Kareem Abdul-Jabbar, Jogador de Basquete, EUA
Descrição: Famoso por suas jogadas e enterradas, Kareem Abdul-Jabbar descobre o outro lado da vida, a espiritualidade, e aceita o Islã.
- Por Anônimo
- Publicado em 15 Jun 2009
- Última modificação em 15 Jun 2009
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Reconhecido por muitos jogadores como o maior jogador de todos os tempos, escolhido seis vezes o jogador mais valioso da Associação Nacional de Basquete, Kareem Abdul-Jabbar também é um dos muçulmanos mais visíveis na arena pública americana. O nativo do Harlem com 2,18 m. de altura, nascido Ferdinand Lewis Alcindor, estreou pela UCLA antes de entrar na Associação Nacional de Basquete com o Milwaukee Bucks em 1969. Alcindor posteriormente foi para o Los Angeles Lakers. Era tão dominante no basquete universitário que a “enterrada”, na qual se sobressaiu, foi formalmente banida do esporte intercolegial. Como resultado, Lew Alcindor desenvolveu o lance pelo qual é pessoalmente o mais famoso – o “skyhook” – considerado o lance que mudou o basquete, e com o qual ele marcou mais de trinta e oito mil pontos na temporada regular de jogos da NBA. Quando o Milwaukee ganhou o título da NBA em 1970-71, Alcindor, que já era Kareem Abdul-Jabbar, foi aclamado o rei do basquete.
Lew Alcindor primeiro aprendeu sobre o Islã com Hammas Abdul Khaalis, um ex-baterista de jazz... De acordo com seu próprio testemunho, foi educado para levar as autoridades a sério, fossem elas freiras, professores ou técnicos, e naquele espírito seguiu os ensinamentos de Abdul Khaalis cuidadosamente. Foi ele que deu a Alcindor o nome de Abdul Kareem, mudado depois para Kareem Abdul-Jabbar, literalmente “o nobre, servo do Todo-Poderoso.” Logo, entretanto, resolveu ampliar os ensinamentos de Abdul Khaalis com seu próprio estudo do Alcorão, para o qual decidiu aprender árabe básico. Em 1973 viajou para a Líbia e Arábia Saudita para obter uma melhor compreensão da língua e aprender sobre o Islã em alguns de seus contextos “nativos”. Abdul-Jabbar não estava interessado em fazer o tipo de declaração pública sobre seu Islã que Muhammad Ali fez em sua oposição à guerra do Vietnã, querendo apenas se identificar simplesmente como um afro-americano que também era um muçulmano. Declarou claramente que seu nome Alcindor era um nome de escravo, literalmente aquele do negociante de escravos que levou sua família da África Ocidental para a República Dominicana ou Trinidad, de onde foram levados para a América.
[...] Kareem Abdul-Jabbar afirma sua identidade como muçulmano sunita. Ele professa uma forte crença no que chama de Ser Supremo e está claro em seu entendimento que Muhammad é Seu profeta e o Alcorão a revelação final...
.... De sua parte, Kareem aceita sua responsabilidade de viver uma vida islâmica tão boa quanto possível, reconhecendo que o Islã é capaz de atender as exigências de ser um atleta profissional na América.
Excertos de seu livro, Kareem
A seguir estão excertos do segundo livro que ele escreveu sobre sua carreira no basquete, Kareem, publicado em 1990[1], contando suas razões para ser atraído ao Islã:
[Ao crescer na América,] eventualmente descobri que... emocionalmente, espiritualmente, não podia ser racista. À medida que ficava mais velho, gradualmente passei a acreditar que o negro era o melhor ou o pior. O homem negro que me influenciou mais profundamente foi Malcom X. Li “Muhammad Speaks (Muhammad Fala, em tradução livre)”, o jornal dos negros muçulmanos, mas mesmo no início dos anos sessenta, seu racismo era inaceitável para mim. Tinha a mesma hostilidade do racismo branco, e por maior que fossem minha raiva e ressentimento, entendia que o ódio pode fazer muito pouco para mudar as coisas. É apenas uma espiral negativa contínua que se alimenta por si mesma, e quem precisa disso?
. . . Malcom X era diferente. Fez uma viagem à Meca e percebeu que o Islã abraçava as pessoas de todas as cores. Foi assassinado em 1965 e embora eu não soubesse muito sobre ele na época, sua morte me tocou fundo porque eu sabia que ele falava sobre o orgulho negro, sobre auto-ajuda e nos elevarmos. E eu gostava de sua atitude de não-subserviência.
