Stephanie, ex-católica, África do Sul (parte 2 de 6)
Descrição: A vida dela como católica.
- Por Stephanie
- Publicado em 23 Mar 2015
- Última modificação em 23 Mar 2015
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Vida como católica.
Em 2007 comecei a frequentar a igreja católica local e uma iniciação de um ano no catolicismo romano. O dia que me tornei católica, 23 de março de 2008, foi um dos dias mais felizes de minha vida e ainda lembro-me dele com carinho.
Não sabia que ainda não era o fim da estrada...
Como uma nova católica, fiquei enamorada com a igreja e senti-me finalmente em casa. No ano seguinte (2009) fiquei envolvida no ministério de sacristã (aqueles que organizam o altar para a missa e preparam tudo para cada celebração), que amava de todo o coração. Tinha feito isso como anglicana também. Mas logo comecei a ficar insatisfeita com a forma que as coisas eram feitas na igreja, que um dia tinha acreditado ser tão estrita e tradicional. Fiquei particularmente contrariada com a atitude moderna e casual para a adoração e senti uma estranheza em minha igreja por ser a única mulher que cobria a cabeça. Não aceitei a explanação moderna de que não era mais necessário. Não fazia sentido. Acreditava que os versículos bíblicos de 1 Coríntios 11: 3-16 eram válidos para todas as épocas e culturas.
Como houve um declínio na modéstia e em cobrir a cabeça para as mulheres depois que surgiu o feminismo radical nos anos 1960, coloquei toda a culpa no feminismo, que odiava. Acreditava que havia tirado das mulheres sua modéstia e dignidade e defendia a posição da igreja como descrita na escritura e tradição da igreja, sobre as mulheres serem subordinadas aos seus maridos e se manterem em silêncio na igreja. Era fiel a esses ensinamentos ao máximo e me recusava a aceitar funções tradicionalmente atribuídas aos homens. Ao fazê-lo entrava em debate com minhas amigas feministas e me sentia terrível, porque parecia que eu odiava as mulheres. Estava constantemente em conflito com a igreja deixando as mulheres assumirem funções de liderança, e qualquer coisa que lembrasse o feminismo me fazia escrever cartas impopulares para o jornal católico local! Se esses ensinamentos sobre mulheres estavam na Bíblia, por que não estavam sendo seguidos? No fim percebi que era porque alguns deles não eram razoáveis. Também defendia a modéstia (que fosse razoável), mas continuava me sentindo isolada, cercada por mulheres na igreja vestidas de maneira indecente. Estava confusa sobre por que nada sobre modéstia era ensinado pela igreja. O catecismo católico era tão claro e, ao mesmo tempo, tão vago. Falava de modéstia de maneira geral, mas não dava nenhuma orientação, deixando por nossa conta decidir. Era uma mulher infeliz e amarga, defendendo uma causa perdida. Era irônico, mas o nome católico que adotei foi "Dolores", que significa "tristeza"!
Toda vez que via uma muçulmana em hijab eu a invejava e queria ser uma também. Sentia uma afinidade com elas que nunca senti com as católicas e queria estar na companhia delas. Sorria para toda mulher em hijab quando passava por elas. Não era de surpreender que me confundissem com uma muçulmana, mas era melhor do que se pensassem que era uma freira! Ficava embaraçada quando estranhos me saudavam com "Alô irmã" até no supermercado e meu padre me repreendeu por me vestir como alguém que eu não era. Então usava meus véus no estilo muçulmano, acrescentando um crucifixo para que não me confundissem com uma muçulmana. Quando fiz isso as pessoas não me confundiram com uma muçulmana, mas estava ciente de que me parecia com uma. Isso não me incomodava, já que tinha amor por elas e as defendia quando eram criticadas, mas às vezes me sentia como uma fraude de duas caras. Quem sou eu? Uma católica? Ou uma muçulmana? Lia romances ambientados no Oriente Médio e sobre personagens muçulmanos, assistia a todos os programas de TV e filmes que pudesse encontrar, até a Al-Jazeera, só para ver mulheres de véu e pessoas se prostrando e meu interesse aumentou mais.
