Agnosticismo (parte 1 de 4): O Conceito de Agnosticismo

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Descrição: Uma breve análise do conceito de agnosticismo.

  • Por Laurence B. Brown, MD
  • Publicado em 17 May 2010
  • Última modificação em 23 Oct 2016
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“Não podemos balançar uma corda que está presa ao nosso cinto.”
--William Ernest Hocking

Agnosticism_(part_1_of_4)_PT_001.jpgA questão do Agnosticismo é de fundamental importância a qualquer discussão teológica, porque o agnosticismo coexiste de forma complacente com o amplo espectro de religiões, ao invés de assumir uma posição teológica separada ou de oposição.  Thomas Henry Huxley, o originador do termo no ano de 1869 EC[1], afirmou de maneira clara:

“O Agnosticismo não é um credo, mas um método, cuja essência reside na aplicação vigorosa de um único princípio... De forma positiva o princípio pode ser expresso com em questões do intelecto, seguir sua razão até onde ela puder levá-lo sem outras considerações.  E negativamente, em questões do intelecto, não finja que conclusões que não são demonstradas ou demonstráveis são incontestáveis.”[2]

A palavra em si, como Huxley parece tê-la pretendido, não define um conjunto de crenças religiosas, mas ao invés disso exige uma abordagem racional a todo conhecimento, inclusive aquele vindo da religião.  A palavra “Agnosticismo”, entretanto, se tornou um dos termos mais mal aplicados em metafísica, tendo desfrutado de uma diversidade de aplicações.

Em diferentes épocas esse termo foi aplicado a uma variedade de indivíduos ou subgrupos, diferindo profundamente em níveis de piedade e sinceridade de propósitos religiosos.  Em um extremo existem os que buscam sinceramente e que ainda não encontraram verdade substanciada nas religiões com as quais tiveram contato.  Mais frequentemente, entretanto, o desmotivado em relação à religião utiliza o termo para justificar desinteresse pessoal, tentando dessa forma legitimar o escapismo em relação à responsabilidade da investigação séria de evidências religiosas.

A definição moderna de “agnóstico”, como encontrada no Oxford Dictionary of Current English (Dicionário Oxford de Inglês Atual), não é fiel à explanação de Huxley do termo; entretanto, não representa o entendimento comum mais moderno e usual da palavra, que é a de que um agnóstico é uma “pessoa que acredita que a existência de Deus não é comprovável.”[3]  Por essa definição, a visão agnóstica de Deus pode ser aplicada de forma variada a entidades hipotéticas como gravidade, entropia, zero absoluto, buracos negros, telepatia mental, dores de cabeça, fome, impulso sexual e a alma humana - entidades que não podem ser vistas com os olhos ou seguras com as mãos, mas parecem ser reais e evidentes.  Claramente, não ser capaz de ver ou segurar alguma coisa específica não necessariamente nega sua existência.  O religioso argumenta que a existência de Deus é esse tipo de realidade, enquanto que o agnóstico defende o direito de tal crença, desde que não sejam exigidos provas.

Como um aparte, a filosofia de que nada pode ser provado de forma absoluta parece ter sua origem em Pirro de Élis, um filósofo da corte grega para Alexandre o Grande, comumente reconhecido como o “pai do ceticismo”.  Embora seja saudável certo nível de ceticismo, até mesmo uma proteção, a posição extrema adotada por Pirro de Élis é um tanto problemática.  Por quê?  Porque o pirronista inveterado logicamente estimula o cético de ceticismo (ou seja, a pessoa que pensa normalmente) a fazer a pergunta: “Você alega que nada pode ser conhecido com certeza... então, como pode estar tão certo?”  Os inimigos da lógica podem criar uma grande confusão pela compilação de paradoxos e compostos filosóficos.  Outro grande perigo é levar ao abandono da lógica, em favor da decisão pelo desejo.  Outro perigo é permitir que a imersão em contorcionismo intelectual suprima o bom senso.

