente restaurar a fonte à sua forma original também (Lucey 23). Isso é necessário para estabelecer a autenticidade da fonte.  Determinar a autenticidade de uma fonte significa estabelecer que o depoimento é de fato da pessoa a quem é atribuído ou que pertence ao período ao qual se alega pertencer e que é o que alega ser.  Procurar toda informação possível em relação à origem da fonte também é necessário para estabelecer a integridade da fonte, ou seja, que não foi corrompida durante sua transmissão até o momento presente e, caso tenha sido, que as alterações sejam identificadas.

Existem muitos tipos diferentes de perguntas que precisam ser respondidas para estabelecer o fato do depoimento, sendo o criticismo externo o primeiro passo.  É preciso determinar a origem da fonte e também onde foi originalmente encontrada (Marwick 222). Por exemplo, se um vaso egípcio é encontrado em escavações no Iêmen, onde ele foi encontrado seria de grande significância no que isso poderia indicar sobre o comércio entre os dois países.  Além disso, é preciso saber a data da fonte e determinar a proximidade de sua data com as datas pertencentes ao tópico sob investigação (Marwick 222). Outro assunto importante a determinar é como se relaciona com outras datas importantes.  Toda essa informação pertencente à origem da fonte será útil na determinação de sua credibilidade por meio do criticismo interno mais adiante.

Vale notar aqui que os historiadores distinguem entre autoria e autenticidade, mesmo que “identificar o autor seja o primeiro passo no estabelecimento de autenticidade” (Lucey 47). É possível que um documento anônimo seja autêntico, como os escritos primitivos que apareceram sob pseudônimos, desde que sejam conhecidos a que ano ou período e local pertencem o documento.  Entretanto, em certos casos o autor de um documento deve ser estabelecido para determinar a autenticidade de uma fonte.

O segundo e último passo no criticismo externo consiste de um exame da integridade da fonte.  Em outras palavras, deve ser apurado que a fonte ou depoimento chegou ao historiador sem corrupções.  Somente então o fato do depoimento é estabelecido de forma absoluta (Lucey 62). Se foram feitas mudanças no depoimento, ele deve ser capaz de distinguir o original das mudanças para que a fonte permaneça autêntica.  Embora adições e deleções não intencionais ou intencionais possam ter sido feitas à fonte original ou suas cópias, deve ser estabelecido que a fonte ou depoimento é no mínimo substancialmente integral.  Vale notar aqui que a corrupção resultante de cópia descuidada é uma ocorrência muito comum e pode levar a grande mal-entendido (Lucey 62). Com isso estabelecido, o historiador pode agora prosseguir para avaliar o depoimento.



Footnotes:

[1] Lucey, William. History: Methods and Interpretation (História: Métodos e Interpretação, em tradução livre). Chicago: Loyola UP, 1958.

[2] Marwick, Arthur. The Nature of History (A Natureza da História, em tradução livre). 3a. ed. Londres: Macmillan, 1989.

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