Hussein Abdulwaheed Amin, Ex-Católico, Irlanda (parte 3 de 4): Do Trinitarismo ao Unitarismo
Descrição: De cristão católico a unitário ariano e, depois, muçulmano.
- Por Hussein Abdulwaheed Amin
- Publicado em 12 Nov 2012
- Última modificação em 12 Nov 2012
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O Alcorão – perfeitamente preservado e inalterado
Gostaria de mencionar que em contraste com a compilação do Novo Testamento e especificamente com os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, o Alcorão, que é um livro, foi revelado inteiramente a um profeta, Muhammad. Foi memorizado por muitos de seus seguidores como foi recebido por um período de 23 anos e também foi registrado por escrito durante a vida de Muhammad. Foi definitivamente transcrito dentro de duas décadas da morte de Muhammad e verificado por seus companheiros sobreviventes mais próximos. Duas das quatro cópias do Alcorão original feitas naquela época continuam a existir hoje – uma em Istambul, na Turquia, e a outra em Tashkent, no Uzbequistão, na Ásia central. Todo Alcorão em árabe no mundo hoje é, letra por letra, idêntico a esse antigo manuscrito.
De fato, no século 19, um instituto da Universidade de Munique na Alemanha coletou quarenta e duas mil cópias diferentes do Alcorão, incluindo manuscritos e textos impressos produzidos em várias partes do mundo islâmico ao longo de um período de 1.300 anos.Um trabalho de pesquisa foi realizado sobre esses textos por meio século, no fim do qual os pesquisadores concluíram que exceto por erros de cópia, não havia discrepâncias no texto dessas quarenta e duas mil cópias, apesar de terem sido produzidas em épocas diferentes entre o primeiro e o décimo quarto séculos islâmicos e adquiridos de todas as partes do mundo. Infelizmente esse instituto e seu tesouro inestimável de manuscritos corânicos foram destruídos em um bombardeio à Alemanha feito pelos aliados durante a Segunda Guerra Mundial, mas as descobertas de seu projeto de pesquisa sobreviveram.
Em resumo, o Alcorão é um só. A integridade do texto em si é irrepreensível. Permanece apenas uma decisão pessoal de aceitá-lo ou não como a palavra de Deus.
Além do Alcorão, os hadiths, ou ditos do profeta Muhammad, que formam uma vertente secundária da escritura islâmica, foram meticulosamente coletados e autenticados por estudiosos muçulmanos do segundo século islâmico, que só aceitavam um determinado hadith como genuíno se tivesse uma cadeia provada de transmissores confiáveis remontando a um ou mais companheiros originais do profeta. Muitos milhares de ditos plausíveis foram rejeitados, por não atenderem a esses critérios estritos.
Dúvidas sobre a divindade de Jesus até nos evangelhos
Mesmo nos quatro evangelhos canônicos existem numerosas passagens que lançam dúvida sobre a divindade de Jesus e, consequentemente, sobre o conceito de trindade que a pressupõe. Existem pelo menos vinte passagens em que Jesus ora. Veja Mateus 14:23, 19:13, 26:39, 27:46, 26:42-44; Marcos 1:35, 6:46, 14:35-36; Lucas 3:21, 5:16, 6:12, 9:18, 9:28, 11:1-4, 22:41; João 14:16, 17:1, 17:9, 17:11, 17:15. Se Jesus era divino, ou seja, Deus, para quem ele estava orando e por quê?
Considere também essas passagens:
Mateus 26:39
Jesus e Deus tinham vontades diferentes.
Mateus 19:16-17, Marcos 10:17-18 e Lucas 18:18-19.
Jesus negou divindade distinguindo entre ele próprio e Deus.
Lucas 7:16, 13:33, 24:19; João 4:19
Jesus era considerado por seus discípulos e outros contemporâneos como um profeta. Não o aclamavam como uma encarnação de Deus ou o Filho de Deus.
Minha Jornada de cristão católico a unitário ariano e, depois, muçulmano
Como resultado de meus estudos e após muita busca espiritual, passei a rejeitar as inovações doutrinárias da igreja paulina, como a trindade, um conceito desconhecido para os discípulos de Jesus e não estabelecido de forma definitiva como doutrina oficial da igreja até tão tardiamente quanto 381 A.D. Encontrei-me em simpatia com as crenças mais puramente monoteístas do final do terceiro e início do quarto século do padre Ário de Alexandria e de outros como o bispo Eusébio de Nicomédia (posteriormente patriarca de Constantinopla), o professor deles, o respeitado padre e mártir Luciano de Antióquia e, em décadas posteriores, o imperador romano Constâncio II. A Enciclopédia Católica[1] define Arianismo como:
“uma heresia que surgiu no século quatro e negou a divindade de Jesus Cristo,... não uma forma moderna de descrença e, consequentemente, parecerá estranha para olhos modernos.”
