O Talmude e Seus Autores
Descrição: O que é o Talmude judaico? Quantas versões existem do Talmude? Quem escreveu o Talmude? O artigo responde a essas perguntas à luz da erudição judaica e secular.
- Por IslamReligion.com
- Publicado em 14 Feb 2011
- Última modificação em 14 Feb 2011
- Impresso: 333
- 'Visualizado: 43,917 (média diária: 9)
- Classificado por: 136
- Enviado por email: 6
- Comentado em: 1
O que é o Talmude?
O Talmude é o livro básico do Judaísmo. A Enciclopédia Britânica afirma que o termo hebraico “Talmude” se refere a uma compilação de ensinamentos antigos considerados sagrados pelos judeus da época em que foi compilado até os tempos modernos e continua considerado dessa forma pelos judeus religiosos.[1] Nas palavras do rabino Dr. Jacob Neusner, é “o documento-base do Judaísmo”.[2]
Talmudes Babilônico e Palestino
Existem duas versões do Talmude. A Liga Antidifamação afirma:
“Existem duas edições do Talmude; uma foi composta pelos judeus babilônicos e outra pelos judeus que viveram na antiga Jerusalém. Geralmente uma citação do Talmude se refere à versão babilônica, que é considerada autoritativa. O Talmude de Jerusalém geralmente não é ensinado hoje até nas mais ortodoxas escolas judaicas, embora estudiosos avançados do Talmude às vezes o estudem.”[3]
O Professor Shanak explica:
“Basicamente o Talmude consiste de duas partes. Primeiro, o Mishnah – um código legal sucinto que consiste de seis volumes, cada qual subdividido em vários tratados, escritos em hebraico, editados na Palestina por volta do ano 200 da Era Comum a partir de material legal muito mais extenso (e amplamente oral) composto durante os dois séculos anteriores. A segunda parte, e muito mais predominante, é o Gemara – um registro volumoso de discussões sobre o Mishnah. Existem dois, aproximadamente paralelos, conjuntos de Gemara, um composto na Mesopotâmia (Babilônia) entre 200 e 500 da Era Comum, o outro na Palestina entre 200 e alguma data desconhecida muito antes de 500 da Era Comum. O Talmude babilônico (que é o Mishnah mais o Gemara mesopotâmico) é muito mais extenso e melhor organizado que o palestino, e sozinho é considerado como definitivo e autoritativo. O Talmude de Jerusalém (palestino) tem um status decididamente inferior como autoridade legal, junto com várias compilações conhecidas coletivamente como “literatura talmúdica” contendo material que os editores dos dois Talmudes haviam deixado de fora.”[4]
Outro autor confirma que o Talmude babilônico é considerado como a versão autoritativa:
“A autoridade do Talmude babilônico também é maior que a do Talmude de Jerusalém. Em caso de dúvida o primeiro é decisivo.”[5]
Autores do Talmude
De acordo com estudiosos do Talmude, o Talmude é a forma escrita dos ensinamentos dos fariseus. Quem eram os “fariseus”? A Enciclopédia Judaica Universal afirma sob o tema “Fariseus”:
“A religião judaica como é hoje traça sua origem, sem interrupção, através de todos os séculos, a partir dos fariseus. Suas idéias e métodos principais encontraram expressão em uma literatura de extensão enorme, da qual uma grande parte continua a existir. O Talmude é a maior e mais importante peça daquela literatura... e seu estudo é essencial para qualquer entendimento real do Farisaísmo.”
Com referência aos fariseus, a edição de 1905 da Enciclopédia Judaica diz sob o assunto “Fariseus”:
“Com a destruição do Templo (70 da Era Comum) os saduceus desapareceram também, deixando a regulamentação de todos os assuntos judaicos nas mãos dos fariseus. Dali em diante a vida judaica foi regulada pelos fariseus; a história completa do Judaísmo foi reconstruída do ponto de vista farisaico e um novo aspecto foi dado ao Sinédrio do passado. Uma nova cadeia de tradições suplantou a tradição sacerdotal mais antiga (Abot 1:1). O farisaísmo moldou o caráter do Judaísmo e a vida e pensamento do judeu por todo o futuro.”