A humanidade deve reconhecer que se o bom senso prevalece, detratores teimosos começam a parecer atordoados quando a maçã cai sobre suas cabeças muitas vezes.  Depois de um ponto, aqueles de bom senso para aceitar intervalos de confiança mínimos (ou valores “P”, como são conhecidos no campo de análise estatística) começam a esperar por maçãs maiores, mais altas e mais duras para convencer os pirronistas desafiadores academicamente ou simplesmente removê-los da equação.

Então, pelo bom senso (e experiência), a maioria das pessoas aceita quaisquer teorias que pareçam mais razoáveis, provadas ou não em sentido absoluto.  Dessa forma a maioria das pessoas aceita as teorias da gravidade, entropia, zero absoluto, buracos negros, fome, uma dor de cabeça do autor e uma fadiga ocular do leitor – e bem fazem.  Essas coisas fazem sentido.  Na opinião dos que têm religião, toda a humanidade deve aceitar também a existência de Deus e do espírito humano, porque a evidência esmagadora testemunhada nos muitos milagres da criação apóia a realidade do Criador ao ponto em que o nível de confiança se aproxima do infinito e o valor “P” diminui para algo menor e mais indefinível que o último dígito de Pi.

Com relação à invenção de T.H. Huxley do termo “agnóstico”, há uma citação dele explicando-o:

“Toda variedade de opinião filosófica e teológica estava representada lá (a Sociedade Metafísica) e se expressava abertamente; a maioria dos meus colegas eram –istas de um tipo ou de outro; e, por mais gentis e amigáveis que fossem, eu, um homem sem um rótulo para se revestir, não podia incorrer nos mesmos sentimentos desconfortáveis que devem ter acometido a raposa histórica quando, após deixar a armadilha na qual seu rabo permaneceu, se apresentou às suas companheiras normalmente de rabo longo.   Então eu pensei e inventei o que concebi ser o título apropriado de “agnóstico””.[4]

De acordo com o exposto acima, indivíduos que se identificam com o rótulo de “agnósticos” devem reconhecer que o termo é uma invenção moderna que surgiu da crise de identidade de um indivíduo em um círculo de metafísicos.  Aquele que cunhou esse termo se identifica como um homem sem um rótulo, semelhante a uma raposa sem rabo - ambos implicando a percepção de certo nível de inadequação pessoal.  Qual parte do orgulho desse homem ele deixou para trás nas mandíbulas de um enigma religioso indecifrável?  Obviamente, Huxley, como muitos metafísicos e teólogos proeminentes ao longo da história, foi incapaz de encontrar uma categoria doutrinária que se adequasse ao seu conceito de Deus.

Independentemente das considerações acima, mesmo se uma pessoa argumentar que Huxley não fez mais do que colocar um rótulo a uma teologia antiga que antes não tinha nome, a pergunta “E daí?”  salta a sinapse da consciência mais uma vez.  Rotular uma teologia não implica validação ou, mais importante, valor.  Se houvesse valor no conceito, uma pessoa suspeitaria que tivesse sido mencionado antes – como 1.800 anos antes e nos ensinamentos de um profeta como Jesus.   Ainda assim os profetas, Jesus Cristo incluído, pareciam ter uma mensagem muito diferente, cujo ápice era a recompensa de fé na ausência de prova absoluta, apesar da incapacidade de ver a realidade de Deus com os próprios olhos.

Copyright © 2007 Laurence B. Brown; usado com permissão.

O excerto acima foi tirado do próximo livro do Dr. Brown, MisGod’ed, que deve ser publicado junto com a sua continuação, God’ed.  Ambos podem ser vistos no site do Dr. Brown, www.Leveltruth.com  O Dr. Brown pode ser contatado em BrownL38@yahoo.com



Footnotes:

[1] Meagher, Paul Kevin et al.  Vol. 1, p. 77.

[2] Huxley, Thomas Henry.  Agnosticism (Agnosticismo).  1889.

[3] Thompson, Della.  p. 16.