O que a enciclopédia não menciona é que o descrito como heresia era, de fato, doutrina oficial da igreja em meados do século quatro. Por exemplo, depois do Concílio de Ariminum (hoje Rimini na Itália) em 359 A.D. São Jerônimo escreveu: “o mundo todo se comoveu e maravilhou-se ao descobrir-se ariano.” Isso prevaleceu até após a morte de Constâncio II e seus sucessores arianos, quando um clima de mudança política dentro do império romano resultou na perseguição de cristãos arianos e à imposição do trinitarismo como doutrina oficial da igreja, no segundo concílio geral em 381 A.D.
Quando eu também cheguei à conclusão de que Jesus não era divino, tinha cruzado uma barreira essencial em termos de mentalidade e crenças. Jesus ser divino ou não é a questão fundamental para qualquer cristão crente e teologicamente consciente. Quando cheguei a esse novo entendimento de Jesus, foi um passo pequeno para mim ser capaz de aceitar um profeta posterior e abraçar o Islã, assim como os cristãos arianos norte-africanos e ibéricos denunciados pela igreja, mas fisicamente a salvo fora dos limites do império romano, fizeram em massa quando o Islã lhes foi introduzido nas décadas após a morte de Muhammad. Por causa de minha educação cristã, estava acostumado ao conceito de Deus enviar profetas periodicamente ao longo da história, quando a humanidade se afastava de Seus ensinamentos. O Islã reconhece os profetas do Velho Testamento com os quais estava familiarizado, além de João Batista e Jesus. Considerando que por volta do século sete a Arábia tinha caído no politeísmo e muito do mundo cristão era trinitário, fazia sentido para mim que Deus enviasse um novo profeta, Muhammad, para chamar a humanidade de volta para corrigir a adoração de Si mesmo, o único e verdadeiro Deus.
Existem 25 profetas reconhecidos pelo nome no Alcorão. Todos, exceto três deles, também são mencionados na escritura judaica ou cristã:
1) Adão
2) Idrís
3) Núh (Noé)
4) Húd
5) Sálih
6) Ibráhím (Abraão)
7) Ismá’íl (Ismael)
8) Isháq (Isaque)
9) Lút (Lot)
10) Ya’qúb (Jacó)
11) Yúsuf (José)
12) Shu’aib
13) Ayúb (Jó)
14) Músa (Moisés)
15) Hárún (Aarão)
16) Dhu l-kifl (Ezequiel)
17) Dawúd (Davi)
18) Sulaimán
19) Ilyás (Elias)
20) al-Yasa’ (Eliseu)
21) Yúnus (Jonas)
22) Zakaríya (Zacarias)
23) Yahyá (João Batista)
24) ‘Ísa (Jesus)
25) Muhammad
Tinha chegado ao ponto em que genuinamente queria ser um muçulmano, independente do meu mencionado interesse na muçulmana levar ou não ao casamento. (De fato, o relacionamento em questão não funcionou.) Porque vejo minha conversão ao Islã não como uma rejeição do que considero como o verdadeiro Cristianismo, mas simplesmente como rejeição do caminho tangente ou errôneo para o qual Paulo e seus seguidores desviaram os cristão novos, gentios e ex-politeístas do mundo greco-romano. Tristemente, todas as principais formas do Cristianismo moderno – catolicismo romano, ortodoxia oriental e protestantismo – derivam de Paulo.
A Enciclopédia Católica afirma que o Arianismo nunca foi revivido (embora conceda que algumas figuras eminentes como Sir Isaac Newton e Milton demonstrassem simpatias arianas). O que não reconhece é que o Arianismo foi, pelos últimos 1.400 anos, incorporado ao Islã. No Catolicismo, Protestantismo ou Ortodoxia não há a unicidade de Deus. A razão pela qual o Trinitarismo prevalece sem restrições dentro dos limites geográficos muito reduzidos da Cristandade do velho mundo, é que os povos de todas as fortalezas do cristianismo ariano ao sul do Mediterrâneo são agora esmagadoramente muçulmanos!
Hussein Abdulwaheed Amin, Ex-Católico, Irlanda (parte 4 de 4): Afirmação de Crenças Teológicas
Descrição: Hussein sentiu-se totalmente em paz com as crenças teológicas de monoteísmo puro exemplificadas pelo Islã.