. . . A autobiografia de Malcom X saiu em 1966, quando eu era um calouro na UCLA, e a li antes do meu aniversário de dezenove anos. Causou-me uma enorme impressão, mais do que qualquer livro que já tivesse lido, me transformando totalmente. Comecei a olhar para as coisas de forma diferente, ao invés de aceitar o ponto de vista dominante.
. . . [Malcom] abriu a porta para a cooperação real entre as raças, não apenas a coisa superficial, paternalista. Ele falava sobre pessoas reais fazendo coisas reais, orgulho negro e Islã. Agarrei-me a isso. E nunca tive que olhar para trás.
Entrevista com TalkAsia[2]
SG[3]: Antes de Kareem Abdul-Jabbar havia Lew Alcindor. Ele diz que foi uma decisão espiritual muito profunda. Fale-me um pouco sobre sua própria viagem pessoal, de Lew Alcindor a Kareem Abdul- Jabbar. Ainda existe um pouco de Lew Alcindor em você hoje?
KA[4]: Bem, você sabe que sou quem eu era quando comecei minha vida, continuo o filho de meus pais, continuo... meus primos continuam os mesmos, continuo eu. Mas fiz uma escolha. (SG: Você se sente diferente? É um sentimento diferente quando você adota um nome diferente, uma persona diferente?) Realmente não acho... Acho que tem mais a ver com evolução – evoluí para Kareem Abdul-Jabbar. Não tenho arrependimentos de quem eu era, mas esse é quem sou agora.
SG: E a jornada espiritual, o quanto foi importante?
KA: Com relação à jornada espiritual, acho que não teria sido capaz de ser tão bem sucedido como atleta se não fosse pelo Islã. Deu-me uma âncora moral, capacitou-me a não ser materialista, a ver o que era importante no mundo. E tudo isso foi reforçado pelas pessoas, pessoas muito importantes para mim: o técnico John Wooden, meus pais, todos reforçaram esses valores. Isso me capacitou a viver minha vida de certa forma e não me distrair.
SG: Quando você abraçou o Islã, foi difícil para outras pessoas aceitar? Isso criou uma distância entre você e os outros?
KA: Na maioria das vezes sim. Não tentei dificultar as coisas para as pessoas; não estava amuado. Só queria que as pessoas entendessem que era muçulmano e que sentia que era a melhor coisa para mim. Se pudessem aceitar isso, eu podia aceitá-las. Se você fosse ficar meu amigo não tinha que se tornar muçulmano também. Não, não era isso. Respeito as escolhas das pessoas tanto quanto espero que respeitem minhas escolhas.
SG: O que acontece a uma pessoa que adota outro nome, outra persona, se preferir? Quanto você mudou?
KA: Fiquei mais tolerante porque tive que aprender a compreender as diferenças. Você sabe que eu era diferente, as pessoas não entendiam minha perspectiva; certamente depois do 11 de setembro tenho tido que me explicar e...
SG: Houve alguma reação negativa contra pessoas como você? Você sentiu isso?
KA: Não senti necessariamente como uma reação negativa, mas certamente senti que várias pessoas podem ter questionado minha lealdade, ou questionado de que lado estava, mas continuo a ser um americano patriota.
SG: Para muitos negros americanos se converter ao Islã foi uma decisão intensamente política também. Foi o mesmo para você?
KA: Isso não foi parte de minha jornada. Escolher o Islã não foi uma declaração política; foi uma declaração espiritual. O que aprendi sobre a Bíblia e o Alcorão me fez ver que o Alcorão era a próxima revelação do Ser Supremo – e escolhi interpretá-la e segui-la. Não acho que teve nada a ver com tentar pôr ninguém de lado, e negar-lhes a habilidade de praticar o que acharem adequado. O Alcorão nos diz que os judeus, cristãos e muçulmanos: Muçulmanos devem tratar todos da mesma forma porque todos acreditamos nos mesmos profetas, e o paraíso e o inferno será o mesmo para todos nós. E é disso que deve se tratar.
SG: E influenciou muito em seus escritos também.
KA: Sim. A igualdade racial e o que experimentei ao crescer na América realmente me levou a experimentar o Movimento de Direitos Civis, ver pessoas arriscando suas vidas, sendo comidas, atacadas por cães, levando tiros nas ruas, e ainda assim continuarem a adotar uma abordagem não-violenta e muito corajosa para confrontar a intolerância. Foi notável e certamente me afetou de uma forma muito profunda.
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