Por volta da época em que me converti ao Catolicismo tinha testado meu chamado para ser uma freira cinco vezes em quatro conventos: A primeira das quatro tentativas foi em setembro de 2006 em um convento anglicano, novembro-dezembro de 2008 em um convento católico carmelita, janeiro de 2009 em outro convento católico e outra vez no mesmo convento carmelita de outubro de 2009 a janeiro de 2010 - todas sem sucesso.
Ainda me lembro de um incidente no convento carmelita. Estava no setor dos hóspedes. Era novembro/dezembro de 2009 e fui proibida de usar meu véu no convento, o que me deixou muito triste. O convento ficava em um subúrbio com uma mesquita e ouvi a bela chamada para a oração em muitas ocasiões, especialmente quando estava no banheiro com a janela aberta. Quando a ouvia ficava na frente do espelho, pegava meu lenço quadrado que usava como cortina para a janela e o colocava em minha cabeça, fantasiando que era uma muçulmana! Imaginava como seria.
Em outra empreitada como católica, fui uma aspirante a pensadora e escritora. Depois que desenvolvi uma vida rica em orações a partir de 2007, tive algumas experiências espirituais e escrevi sobre temas como a Eucaristia, Trindade e Encarnação (e também condição feminina, modéstia e o véu). Era profundamente devotada a esses mistérios cristãos e, embora a Trindade fosse difícil de entender no início, achava que fazia sentido em alguma maneira espiritual incompreensível para a mente. (Via ali dois tipos de lógica - a lógica da razão e a lógica da fé. A primeira era nosso intelecto humano e a segunda era um intelecto mais elevado que habitava em nossos espíritos e que só fazia sentido quando tínhamos fé cega em alguma doutrina. O problema era que a "fé cega" podia ser facilmente distorcida por opiniões pessoais...) A doutrina que chama Maria, que Deus a exalte, a Mãe de Deus também parecia estranha, mas também fazia algum sentido lógico - se Jesus, que Deus o exalte, era visto como Deus. A partir dessas doutrinas desenvolvi essa noção de Deus como sendo o "estado supremo de Ser/Felicidade." Os católicos ensinavam que Maria é um exemplo para a igreja e que todos compartilhamos em sua Maternidade de Deus. Isso significava que podemos, em um sentido místico, "dar à luz" a Deus no mundo! Com essa compreensão que tinha de Deus sentia-me com medo, porque achava que estava perigosamente limitando Deus a meros conceitos. Isso podia levar ao pensamento de que nós humanos tínhamos algum tipo de poder sobre Ele.
Aceitei as doutrinas cristãs inquestionavelmente (até recentemente quando me senti compelida a questioná-las devido à minha situação infeliz). Por causa de meus escritos sentia que tinha sido abençoada com muito conhecimento e teria que prestar mais contas no Último Dia por deixar essa fé para trás. Isso me fez acreditar em jamais deixar o Cristianismo. Não ousaria! O que?! Deixar essa fé para trás e perder minha alma para o inferno? Abandonar Jesus como Deus? Não. Estava verdadeiramente convencida de que permaneceria católica, minha fé era inquestionável e forte! E minha mãe, não quero nem pensar o que ela diria! Tremia só de pensar em deixar Jesus para trás. Ainda assim não podia negar meu interesse crescente no Islã, tanto que tentei ao máximo afastá-lo.
Em agosto de 2010 descobri outro convento católico de freiras dominicanas enclausuradas e contemplativas, bem longe de casa, que atendia e até excedia minhas expectativas. A espiritualidade delas se adequava à minha - focavam na Verdade e Pureza, os dois valores que eu mais estimava. Depois de uma visita de dois meses continuei e entrei oficialmente em 7 de novembro de 2010 (em todos os outros conventos era apenas uma visitante). Realmente achei que tinha finalmente encontrado meu lar, mas algo ainda me desagradava, particularmente ter sido cortada do mundo ao meu redor e ainda não me sentir livre. Depois de outros dois meses saí e voltei para casa sem arrependimentos. Nessa época o meu desejo de cinco anos de ser freira tinha passado em definitivo. Era janeiro de 2011.
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