Poligamia - Um modo alternativo de vida
Descrição: Uma opção de casamento com uma história longa e válida.
- Por Aisha Stacey (© 2014 IslamReligion.com)
- Publicado em 01 Dec 2014
- Última modificação em 01 Dec 2014
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O que há com a palavra poligamia? Apenas pronunciá-la levanta sobrancelhas, provoca comentários negativos ou incita piadas grosseiras. Desde o século 19, quando os conceitos de orientalismo e colonialismo passaram a dominar o pensamento ocidental, combinar as palavras poligamia e Islã tem invocado visões de homens árabes morenos cercados por brinquedos sexuais. Mais recentemente, a palavra poligamia passou a representar os patriarcas da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, tendo relações sexuais com meninas menores de idade.
Embora ambas as imagens certamente façam uma exposição sensacional na mídia, não poderiam estar mais distantes da verdade. A realidade da poligamia é de que um arranjo de casamento que pode beneficiar algumas pessoas, em algumas situações. Não é uma prática confinada ao Oriente Médio ou países muçulmanos. De fato, é encontrada no mundo todo e ultrapassa culturas e religiões. A poligamia existia nos tempos antigos e continuou a florescer de forma desapercebida por milhares de anos.
Na poligamia do século 21, e sua miríade de implicações e complicações, está havendo uma ressurgência, embora auxiliada pela atenção da mídia. Programas populares nos Estados Unidos como o extremamente bem-sucedido Oprah Show e o canal TLC da Discovery Network têm focado a atenção na poligamia na América do Norte, onde a poligamia está nas manchetes repetidamente. Na África do Sul o quarto presidente pós-apartheid, Jacob Zuma, é um polígamo com três esposas.
Em todo o mundo os oponentes da poligamia falam sobre exploração e abuso de mulheres e descrevem a poligamia como uma prática atrasada e medieval. Isso, entretanto, não é o que ouvimos de mulheres modernas atualmente em relações poligâmicas. Essas mulheres falam em liberdade de escolha, liberdade de religião e dos laços de irmandade entre esposas. A poligamia não se trata de um homem dominando e abusando de várias mulheres. É sobre homens e mulheres adultos escolhendo uma forma de casamento que atende suas necessidades, desejos e aspirações.
O Islã não introduziu a poligamia no mundo; entretanto, colocou restrições e condições nessa arranjo de casamento singular, para assegurar que abusos não ocorressem. Entretanto, antes de prosseguirmos e discutirmos a conexão entre o Islã e a poligamia, pode ser útil definir o termo poligamia.
Poligamia significa ter mais de um cônjuge ao mesmo tempo. Vem de duas palavras grega, polis, que significa muitos, e gamos, que significa casamento. Na realidade existem três formas de poligamia: a poliginia, onde um homem é casado com várias esposas; a poliandria, onde uma mulher tem vários maridos; e uma terceira forma, onde vários maridos são casados com várias esposas. Em todo o mundo, existem todas as formas em níveis variados em várias culturas. Entretanto, no Islã só uma forma de poligamia é permitida - a poliginia.
É incorreto presumir que as religiões cristã e judaica sempre se opuseram à poligamia. A poliginia foi praticada em vários níveis ao longo da história das três religiões monoteístas - Judaísmo, Cristianismo e Islã. O Torá e a Bíblia não condenam a prática da poliginia e alguns dos mais estimados e respeitados profetas e reis praticaram a poliginia, incluindo Abraão, Davi, Jacó e Salomão. Entretanto, embora não exista condenação, também não existem restrições na prática da poliginia.
Todas as três religiões monoteístas foram acusadas de misoginia e, certamente, algumas histórias e tradições tendem a confirmar isso, especialmente quando mulheres são mencionadas como propriedade e a poliginia é praticada sem restrição ou regulamentação. O Islã, entretanto, limita o número de esposas que um homem pode ter e impõe leis que reconciliam o casamento com a igualdade de gêneros. As desigualdades que existem entre muçulmanos e muçulmanas são baseadas em aberrações culturais e não são sancionadas pela lei islâmica.