[4] Huxley, T. H.  Collected Essays (Ensaios Compilados).  v.  Agnosticism.

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Agnosticismo (parte 2 de 4): Discussão sobre a Afirmação de Huxley

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Descrição: Este artigo discute a afirmação de Huxley sobre agnosticismo.

  • Por Laurence B. Brown, MD
  • Publicado em 24 May 2010
  • Última modificação em 24 May 2010
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“De acordo com Huxley, a palavra foi elaborada como uma antítese ao “gnóstico” da história da igreja primitiva, e pretendia se opor não apenas ao teísmo e ao Cristianismo, mas também ao ateísmo e panteísmo. Ele pretendeu uma palavra que cobrisse com um manto de respeitabilidade não a ignorância sobre Deus, mas a forte convicção de que o problema de Sua existência é insolúvel. ”[1]

A raposa sem rabo em busca de um “manto de respeitabilidade?” Assim parece, mas quem o culparia?  Era uma época difícil e confusa – em função do ambiente, muitos intelectuais devem ter ficado muito frustrados e se imaginado não apenas sem um rabo, mas sem toda a parte traseira.  Em uma época e lugar em que, como Huxley descreve, a escolha, em termos práticos, era o Cristianismo ou nada, qualquer um que ponderasse sobre as dificuldades teológicas seria forçado a reconsiderar o voto de filiação a qualquer clube cristão exclusivo.  A invenção do rótulo de “Agnosticismo” nasceu sem dúvida da frustração de ter que lidar com aqueles cujas doutrinas podiam ser facilmente desacreditadas por homens e mulheres de intelecto, mas em um vazio teológico em que a alternativa aceitável ainda não estava presente para o mundo de língua inglesa.  O que podia fazer uma pessoa que acreditava em Deus, mas não acreditava nas religiões as quais foi exposta?  A fuga era a única alternativa e, ao que parece, foi exatamente isso que Huxley fez.  Huxley cunhou um termo englobando um conceito antigo que deu a todos que lhe prestaram aliança uma rota de fuga do ambiente acalorado e apinhado da discussão religiosa em direção ao recanto privado das convicções pessoais.

Ainda assim, embora o termo permitisse uma válvula de escape popular para aqueles que fugiam da pressão da discussão religiosa séria na época de Huxley, surge a questão: “O termo tem valor nos dias atuais?” A verdade do conceito permanece, mas a questão não é se existe verdade no conceito, mas se existe valor na verdade.  Uma pedra tem verdade, mas qual é seu valor?  Muito pouco, sob circunstâncias normais.

Então, por um lado o fator “E daí?” permanece.  Resumir o conceito antigo da questão sobre a falta de provas acerca de Deus soa muito claro e prático, mas o conceito da impossibilidade de provas muda a crença de alguém em Deus?  Uma pessoa pode abraçar qualquer dos incontáveis sistemas de crença/descrença ao mesmo tempo em que admite que a verdade de Deus não pode ser provada.  Ainda assim essa admissão não muda a profundidade da convicção que cada pessoa tem em seu coração e mente.

E a maioria das pessoas sabe disso.

Poucos devotos acreditam que podem dar suporte à sua religião ou à existência de Deus com provas absolutas e irrefutáveis.  Desafios crescentes por laicos cada vez mais inteligentes e bem informados têm colocado um fardo impossível da prova sobre o clero das crenças judaica e cristã, em especial.  Perguntas e desafios, que em épocas passadas acarretariam acusações de heresia como medida prática para suprimir a sedição são agora lugar comum e merecem respostas.  O fato de que as respostas da Igreja a tais questionamentos desafiam a lógica e a experiência humana resulta no clero não ter escolha a não ser reverter o desafio para o questionador, na forma da assertiva: “É um mistério de Deus. Você apenas tem que ter fé.” O questionador pode responder: “Mas eu tenho fé - tenho fé que Deus pode revelar uma religião que responderá a todas as minhas perguntas”, para receber o conselho: “Bem, nesse caso, você tem que ter mais fé.” Em outras palavras, uma pessoa tem que parar de fazer perguntas e se satisfazer com o discurso do grupo.  Mesmo quando não faz sentido, e mesmo que as escrituras fundamentais ensinem o contrário.

