O Estilo do Alcorão
Descrição: O artigo aborda os temas principais do Alcorão, os tópicos que discute, seu estilo de apresentação e alguns pontos de comparação com suas próprias escrituras para os leitores cristãos e judeus.
- Por IslamReligion.com
- Publicado em 05 Apr 2010
- Última modificação em 05 Apr 2010
- Impresso: 153
- 'Visualizado: 11,351 (média diária: 2)
- Classificado por: 132
- Enviado por email: 0
- Comentado em: 0
Quais tópicos o Alcorão discute? Ele cobre vários assuntos. Mas o mais importante, fala sobre a unicidade de Deus e como viver uma vida de acordo com Sua Vontade. Outros tópicos incluem doutrina religiosa, criação, lei civil e criminal, Judaísmo, Cristianismo, politeísmo, valores sociais, moralidade, história, histórias de profetas anteriores e ciência.
O Alcorão apela aos grandes exemplos humanos dos profetas anteriores e menciona seu grande sacrifício na propagação da mensagem de Deus, os mais importantes deles sendo Noé, Abraão, Moisés e Jesus. O Alcorão elabora sobre as formas nas quais os seguidores dos profetas, especificamente os judeus e cristãos, têm ou não vivido de acordo com as mensagens proféticas. Também discute o destino de nações anteriores que rejeitaram seus profetas, como Noé e Lot. Providencia instruções sobre como viver uma vida agradando a Deus. Comanda as pessoas a orar, jejuar e cuidar dos necessitados. Discute questões de interrelações humanas, algumas vezes em grandes detalhes – como leis de herança e casamento – em uma maneira reminiscente de partes da Bíblia hebraica, mas estranha ao Novo Testamento. O Alcorão diz às pessoas que elas devem observar as instruções de Deus puramente em nome de Deus e não para ganhos mundanos. Alerta àqueles que negam as mensagens de Deus que serão lançados no fogo do Inferno e promete àqueles que aceitam as mensagens que receberão a bênção do Paraíso.
O Alcorão reconta o original de muitas das histórias de herança bíblica, especialmente a que Moisés (mencionado pelo nome mais do que qualquer outra pessoa) foi seguido pelo Faraó, seu grande inimigo e arquétipo corânico do mal humano. Entretanto não oferece uma narrativa sustentada do tipo encontrado no Livro do Êxodo. Tem muito a dizer sobre os deveres morais e legais dos crentes, mas não contém nada semelhante a um código de leis, que é a peça central do Livro do Deuteronômio. Muitas passagens corânicas podem ser apropriadamente descritas como pregação, mas onde a voz do pregador nos Evangelhos é a de Jesus durante seu ministério na terra, no Alcorão é a do Deus eterno.
O Alcorão também repete certos versículos e temas às vezes, muda de tópicos e com frequência relata narrativas de forma resumida. Podemos ver duas razões para essa característica. Primeiro, serve a um propósito linguístico e é uma das técnicas retóricas poderosas do árabe clássico. Segundo, todos os temas do Alcorão, não importa o quanto variem, revolvem em torno de um fio condutor comum ao longo de todo o livro: que todos os tipos de adoração submetida a outros ao lado de Deus ou junto com Deus é falsa, e que obediência a Ele e Seus profetas, Muhammad sendo um deles, é fundamental. O Alcorão, ao contrário da Bíblia, não menciona genealogias, eventos cronológicos, ou detalhes históricos minuciosos, mas ao invés disso, usa eventos do passado e do presente para ilustrar sua mensagem central. Então, quando o Alcorão está discutindo as propriedades de cura do mel ou a vida de Jesus, nenhum tópico é um fim em si mesmo, mas cada um está relacionado de uma forma ou outra à mensagem central – a unicidade de Deus e da mensagem profética. Não importa que tópico seja, o Alcorão encontra a oportunidade para reportar a discussão a seu tema central.
Outro ponto importante para ter em mente é que o Alcorão não foi revelado de uma só vez, mas em partes ao longo de 23 anos. Como as escrituras anteriores, muitas passagens foram reveladas em resposta a eventos específicos. Frequentemente a revelação corânica vinha do anjo Gabriel ao Profeta Muhammad como resposta a perguntas levantadas por aqueles ao seu redor, crentes ou descrentes. O Alcorão se dirige ao Povo do Livro (um termo usado pelo Alcorão para os judeus e cristãos), a humanidade como um todo, aos crentes e, finalmente, se dirige ao próprio Profeta, orientando-o sobre o que fazer em certas situações ou lhe dando apoio e conforto em face da ridicularização e rejeição. Conhecer o contexto histórico e social esclarece o texto.
Algumas outras características notáveis do estilo do Alcorão são as que se seguem:
(1) O uso de parábolas para atiçar a curiosidade do leitor e explicar verdades profundas.
(2) Mais de duzentas passagens começam com a palavra árabe Qul – “Dize” – orientando o Profeta Muhammad a dizer o que se segue em resposta a uma pergunta, para explicar um assunto relacionado à fé, ou anunciar uma norma legal. Por exemplo:
“Dize: “Ó adeptos do Livro, pretendeis vingar-vos de nós, somente porque cremos em Deus, em tudo quanto nos é revelado e em tudo quanto foi revelado antes? A maioria de vós é rebelde e desobediente.” (Alcorão 5:59)
(3) Em algumas passagens do Alcorão Deus jura por Sua maravilhosa criação e fortalece um argumento ou elimina dúvidas na mente do ouvinte:
“Pelo sol e pelo seu esplendor (matinal),
Pela lua, que o segue,
Pelo dia, que o revela,
Pela noite, que o encobre.
Pelo firmamento e por Quem o construiu,
Pela terra e por Quem a dilatou,
Pela alma e por Quem aperfeiçoou…” (Alcorão 91:1-7)
Às vezes Deus jura por Si mesmo:
“Qual! Por teu Senhor, não crerão até que te tomem por juiz de suas dissensões e não objetem ao que tu tenhas sentenciado. Então, submeter-se-ão a ti espontaneamente.” (Alcorão 4:65)
(4) Finalmente, o Alcorão tem o que se chama de “as letras desarticuladas”, que são compostas do alfabeto árabe e que juntas não têm nenhum significado conhecido no léxico árabe. Seu significado só é conhecido por Deus. Aparecem no início de vinte e nove suratas na recitação cada letra é pronunciada e não as palavras que formam. Por exemplo, o primeiro versículo da surata Bácara aparece como Alif-Lam-Mim, três letras do alfabeto árabe pronunciadas individualmente.
Uma pessoa não familiarizada com o Alcorão pode achá-lo um pouco difícil de ler, especialmente no início, mas se tiverem esses pontos em mente se acostumarão com ele e, de fato, mesmo que seja uma tradução verão que é verdadeiramente um livro profundo e incomparável.
Adicione um comentário