Todos os muçulmanos representam o Islã? (parte 2 de 3): O Islã demanda justiça, mesmo sob pressão
Descrição: O que o Islã diz sobre a violência e a guerra?
- Por Aisha Stacey (© 2014 IslamReligion.com)
- Publicado em 24 Mar 2014
- Última modificação em 26 Mar 2014
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Tentar convencer as pessoas de que os muçulmanos não são terroristas, que as muçulmanas não são oprimidas ou que nem todos os muçulmanos representam o Islã está se tornando cada vez mais difícil. Presume-se que um homem muçulmano com uma barba espessa está planejando um ataque - a algo. Se uma muçulmana escolhe vestir-se modestamente é dado como certo que foi forçada a vestir tal roupa. Embora dificilmente seja possível pegar um jornal ou assistir ao noticiário sem ouvir algo sobre o Islã ou os muçulmanos, geralmente é uma interpretação errônea ou deturpação grave.
Nessa mistura volátil entra o próprio muçulmano ou muçulmana, porque às vezes os muçulmanos são seus piores inimigos. Geralmente falam sem conhecimento ou até sem pesar o efeito de suas palavras. Às vezes os muçulmanos reagem sem olhar para o panorama geral. Reagem aos equívocos sem perceber que seus comportamentos algumas vezes afirmam as noções incorretas. Nem todos os muçulmanos representam o Islã.
Vivemos em tempos interessantes e, de acordo com um velho provérbio chinês, isso pode ser tudo, menos uma bênção. Os muçulmanos chamam esse período de tempo de fitnah (testes e tribulações). A vida corre nos levando ao desconhecido, mas de uma maneira estranha tudo já foi feito antes. Não é a primeira vez na história que os muçulmanos sofreram os efeitos de mentiras ou deturpações. Entretanto, quando as mentiras e deturpações se amontoam os que buscam a verdade nesse mundo têm uma forma de encontrar o ouro enterrado na terra. O Islã é como aquele ouro, que pode repousar quietamente, mas não perde nada de sua beleza ao fazê-lo.
A maior ameaça aos muçulmanos e ao modo islâmico de vida agora é a “guerra ao terror” e a subsequente demonização dos muçulmanos. A grande mídia foca no mau comportamento dos muçulmanos que frequentemente têm pouquíssimo entendimento de sua religião. A grande maioria dos 1,6 bilhões de muçulmanos do mundo condena atos de terror e a matança de civis inocentes. O mesmo faz a maioria dos estudiosos e líderes muçulmanos e, ainda assim, infelizmente, a religião do Islã é quase invariavelmente implicada no pensamento e comportamento de criminosos.
Os erros de muçulmanos são frequentemente usados para justificar ou encorajar o ódio a muçulmanos inocentes ou à religião do Islã. Continuamente versículos do Alcorão são tirados de contexto e dito que criminosos seguem o dogma islâmico, quando na realidade nada poderia estar mais longe da verdade. Para compreender a posição islâmica sobre a violência e a guerra, deve-se referir às fontes originais, o Alcorão e as tradições autênticas do profeta Muhammad, que Deus o louve. Não é viável tirar um versículo do Alcorão e deduzir seu significado sem ler os versículos que vêm antes e depois. O entendimento pleno da profundidade e sutileza do Alcorão só é possível quando se entende o contexto histórico e a razão para a revelação e também se tem um conhecimento profundo da vida do profeta Muhammad.
Portanto, o que exatamente o Islã diz sobre a guerra e a violência?
O Islã é a religião revelada por Deus para o benefício da humanidade e proíbe totalmente prejudicar pessoas inocentes de qualquer forma. Isso inclui seus corpos, bens ou honra. O Islã ensina que os muçulmanos tratem a todos, independente de religião, etnia, cor ou status social, com respeito e gentileza. Proíbe a opressão, salvaguarda os direitos e ordena que os muçulmanos vivam em paz e harmonia, mantendo a justiça mesmo em relação aos inimigos e até em tempos de guerra. Nunca é permissível matar uma pessoa que não seja hostil ou que tenha um tratado de paz.
“Deus nada vos proíbe, quanto àqueles que não nos combateram pela causa da religião e não vos expulsaram dos vossos lares, nem que lideis com eles com gentileza e equidade, porque Deus aprecia os equitativos.” (Alcorão 60:8)
Quando o profeta Muhammad enviou seus companheiros para a batalha, disse: “Vão em nome de Deus e não matem velhos, crianças e mulheres. Espalhem a bondade e façam o bem, porque Deus ama os benfeitores.”[1] “Não matem os monges nos monastérios” ou “Não matem as pessoas em seus locais de adoração.[2] Uma vez, depois de uma batalha, o profeta viu o corpo de uma mulher no chão e disse: “Ela não estava lutando. Por que então foi morta?”
Essa forma de se comportar em tempos de guerra foi posteriormente enfatizada por Abu Bakr, o líder da nação islâmica depois do profeta Muhammad. Ele disse: “Ordeno a vocês dez coisas. Não matem mulheres, crianças ou pessoas idosas ou doentes. Não cotem árvores frutíferas. Não destruam um local habitado. Não abatam ovelhas ou camelos, exceto para se alimentarem. Não queimem abelhas e não as dispersem. Não roubem do butim e não sejam covardes.”
Se um inimigo inflige dano aos muçulmanos ou os expulsa de suas casas e terras, então Deus ordena aos demais muçulmanos que os defendam, mas mesmo sob pressão um muçulmano deve se comportar de maneira justa.
“Combatei, pela causa de Deus, aqueles que vos combatem; porém, não pratiqueis agressão, porque Deus não estima os agressores. E combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Deus. Porém, se desistirem, não haverá mais hostilidades, senão contra os iníquos.” (Alcorão 2: 190-193)
“Ó crentes, sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho, a bem da justiça; que o ódio aos demais não vos impulsione a serdes injustos para com eles. Sede justos, porque isso está mais próximo da piedade, e temei a Deus. Porque Ele está bem inteirado de tudo quanto fazeis.” (Alcorão 5:8)
A mensagem do Alcorão é clara. Tirar uma vida, qualquer vida, é um pecado grave. Tanto o Alcorão quanto as tradições autênticas do profeta Muhammad, que Deus o louve, estão imbuídos de um profundo senso de justiça e perdão. A mensagem do Islã é para toda a humanidade e o Islã exige misericórdia e sabedoria em todas as transações, mesmo em tempos de guerra. Quando as atrocidades que desafiam a crença e os ensinamentos do Islã são cometidas, é importante lembrar que nem todos os muçulmanos representam o Islã.
“Por isso prescrevemos aos israelitas que quem matar uma pessoa, sem que esta tenha cometido homicídio ou semeado a corrupção na terra, será considerado como se tivesse assassinado toda a humanidade.” (Alcorão 5:32)
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