- Por Hussein Abdulwaheed Amin
- Publicado em 12 Nov 2012
- Última modificação em 12 Nov 2012
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Com uma consciência clara e sem nenhum dos tormentos mentais sobre essa questão que tive que enfrentar quando comecei a estudar o Islã, posso agora afirmar que acredito em Jesus como tendo sido um profeta inteiramente humano de Deus, um dos maiores profetas de Deus e merecedor do máximo respeito, mas que não era nem uma encarnação de Deus ou o Filho de Deus. Acredito que Jesus, um judeu monoteísta e piedoso, ficaria absolutamente horrorizado com o que os cristãos trinitários o transformaram. Anteriormente temia estar traindo Jesus se me tornasse muçulmano. Agora percebo que tinha estado, de fato, blasfemando inadvertidamente e dizendo o que não tinha o direito de dizer sobre ele.
Acredito que Muhammad foi um profeta posterior (o último) de Deus. E assim como o verdadeiro Cristianismo dos apóstolos genuínos de Jesus em Jerusalém é o sucessor do Judaísmo, o Islã, a revelação final da palavra de Deus, é o sucessor legítimo e o cumprimento do Cristianismo judaico original de Jerusalém.
Gostaria de deixar absolutamente claro que não me converti ao Islã por causa de uma relação romântica. A possibilidade de casamento com uma muçulmana foi o estímulo, o catalizador, que provocou minha investigação inicial do Islã. A relação em questão terminou em 2001, mas continuo muçulmano.
Minha conversão ao Islã, quando aconteceu, foi sincera e não por conveniência. Tinha que ser sincera. Não podia, de consciência limpa, passar por uma conversão fraudulenta. A religião, Deus, é muito importante para serem tratados com frivolidade. É a alma que está em jogo.
Rejeitei o Cristianismo como é conhecido por nós hoje porque não acreditava mais na doutrina da trindade e na afirmação de que Jesus é Deus. Passei a acreditar de todo o coração na unicidade de Deus. E considero que essa crença encontrou sua melhor expressão na religião do Islã. O que quer que o futuro reserve em termos de relacionamentos pessoais, continuarei a manter essas crenças.
Às vezes não consigo evitar questionar seriamente se muitas comunidades religiosas das quais participei esqueceram o núcleo teológico do Islã e o enterraram com regulamentações comportamentais excêntricas que buscam impor aos outros, muçulmanos e não muçulmanos, embora Deus claramente afirme no Alcorão que “não há compulsão”. Admito que às vezes sinto-me muito desiludido com certas interpretações que tenho encontrado entre muçulmanos do que constitui prática e comportamento islâmicos legítimos. Posso garantir que pessoas com uma mentalidade Talebã não estão confinadas ao Afeganistão.
Estou enojado da filosofia politizada cheia de ódio, que se passa por Islã quando de fato não só viola as regras islâmicas mais básicas de guerra, mas geralmente é indicativa de uma completa falta de confiança na promessa de Deus de que ninguém sofrerá mais do que pode suportar. Esses extremistas atrasaram em décadas a causa da propagação do Islã. Algumas vezes ecoo o lamento do convertido britânico Michael A. Malik[1]: “O Islã é maravilhoso, mas não aguento os muçulmanos!”
Mas apesar de minha desilusão frequente com o comportamento e atitudes de muitos dos que se chamam muçulmanos, em termos de crenças sobre a natureza de Deus permanecerei um crente na unicidade de Deus – por toda a vida.
Algum tempo atrás um amigo americano protestante chamou minha atenção para uma maravilhosa citação de Martim Lutero:
Cada um deve lidar com sua crença como terá que lidar com sua própria morte.
Estou totalmente em paz comigo mesmo sobre minhas novas crenças teológicas de monoteísmo puro exemplificadas pelo Islã. E essa é minha declaração de fé:
Ele é Deus, o Único,
Qul Huwa Allāhu ‘Aĥad
Deus, o Absoluto.
Allāhu Aş-Şamad
Jamais gerou ou foi gerado,
Lam Yalid Wa Lam Yūlad
E ninguém é comparável a Ele! (Alcorão - Surata 112)
Walam Yakun Lahu Kufūan ‘Aĥad.
Testemunho que não há outra divindade a não ser Deus
Ashadu an la illaha ill allah
e testemunho que Muhammad é um profeta de Deus.
Wa ashadu anna Mohammadan rasool Ullah.
Agradecimento aos Pais
Finalmente, gostaria de expressar minha sincera gratidão aos meus pais – católicos devotos e praticantes – que, embora desaprovando fortemente minha conversão ao Islã por questões teológicas, aceitaram minha decisão e continuaram a demonstrar grande amor, compreensão, sensibilidade e apoio prático. Fui muito abençoado nesse sentido.
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