Assim, nos últimos séculos a hierarquia de muitas seitas judaico-cristãs substituiu a lógica dada por Deus por uma ideologia gnóstica, que no início (ou seja, o período daqueles que tinham mais conhecimento) da história do Cristianismo era considerada como seita herética.   O cenário é bizarro; é como dizer: “Aquele forno era um modelo do ano passado. Os protótipos não funcionaram. De fato explodiram e todos que o usaram foram queimados até a morte, mas o estamos trazendo de volta porque precisamos do dinheiro. Mas prometemos que, se você acreditar – quero dizer realmente acreditar – prometemos que você ficará bem. E se ele de fato explodir na sua cara, não nos culpe. Você não acreditou o suficiente.” O triste é que muitas pessoas não estão apenas comprando para si, mas estão separando um para cada filho.

O esquema geral das coisas é tal que o clero considerava a fé cristã fundada em conhecimento até que leigos instruídos passaram a ter mais conhecimento.  Por muitos séculos os leigos não tinham permissão para possuírem Bíblias, tendo a morte como punição.   Somente com a supressão dessa lei, a fabricação do papel na Europa (no século 14), a invenção da imprensa (meados do século 15), e a tradução do Novo Testamento para o inglês e alemão (século 16) as Bíblias ficaram disponíveis e acessíveis à leitura do homem comum.  Assim, pela primeira vez, os leigos foram capazes de ler a Bíblia (nos locais onde estava disponível – a publicação e distribuição continuaram limitadas por muitas décadas) e de apresentarem desafios racionais para estabelecer doutrinas baseadas na análise pessoal das escrituras fundamentais.  Quando esses desafios derrotaram os argumentos dos apologistas da Igreja, a maioria das seitas cristãs fez uma coisa surpreendente - rejeitaram uma alegação de quase 2.000 anos de que a doutrina devia ser baseada em conhecimento e instituíram ao invés disso o conceito de salvação através de orientação espiritual e justificação pela fé.  Ênfase particular foi colocada na suposta virtude de comprometimento cego e irrefletido (e, portanto, incondicional).

As defesas “espirituais” modernas que jorram da orientação da nova igreja imitam a “exclusividade mística” herética dos antigos gnósticos, todas ecoando sentimentos familiares como “Você não entende, não tem o Espírito Santo dentro de você como eu tenho”, ou “Você só tem que seguir a sua luz-guia – a minha é firme, direta como laser e brilhante como Xenon, mas a sua é trêmula e embaçada” ou “Jesus não habita em você como habita em mim.” Sem dúvida essas afirmações apelam ao ego de quem fala ao estilo “Viu como sou especial?”, mas se alguém insiste na crença com base em caminhos espiritualmente exclusivos, então sem dúvida outros insistirão em uma discussão sobre a diferença entre ilusão e realidade.  T.H. Huxley, sem dúvida, ficaria feliz em presidir o debate.

O problema é que alegar exclusividade mística como a chave para orientação e/ou salvação é alegar que Deus abandonou de forma arbitrária a criação “não salva” – dificilmente um cenário divino.   Não faz muito mais sentido Deus ter dado a toda a humanidade chance igual de reconhecer a verdade de Seus ensinamentos?   Então aqueles que se submetem às Suas evidências mereceriam recompensa, enquanto que aqueles que as negam seriam responsabilizados por não atribuírem reconhecimento, crédito e adoração quando devido.

Mas infelizmente, a natureza da ilusão é que os iludidos raramente são capazes de reconhecer os erros de seus equívocos; a natureza dos gnósticos é semelhante no sentido em que eles tipicamente estão muito enamorados de sua filosofia, que lhes satisfaz e serve, para perceber a falsidade de suas bases.  E, de fato, é difícil acreditar que o garçom cuspiu na sopa quando o restaurante é cinco estrelas, o serviço é refinado e a apresentação é impecável.  Aparência e paladar podem ser tão bons a ponto de desafiar a realidade.  Mas é o freguês que considera o portador da verdade como um estraga-prazeres inconveniente, ao invés de considerá-lo um benfeitor sincero, que sofrerá com o enjôo provocado pela refeição.