O rabino Michael Rodkinson afirma:
“A literatura com a qual Jesus era familiarizado em seus primeiros anos ainda existe no mundo? É possível obtê-la? Podemos rever as idéias, declarações, os modos de raciocínio e pensamento em assuntos morais e religiosos, que eram correntes em seu tempo e devem ter sido resolvidos por ele durante aqueles trinta anos silenciosos quando ele ponderava sobre sua futura missão? A essas perguntas a classe sábia de rabinos judaicos responde segurando o Talmude. Aqui, dizem eles, está a fonte da qual Jesus de Nazaré tirou o ensinamento que o habilitou a revolucionar o mundo; e a pergunta se torna, consequentemente, interessante para todo cristão: o que é o Talmude? ... o Talmude, então é a forma escrita do que, na época de Jesus, foi chamado de Tradições dos Anciãos, e às quais ele faz alusões frequentes.”[6]
O rabino Dr. Louis Finkelstein, instrutor de Talmude, e posteriormente presidente do Seminário Teológico Judaico da América, escreve:
“O Farisaísmo se tornou Talmudismo, o Talmudismo se tornou rabinismo medieval e o rabinismo medieval se tornou o rabinismo moderno. Mas ao longo dessas mudanças de nome, inevitáveis adaptações de costumes e ajuste da Lei, o espírito dos antigos fariseus sobrevive inalterado. Quando o judeu recita suas orações, está recitando uma fórmula preparada pelos estudiosos anteriores aos macabeus; quando veste o manto prescrito para o Dia do Perdão e a Páscoa judaica, está usando a vestimenta festiva da antiga Jerusalém; quando estuda o Talmude, está de fato repetindo os argumentos usados nas academias palestinas.” [7]
Relata-se que Jesus denunciou muito fortemente essa seita de sacerdotes judaicos conhecida como os fariseus:
João 8:44: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.”
Além disso, é relatado que Jesus disse que eles anularam todos os mandamentos de Deus com suas tradições, “ensinando como doutrinas os mandamentos de homens” (Marcos 7:13; Mateus 15:6-9, etc.). Sua crítica violenta, na verdade, não pode ser igualada. Todo o Mateus 23 é como uma chicotada. Ele comparou o Farisaísmo a um sepulcro branco. Muito belo por fora, mas “dentro cheio de ossos de homens mortos e de toda a impureza.” Cristo culminou uma condenação após outra com a exclamação “Hipócritas!” Chamou os fariseus de filhos dos que mataram os profetas. Previu que continuaram matando, crucificando e perseguindo até que a culpa por todo sangue virtuoso derramado desde Abel estivesse sobre eles. “Serpentes, geração de víboras, como podem escapar da danação do inferno?” Perguntou Cristo.
Footnotes:
[1] “Talmud and Midrash.” Enciclopédia Britânica. 2006.
[2] Jacob Neusner, How the Talmud Works (Como o Talmude Funciona, em tradução livre) (Boston: Brill, 2002) ix
[3] Liga Antidifamação, The Talmud in Anti-Semitic Polemics (O Talmude em Polêmicas Antissemitas, em tradução livre), Fevereiro 2003, (http://www.adl.org/presrele/asus%5F12/the_talmud.pdf)
[4] Professor Israel Shahak, Jewish History, Jewish Religion: The Weight of Three Thousand Years (História Judaica, Religião Judaica: O Peso de Três Mil Anos, em tradução livre) (Boulder: Pluto Press, 1994) ch. 3.
[5] R.C. Musaph-Andriesse, From Torah to Kabbalah: A Basic Introduction to the Writings of Judaism (Do Torá até a Cabala: Uma Introdução Básica aos Escritos do Judaísmo, em tradução livre), p. 40).
[6] Rabino Michael Rodkinson, The History of the Talmud (A História do Talmude, em tradução livre), Vol. II, pág. 70.
[7] Rabino Dr. Louis Finkelstein, The Pharisees: The Sociological Background of Their Faith (Os Fariseus: O Histórico Sociológico de Sua Fé, em tradução livre), pág. xxi,