Jenny, ex-cristã, Austrália (parte 1 de 2)

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Descrição: Uma adolescente protestante australiana, incomodada com o conceito de Trindade, que abraçou o Islã depois de um ano na escola secundária budista, no Japão. 

  • Por Jenny
  • Publicado em 07 Dec 2015
  • Última modificação em 06 Dec 2015
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Com frequência quando as pessoas perguntas "como você veio para o Islã?" respiro fundo e tento contar a elas a "versão curta".  Não acho que o Islã seja algo que venha repentinamente, mesmo que pareça dessa forma no momento, mas foi algo que para o qual fui gradualmente guiada por meio de experiências diferentes.  Ao escrever esse artigo espero que alguém possa lê-lo, se identificar com algumas coisas e ser motivado a aprender mais sobre o Islã verdadeiro. 

Nasci na Austrália em 1978 e fui batizada e educada como cristã.  Quando criança costumava ficar ansiosa para ir à igreja e para a escola dominical.  Embora ainda possa me lembrar de estar ansiosa para ir à igreja, não consigo me lembrar de muito a respeito.  Talvez fosse por vestir minhas melhores roupas, ver outras crianças, talvez pelas histórias ou talvez apenas estivesse ansiosa pelo famoso almoço de domingo de minha avó, quando voltava para casa.  Minha família não era rígida sobre religião - pelo que sei a Bíblia nunca era lida fora da igreja e nunca dizíamos preces antes de comer.  Colocando de forma simples, acho que religião não era um assunto importante em nossas vidas.  Consigo me lembrar de ir à igreja com minha família algumas vezes e à medida que fiquei mais velha consigo lembrar-me de ficar incomodada quando outros membros de minha família optavam por não ir.  Assim, pelos últimos dois anos frequentei a igreja sozinha. 

Na época que frequentava a escola primária, "educação religiosa" era uma lição semanal.  Aprendíamos os "verdadeiros valores cristãos" e recebíamos cópias da Bíblia.  Embora não admitisse na época, também ficava ansiosa por essas aulas.  Era algo interessante de aprender, algo que acreditava tinha algum tipo de importância, só não sabia qual. 

Nos meus anos no segundo grau frequentei uma escola para meninas.  Não tínhamos qualquer tipo de aulas religiosas lá e acho que de certa forma sentia falta disso, porque comecei a ler a Bíblia por minha conta.  Na época estava lendo apenas por "questão de interesse".  Acreditava que Deus existia, mas não forma em que era frequentemente descrito na igreja.  Quanto à Trindade, esperava que talvez fosse algo que viesse a entender quando ficasse mais velha.  Havia muitas coisas que me confundiam. Assim, parecia haver momentos "religiosos" em minha vida nos quais eu lia a Bíblia e fazia o máximo para segui-la, então ficava confusa e achava que era muita coisa para entender.  Lembro-me de conversar com uma menina cristã em minhas aulas de matemática.  Acho que isso me deu uma razão para ficar ansiosa pela aula de matemática.  Perguntava a ela sobre coisas que não compreendia e embora algumas explicações eu pudesse entender, outras não pareciam lógicas o suficiente para que eu confiasse 100% no Cristianismo. 

Não posso dizer que estava confortável com muitos aspectos da cultura australiana.  Não compreendia o consumo de álcool, por exemplo, ou ter múltiplos namorados.  Sempre senti que havia muita pressão e às vezes chorava com o pensamento de "ficar adulta" por causa do que "ficar adulta" significava nessa cultura.  Minha família viajava para o exterior com frequência e sempre pensei que seria capaz de encontrar um país onde pudesse levar uma vida confortável e não me sentir pressionada como me sentia.  Depois de passar 3 semanas no Japão em um intercâmbio estudantil, decidi que queria ir novamente para um intercâmbio de longo prazo.  No meu último ano do segundo grau fui aceita para frequentar uma escola no Japão no ano seguinte. 

Antes de deixar a Austrália para passar o ano no exterior, estava passando por um dos meus "estágios religiosos".  Tentava esconder esses estágios de meus pais.  Por alguma razão achava que ririam de mim lendo a Bíblia.  Na noite anterior de viajar para o Japão minha mala estava pronta. Entretanto, fiquei acordada até meus pais dormirem, para que eu pudesse pegar a Bíblia e levá-la também.  Não queria que meus pais soubessem que a estava levando. 