Footnotes:

[1] Meagher, Paul Kevin et al.  Vol. 1, p. 77.

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Agnosticismo (parte 3 de 4): Um Fruto de Religiões Falsas

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Descrição: Como o conceito de agnosticismo foi formado devido à falta de defesa lógica do Judaísmo e do Cristianismo dos dias atuais.

  • Por Laurence B. Brown, MD
  • Publicado em 31 May 2010
  • Última modificação em 31 May 2010
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Por que o retorno contemporâneo à heresia/gnosticismo, com a sanção oficial de tantas instituições religiosas?  Bem, é compreensível.  Uma vez que nenhuma defesa lógica do Judaísmo ou Cristianismo dos dias atuais resiste à pressão da análise das escrituras dos dias de hoje, essa “exclusividade mística” é a última trincheira de um status quo doutrinal em rápida desintegração.  Já houve atrito significativo em várias seitas judaico-cristãs.  Os fiéis remanescentes são forçados a um “agnosticismo crente”, mantendo a fé pessoal na existência de Deus e uma doutrina específica de como abordá-Lo, ao mesmo tempo em que reconhece que essas crenças não podem ser provadas de forma objetiva.

A Crítica da Razão Pura de Emanuel Kant, Filosofia do Não Condicionado (1829) de Sir William Hamilton e Princípios (1862) de Herbert Spencer estabeleceram as bases do conceito e T.H. Huxley o embalou e popularizou.

Então, o conceito de agnosticismo tem valor?  Voltando à pedra, que só tem valor para aqueles que precisam de uma, o agnosticismo é prático para aqueles que precisam de um sistema de defesa teológico.  Os que estão satisfeitos com essas discussões religiosas com fins teológicos se desviam da ameaça do argumento racional com o escudo das defesas agnósticas.  Para todos os outros, é apenas uma pedra.  Não muda nada, não faz nada.  Apenas fica lá como a massa impotente e autoevidente que é, ocupando espaço metafísico.

A análise da religião islâmica encoraja um pensamento interessante a esse respeito.  Os ensinamentos do Islã não estavam disponíveis na língua inglesa até a tradução francesa de Andre du Ryer dos significados do Alcorão Sagrado ser traduzida para o inglês por Alexander Ross em 1649 EC.  Essa primeira tradução para a língua inglesa apesar da intenção obviamente hostil e de estar cheia de imprecisões, convidava a análise objetiva da religião islâmica.  Como o tradutor afirmou na abordagem ao “leitor cristão”:

“Com tantas seitas e heresias unidas contra a verdade (o autor se refere ao Cristianismo), pensei em apresentar as deficiências de Mahomet de modo que ao verem seus inimigos em sua plenitude, possam estar mais bem preparados para encontrá-los e, espero, superá-los... O considerarão tão rude e de composição incongruente, tão cheio de contradições, blasfêmias, discursos obscenos e fábulas ridículas... Apresento-o tal como é, tomando o cuidado de apenas traduzi-lo do francês, e embora tenha sido um veneno que infectou uma parte muito grande, mas enferma, do universo, pode se provar um antídoto, para confirmar a saúde do Cristianismo.”

Com o preconceito do tradutor claramente evidente, não é surpresa constatar que a tradução está repleta de erros e inclinada a exercer pouco impacto positivo na consciência ocidental.  George Sale, sem se impressionar, tentou uma nova tradução dos significados, criticando Ross como se segue:

“A versão inglesa não é mais que uma tradução da de Du Ryer, que é muito ruim; quanto a Alexander Ross, que a fez, por desconhecer profundamente o árabe e não ser um grande mestre do francês, acrescentou vários erros àqueles de Du Ryer; sem mencionar a falta de sentido de sua linguagem, que tornaria ridículo um livro melhor.” [1]

Só com a tradução para o inglês de George Sale em 1734 o mundo ocidental começou a receber os ensinamentos do Alcorão Sagrado em uma exposição precisa, embora igualmente mal-intencionada.