As mulheres são descritas no Alcorão como sendo iguais aos homens e os ensinamentos do Islã consagram os direitos e responsabilidades de cada membro da raça humana. As diferenças entre os gêneros são celebradas. Uma vida ou um gênero não tem mais valor que o outro. O Islã se apoia no respeito, tolerância e moralidade inerentes nos ensinamentos originais do Judaísmo e do Cristianismo e se revela como um código de vida para todas as pessoas em todos os lugares e em todas as épocas. A poliginia é permitida no Islã e de forma alguma diminui os direitos ou a igualdade das mulheres.
O Islã adotou uma prática já bem estabelecida, a poliginia, e instituiu regulamentações que preveniram o caos e o abuso de entrarem na estrutura familiar. Uma família bem equilibrada e funcional, onde os direitos de todos os membros são respeitados e mantidos, é a pedra fundamental do Islã. Uma comunidade moral e ética se origina dessa estrutura familiar e é baseada em noções realistas de igualdade de gêneros.
A poliginia é apenas uma maneira com a qual homens e mulheres adultos e de comum acordo podem contribuir para uma sociedade equilibrada livre de imoralidade e degradação, sendo permitida sob certas circunstâncias bem documentadas. A poliginia não é um dogma fixo inerente no Islã, nem é de forma alguma obrigatória. O Alcorão deu permissão para um home se casar com um máximo de quatro esposas e cada esposa sucessiva desfruta dos mesmos direitos e privilégios da primeira. As mulheres não são forçadas a casamentos plurais sem seu consentimento.
As mulheres que praticam o Islã têm certos direitos inalienáveis que lhes foram concedidos por Deus e alguns pertencem especificamente ao casamento. Casar em uma família poligínica não nega ou muda quaisquer desses direitos. Nem os direitos das mulheres são alterados ou prejudicados se um casamento anteriormente monogâmico se torna poligínico. O casamento no Islã é uma parceria entre seres humanos que buscam agradar a Deus, trabalhando na direção de uma vida estável e moral. Homens e mulheres são livres para escolher ou rejeitar seus parceiros do jeito que quiserem e o Islã leva em consideração os caprichos da natureza humana.
As mulheres no Islã têm direitos apenas sonhados pelas mulheres no ocidente até 100 anos atrás. As muçulmanas foram pioneiras nos acordos pré-nupciais e participaram na política e na erudição quando as mulheres do mundo ocidental eram incapazes de ler e escrever. A poliginia mantém os direitos das mulheres e é um arranjo de casamento válido que inerentemente aceita a igualdade de gênero. Ainda assim a palavra poligamia (incluindo sua variação, a poliginia) cria uma atmosfera de medo. O que mais tememos na poligamia?
É que a poliginia leva em consideração a verdadeira natureza de homens e mulheres? Ou, talvez, porque a maioria dos que praticam a poliginia levam vidas de elevada moral? Qual o problema com essa sociedade moderna que permite e até sanciona mau comportamento? Homens e mulheres vão de um relacionamento a outro com pouca consideração pelo outro ou pelas crianças resultantes. A santidade do casamento é deixada de lado em favor de relacionamentos de monogamia em série. Os homens são encorajados a ter amantes e namoradas, mas um homem que quer ter mais que uma esposa legalmente, para assumir a responsabilidade por ela e pelas crianças, é condenado e marcado como um viciado em sexo ou um devasso.
Até no mundo muçulmano, homens e mulheres que escolhem praticar a poliginia às vezes são condenados. Entretanto, o absurdo essas noções está se tornando cada vez mais claro. A poligamia está lentamente voltando para a cultura popular. Até séries televisivas como Big Love da HBO e o drama egípcio, A família de Hajj Metwalli, estão começando a retratar a poliginia como um estilo de vida válido. A palavra poligamia nos força a confrontar questões voltadas para a natureza humana básica. As pessoas e comunidades em todo o mundo, muçulmanas e não muçulmanas, estão investigando alternativas poligâmicas. Estão olhando para uma opção de casamento com uma história longa e válida e se perguntando o que ela tem a oferecer aos cidadãos do século 21.
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