Meu ano no Japão não foi a experiência mais agradável de minha vida.  Encontrei problema atrás de problema.  Na época foi difícil.  Estava com 17 anos quando fui para lá e acho que aprendi muitas lições valiosas naquele ano.  Uma delas foi que "as coisas nem sempre são o que parecem".  Em um estágio senti como se tivesse perdido tudo - meus colegas de escola japoneses (os amigos sempre foram importantes para mim, mesmo na Austrália), minhas famílias japonesas e então recebi uma ligação dizendo que seria enviada para a Austrália alguns meses antes.  Tinha "perdido tudo" - inclusive o sonho que havia acalentado por muitos anos.  A noite em que recebi aquele telefonema peguei minha Bíblia.  Achei que talvez pudesse encontrar algum conforto nela e sabia que independente de qualquer coisa, Deus sabia a verdade sobre tudo que todos fazem e que fofocas e mentiras não podiam mudar isso.  Sempre tinha acreditado que tempos difíceis não nos eram dados para "nos parar", mas para nos ajudar a crescer.  Com isso em mente, estava determinada a ficar no Japão por todo o ano e de alguma forma tentar parar os rumores ridículos.  Alhamdulillah consegui. 

A partir daquele ano passei a compreender que todas as culturas são diferentes e todas têm pontos bons e ruins.  Vim a compreender que não era uma cultura que buscava,... mas outra coisa. 

Frequentava uma escola secundária budista para meninas no Japão.  Tínhamos um encontro semanal no qual orávamos, cantávamos canções e ouvíamos as longas palestras do diretor.  A princípio não me sentia confortável participando desses encontros.  Recebi uma cópia do livro de canções junto com contas que devíamos segurar quando orássemos.  Tentei deixar de participar no início, mas então decidi que não tinha que dar o mesmo significado que as outras pessoas davam às coisas.  Quando orava, orava para o mesmo Deus para o qual sempre tinha orado - o Deus Único.  Não posso dizer que entendo o Budismo.  Sempre que tentava descobrir mais dava em um beco sem saída.  Até perguntei a um japonês que dava aulas de inglês.  Ele tinha ido várias vezes para a América e disse que no Japão era budista e na América era cristão.  Havia algumas coisas sobre o Budismo que achava interessante, mas não era algo que pudesse considerar uma religião. 

De muitas maneiras pegava o que gostava das religiões e filosofias espirituais e formava o que considerava ser minha "religião da Jenny".  Coletei citações filosóficas no segundo grau, li coisas como a Profecia Celestina e Anjos e, quando voltei para a Austrália, ainda continuava apegada às crenças cristãs que faziam sentido para mim.  Sentia como se estivesse continuamente buscando a verdade.

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Jenny, ex-cristã, Austrália (parte 2 de 2)

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Descrição: Uma adolescente protestante australiana, incomodada com o conceito de Trindade, que abraçou o Islã depois de um ano na escola secundária budista, no Japão. 

  • Por Jenny
  • Publicado em 14 Dec 2015
  • Última modificação em 14 Dec 2015
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Quando voltei para a Austrália do Japão tinha ficado próxima de uma menina com a qual ia para a escola.  Ela sempre estava com alguém que eu considerava ser uma boa amiga, mas não estava em "meu grupo de amigas" com a qual sentava na aula ou almoçava.  Não tinha ouvido falar ou visto algumas pessoas naquele grupo desde que retornei.  Percebi que essa outra garota e eu tínhamos muito mais em comum do que tinha pensado inicialmente.  Talvez fosse porque eu tinha mudado muito no Japão ou talvez porque tinha aprendido que ser "aceitável socialmente" e popular não era importante, porque as pessoas que fazem esses julgamentos não estão sempre corretas moralmente.  Não me importava com quem era meu amigo e quem não era, mas me importava em ser verdadeira comigo mesma e me recusava a mudar para me adequar às outras pessoas.  Sentia como se tivesse descoberto quem eu realmente era, ao perder tudo que antes considerava importante. 

A menina da qual tinha ficado próxima era muçulmana, não que eu pensasse sobre isso na época.  Uma noite sentamos no McDonald’s, tirando vantagem da oferta do "refil grátis de café" e conversamos sobre religião, principalmente sobre a maneira na qual acreditávamos em Deus.  Era ela quem fazia a maioria das perguntas, sobre como eu achava que Deus "era".  Gostei da discussão e senti que de alguma forma estava fazendo sentido para ela, com minha "religião da Jenny".  Quando chegamos em casa ela pegou os 40 hadiths Qudsi e os leu em silêncio.  Leu alguns deles para mim e, claro, fiquei interessada.  Pedi para pegar os livros emprestados para que pudesse sentar e lê-los, o que fiz.  Ler os livros era um pouco assustador.  Para mim, exemplos do Islã podiam ser encontrados nas notícias da TV e nos livros como "Princesa" e "Não sem minha filha".  Certamente, pensei, os hadiths eram apenas a parte boa, mas a parte ruim estava lá também. 