A perspectiva de George Sale é evidente nas primeiras páginas de seu discurso ao leitor, com afirmações como:

“Deve ter uma péssima opinião da religião cristã, ou ser mal informado, quem consegue identificar qualquer perigo vindo de uma fraude tão manifesta... Mas qualquer que seja o uso que uma versão imparcial do Alcorão possa ter em outros aspectos, é absolutamente necessário abrir os olhos daqueles que, a partir das traduções ignorantes ou injustas que apareceram, tenham desenvolvido uma opinião muito favorável do original e também nos capacitar para expor de maneira efetiva o embuste...”

e,

“Os protestantes sozinhos são capazes de atacar o Alcorão com sucesso e para eles, eu confio, a Providência reservou a glória de sua derrota.”

A tradução do reverendo J.M. Rodwell, publicada pela primeira vez em 1861, coincidiu com o surgimento no século dezenove de estudos orientais no significado científico do termo.  E foi durante esse período de surgimento da consciência islâmica na Europa ocidental que Huxley apresentou sua proposta de agnosticismo.

Muitos muçulmanos podem ser perguntar se Huxley tivesse vivido na época atual da “informação” de viagens fáceis, ampla exposição cosmopolita a pessoas, culturas e religiões, junto com informação precisa e objetiva da religião islâmica, se sua escolha teria sido diferente.  É um pensamento interessante.  O que teria feito um homem que, como citado anteriormente, afirmou: “Afirmo que se algum grande Poder concordasse em me fazer pensar sempre o que é verdade e fazer o que é certo, sob a condição de ser transformado em um tipo de relógio e ser içado toda manhã antes de sair da cama, eu imediatamente aceitaria a oferta.” [2] Para esse homem, o cânone abrangente do Islã poderia ter sido não apenas atraente, mas bem vindo.

Essa seção começou com a assertiva de que o agnosticismo coexiste com a maioria das religiões de doutrina estabelecida.  Adeptos doutrinários podem ser divididos em subcategorias funcionais com base nisso.  Por exemplo, os cristãos teístas (ortodoxos) que concebem que a realidade de Deus pode ser provada, os cristãos gnósticos que concebem o conhecimento da verdade de Deus como reservado à elite espiritual, e os cristãos agnósticos, que mantém a fé ao mesmo tempo em que admitem a incapacidade de provar a realidade de Deus.  A diferença distinguível entre esses vários subgrupos não reside na presença na fé, mas nas tentativas de justificá-la.

Da mesma forma, a maioria das religiões podem ser subdivididas pela forma em que adeptos individuais tentam justificar a fé dentro dos limites da doutrina.  No final das contas, entretanto, essas divisões são somente de interesse acadêmico, porque o como ou o por que da crença não altera a presença da crença, da mesma forma que o como ou o por que de Deus não altera Sua existência.

Copyright © 2007 Laurence B. Brown; usado com permissão.

O excerto acima foi tirado do próximo livro do Dr. Brown, MisGod’ed, que deve ser publicado junto com a sua continuação, God’ed. Ambos podem ser vistos no site do Dr. Brown, www.Leveltruth.com  O Dr. Brown pode ser contatado em BrownL38@yahoo.com



Footnotes:

[1] Sale, George.

[2] Huxley, Thomas H.  Discourse Touching The Method of Using One’s Reason Rightly and of Seeking Scientific Truth.

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Agnosticismo (parte 4 de 4): Deixando por Menos

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Descrição: Como a falta de religiões não contaminadas tem levado pessoas a se satisfazerem com meias verdades ou meias mentiras.

  • Por Laurence B. Brown, MD
  • Publicado em 07 Jun 2010
  • Última modificação em 13 Jun 2010
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Agnosticism_(part_4_of_4)_PT_001.jpgVoltando a Francis Bacon, ele opinou uma vez: “São péssimos descobridores aqueles que pensam que não há terra, quando não podem ver nada exceto o mar.” [1] Os crentes diriam aos ateus e agnósticos que Deus existe, sendo visto ou não, desejado ou não, com provas ou não.  Argumentar o contrário seria apenas uma distração de uma realidade que se apresentará como verdade incontestável em um dia futuro de alegria para alguns e profundo arrependimento e horror para outros.

Muitas pessoas não precisam esperar o Dia do Juízo para chegar a essa conclusão, porque todas as pessoas que enfrentam tribulações insuperáveis se encontram levadas para a crença porque quando em circunstâncias desesperadas, para Quem mais as pessoas instintivamente se voltam a não ser Deus?  Embora uns poucos cumpram as promessas de fidelidade feitas nesses momentos de apelo desesperado, a evidência do juramento permanece muito depois das promessas feitas a Deus serem deixadas de lado nos recantos da memória.

Alguém pode ajudar aquele que não é sincero?  Provavelmente não.  O conceito de reconhecer Deus e viver em satisfação a Seus mandamentos somente quando se adequam aos propósitos de alguém, e pelo tempo que durarem esses propósitos, demonstra uma falta de disposição de se submeter aos termos de Deus.  Veja, por exemplo, a oração patética de Santo Agostinho: “Da mihi castitatem et continentiam, sed noli modo. (Dá-me castidade e continência – mas não ainda!)” [2] Essa é a oração de um “santo”? que por um lado ora a Deus e por outro não está pronto para deixar as casas de prostituição para o comprometimento de sua incontinência sexual.  Compare isso com as vidas exemplares dos discípulos de Jesus, que se relata que abriram mão de objetivos infinitamente mais honrados quando chamados a seguir Jesus Cristo.   Esses homens deixaram suas prioridades mundanas, como seu sustento na pesca e sua obrigação de enterrar os mortos, quando a verdade chegou até eles, sem adiarem para um momento de maior conveniência pessoal.  Os religiosos podem se inclinar a dizer: “Esses são os meus tipos de caras!” O entendimento mais importante, entretanto, é que aqueles parecem ser “os tipos de caras” de Deus.

Claro, isso foi naquela época.  Naquela época os profetas caminhavam sobre a água, curavam os leprosos e convidavam a humanidade a seguir apenas na imaginação daqueles com uma vista para a história.  Da mesma forma muitas pessoas continuam em busca da verdade de Deus e, uma vez que a reconheçam, a seguirão imediatamente independente do sacrifício exigido.  Mas primeiro eles precisam conhecer a verdade com convicção.

Então, qual é o problema?  Simplesmente esse: a informação nunca esteve tão disponível e, ainda assim (pelo menos na superfície), nunca esteve tão confusa e obstrutiva religiosamente.  A maioria das pessoas foi educada com as ferramentas intelectuais para erradicar e identificar as inconsistências e falácias das religiões predominantes as quais estão expostas.  Pessoas sinceras em busca da verdade registram certo grau de experiência em desacreditar várias crenças, algumas das quais são realmente cultos estranhos, mas a maioria são seitas que alegam serem baseadas em alguma versão do Velho ou Novo Testamento, mas que divergem de fato dos ensinamentos fundamentais encontrados neles.  Depois de um tempo uma seita começa a se parecer muito com as outras, muitas vezes tendo apenas diferenças doutrinárias insignificantes e quase sempre com a mesma base questionável.  A maioria dessas seitas evoluiu para um conglomerado moderno de verdades, meias verdades (ou em outras palavras, meias mentiras) e sólida ilusão inalterada.  O problema é que misturar a verdade com falsidade é com misturar a beleza com a feiúra – não funciona.  Qualquer religião ou é inteiramente verdadeira ou é impura em algum nível.  E uma vez que Deus não erra – nem ao menos uma vez – se as pessoas não podem confiar em um elemento daquilo que é apresentado como revelação, como podem saber em quais ensinamentos confiar?  Além disso, muitas das religiões têm dificuldade em conceber que Deus deixe a humanidade basear a vida futura em um entendimento impuro Dele.