Mudei-me para minha universidade para o início do semestre e não pude mais pegar os livros da minha amiga. Então, comecei a procurar na internet; Já tinha "encontrado" alguns muçulmanos no IRC, mas os considerava meus amigos também e achava que não me diriam a "verdade" sobre o Islã.  Achava que só me contariam as partes boas.  Mas fiz algumas perguntas a eles e, Masha’Allah, eles ajudaram bastante.  Ainda me lembro de perguntar a um muçulmano se ele acreditava em anjos.  Os anjos eram parte de minha "religião da Jenny" e certamente não acreditava que um muçulmano admitiria acreditar na existência de anjos!! Meu entendimento limitado e ignorante de um homem muçulmano era o que ele batia em sua esposa, matava bebês do sexo feminino e era um terrorista em seu tempo livre.  Esse tipo de pessoa não podia acreditar em anjos! Fiquei chocada quando ele disse: "Claro que acredito em anjos".  A partir de então fiquei interessada em saber no que mais os muçulmanos acreditavam. 

Frequentemente penso que inicialmente continuei a ler sobre o Islã pela internet para provar que era errado.  Sempre procurava por aquela "parte ruim".  Não era possível que todos tivessem uma opinião ruim do Islã se não houvesse uma razão.  Sempre tinha encontrado uma parte ruim ou ilógica em todas as religiões sobre as quais tinha lido a respeito. Então, porque o Islã seria diferente? Lembro-me de achar um site de bate-papos islâmico pela primeira vez e esperava ver mulheres reprimidas apenas lendo o que os homens diziam.  Esperava que não tivessem opinião. Esperava a "típica menina muçulmana" da qual sempre tinha sentido pena.  Para minha surpresa vi meninas alegremente batendo papo, expressando opiniões. Essas meninas muçulmanas eram de certa forma mais liberadas que eu.

Meu aprendizado sobre o Islã na internet continuou por meio de bate-papo com muitas pessoas e da impressão do conteúdo de vários sites.  Quanto mais aprendia, mais assustada ficava.  Não contei a nenhum dos meus amigos que estava lendo sobre o Islã, nem mesmo para minha melhor amiga.  A princípio foi porque não queria que ficassem me contando apenas as "partes boas" e, então, mesmo quando percebi que não encontraria as partes ruins, não queria que se empenhassem em me converter ao Islã.  Queria que essa "decisão" fosse feita por mim mesma - sem pressão. 

Essa "decisão" não foi de fato decisão nenhuma.  Com frequência me perguntam "o que a levou à decisão de se tornar muçulmana?", mas quando algo tão claro e lógico como o Islã é colocado na sua frente, não há escolha.  Isso não torna a decisão de dizer a Shahada (o testemunho de fé) mais fácil.  Muitas coisas me impediram a princípio.  Primeiro, não achava que conhecesse o Islã o suficiente, mas não importava porque sabia que nunca encontraria algo ilógico ou "mau".  Passei a me dar conta de que dizer a Shahada não é a etapa final, mas a primeira.  Inshallah (pela vontade de Allah) continuarei a aprender.  Outra coisa que me deixou hesitante era separar a palavra "Islã" de todas as coisas ruins com o qual eu o tinha associado.  Sempre achei que não poderia ser muçulmana! E então aprender que minha "religião da Jenny" e crenças, por exemplo, de Deus ser Único, eram de fato Islã foi difícil, a princípio.  O Islã reuniu tudo, tudo fez sentido.  Para mim, encontrar o Islã era como viagem de ônibus - tinha parado e olhado em todas as paradas ao longo do caminho, pego um pedaço de todas elas e continuei com a viagem.  Quando encontrei o Islã sabia que era a "última parada" da minha longa viagem. 

Em outubro de 1997, minha melhor amiga foi comigo para eu dizer a Shahada no Centro Islâmico em Melbourne.  Ainda estava com medo na época, mas depois que uma das minhas irmãs me explicar os artigos de fé e eu colocar uma etiqueta mental ao lado de cada um deles, soube que não havia nada a fazer, mas dizê-la com minha boca.  Ainda choro quando penso no momento em que disse "Sim, farei." Finalmente derrubei a parede mental que estava me impedindo.  Repeti em árabe, depois da minha irmã.  Com a primeira palavra dela, chorei.  É um sentimento que não consigo explicar.  Minha amiga estava sentada ao meu lado, mas um pouco atrás de mim. Não percebi na hora, mas ela já estava chorando.  Senti muito poder ao meu redor e nas palavras, mas eu mesma me sentia muito fraca. 

Às vezes acho que minha família se pergunta se essa é uma fase pela qual estou passando... assim como minhas outras fases.  Fui até vegetariana até que minha mãe me disse qual era o jantar aquela noite - um assado.  Ainda tenho muito que aprender, mas uma coisa que gostaria que as pessoas compreendessem é que sei, Alhamdulillah (todo o louvor é para Allah), que o Islã é uma bênção para a humanidade.  Quanto mais você aprender, insh’Allah, mais beleza você verá no Islã.

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