O problema é que não se pode misturar verdade com falsidade e continuar a considerar a mistura como tendo se originado de Deus, tanto quanto uma pessoa não pode misturar encanto e feiúra e continuar a ganhar concursos de beleza.  Coloque uma única verruga multilobulada e cheia de cabelos (não uma marca de beleza, mas uma verdadeira marca de feiúra) no meio de qualquer foto de perfeição facial e o que você consegue?  Uma beleza “angelical” pura e inalterada?  Ao contrário, o resultado final é a realidade bem humana de beleza desfigurada.

Coloque a menor das falsidades em uma religião, que se relata vir de um Deus perfeito e sem falhas e qual é o resultado?  Muitas pessoas sinceras a abandonam.  Mas para aqueles que desejam se apegar ao cânone de um sistema de crenças imperfeito, os apologistas assumem o papel de cirurgiões plásticos religiosos.  Esses apologistas podem ter sucesso em polir a superfície desigual da escritura através de dermoabrasão doutrinária, mas qualquer um com percepção reconhece que a genética fundamental continua imperfeita.  Consequentemente, enquanto alguns vêem através das tentativas fracassadas de justificar o absurdo, alguns seguem de qualquer jeito.

Entre aqueles que escolhem abraçar a fé, muitos chegam às suas escolhas através de frustração ao escolherem qualquer religião que se ajuste melhor ou, no mínimo, ofenda menos.  Alguns fazem uma comunicação telepática com Deus com a finalidade de fazerem o melhor que puderem, outros repousam confortavelmente em conclusões inseguras.  Muitos se tornam agnósticos com relação às crenças doutrinárias, buscando uma fé pessoal e interna por falta de exposição a uma crença doutrinária que é pura e consistentemente divina.

A recusa em comprometer a fé em um Deus perfeito e infalível por uma religião “de comodismo” que possui bases instáveis e fraqueza doutrinária demonstrável é compreensível – até respeitável.  Depois de gerações de afastamento de tradições familiares, séculos de má orientação cultural desconcertante e uma vida de propaganda preconceituosa, muitos ocidentais se tornaram espiritualmente imobilizados.    De um lado o conceito de uma religião pura e imaculada livre de adulterações, corrupções e, em resumo, da mão suja e falível do engenheiro religioso é muito buscado, mas difícil de compreender para a consciência ocidental.  Por outro lado, muitos vêem muito claramente as inconsistências de qualquer religião atual baseada no que o Ocidente é mais familiarizado – as Bíblias judaica e cristã.  Alguns podem permanecer presos nos limites estreitos definidos por esse dilema.  Outros analisam as escrituras bíblicas e reconhecem que assim como o Velho Testamento predisse a vinda de João Batista, Jesus Cristo e um profeta remanescente, da mesma forma Jesus Cristo predisse um profeta que o seguiria – um que traria a mensagem de verdade para esclarecer todas as coisas.

Os adventistas do sétimo dia, os mórmons e muitas outras seitas cristãs alegam cumprir essa profecia com o fundador de sua crença.  Muitos outros são céticos e continuam buscando.  Foi para esses últimos que esse livro foi escrito.

Copyright © 2007 Laurence B. Brown; usado com permissão.

O excerto acima foi tirado do próximo livro do Dr. Brown, MisGod’ed, que deve ser publicado junto com a sua continuação, God’ed. Ambos podem ser vistos no site do Dr. Brown, www.Leveltruth.com  O Dr. Brown pode ser contatado em BrownL38@yahoo.com



Footnotes:

[1] Bacon, Francis.  Advancement of Learning (Avanço de Aprendizado).  I.vii.5.

[2] Santo Agostinho, Confessions (Confissões), bk. viii, ch. 7

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