Versos Trinitários (parte 1 de 4): “Um Menino Nos Nascerá...Pai Eterno, Príncipe da Paz”
Descrição: Uma discussão das várias passagens nas quais os cristãos buscam provar a natureza trinitária de Deus. Parte 1: Isaías 9:6.
- Por IslamReligion.com
- Publicado em 19 Oct 2009
- Última modificação em 04 Dec 2016
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Existem vários versos chaves que os cristãos usam para provar a origem bíblica da Trindade. Analisando esses versos pode-se claramente ver que eles não provam a Trindade, mas sim a mesma mensagem monoteísta de Deus. Uma das passagens mais freqüentemente citada da Bíblia é Isaías 9:6-7, a partir da qual os cristãos concluem que o Messias deve ser Deus encarnado. A passagem afirma:
“...um menino nos nascerá, um filho nos será dado; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos exércitos fará isso.”
Que Isaías 9:6 foi mal-interpretado pode se ver pelo fato de Jesus não ser chamado de “Pai Eterno” em nenhum outro lugar na Bíblia. Uma vez que a doutrina trinitária ensina que os cristãos não devem “confundir as Pessoas nem dividir a Substância” (Credo Atanasiano), como os trinitaristas aceitam que Jesus seja o “Pai Eterno”? Vamos considerar fatos adicionais de forma imparcial.
Primeiro, todas as formas verbais hebraicas em Isaías 9:6 estão no passado. Por exemplo, a palavra que a Bíblia cristã traduz como “seu nome será chamado” são as duas palavras ‘vayikra shemo,’ que adequadamente traduzidas devem ser lidas como “seu nome foi chamado.” A palavra “vayikra” é a primeira palavra a aparecer no livro de Levítico (1:1) e está traduzida corretamente lá – no passado. Além disso, a Versão do Rei James traduz os mesmos verbos no passado em outros lugares em Gênesis 4:26 e Isaías 5:25. Somente em Isaías 9:6-7 esses verbos são traduzidos no futuro!
Note que ele diz “uma criança NASCEU para nós.” Esse é um evento que acabou de acontecer, não um evento futuro. Isaías não está fazendo uma profecia, mas contando uma história. Um evento futuro diria uma criança nos nascerá, mas NÃO é isso que o verso diz. As traduções cristãs colocam em maiúscula a palavra ‘filho’ supondo que essa seja uma profecia messiânica e os nomes de um filho divino.
Segundo, a palavra “é”, geralmente não é declarada em hebraico. Ao contrário, “é” fica subentendida. Por exemplo, as palavras “hakelev” (o cachorro) e “gadol” (grande), quando reunidas em uma frase - hakelev gadol - significam “o cachorro É grande,” mesmo que nenhuma palavra hebraica naquela frase represente a palavra “é”. Uma tradução mais apurada do nome daquela criança, então, seria “Um maravilhoso conselheiro é o Deus poderoso, o pai eterno...” Esse nome descreve Deus, não a pessoa que carrega o nome. O próprio nome Isaías significa “Deus é salvação,” mas ninguém acredita que o próprio profeta seja Deus em um corpo humano!
Terceiro, a frase “Deus Poderoso” é uma tradução pobre de acordo com alguns eruditos bíblicos. Embora o português faça a distinção clara entre “Deus” e “deus”, a língua hebraica, que tem apenas letras maiúsculas, não faz. A palavra hebraica “Deus” tem uma aplicação muito mais ampla do que tem em português. Alguns sugerem uma tradução melhor para o leitor em português que seria “herói poderoso,” ou “herói divino.” Tanto Martim Lutero quanto James Moffatt traduziram a frase como “herói divino” em suas Bíblias.
Quarto, de acordo com o Novo Testamento, Jesus nunca foi chamado de quaisquer desses nomes durante a sua vida.
Quinto, se Isaías 9:6 for adotado como se referindo a Jesus, então Jesus é o Pai! E isso vai contra a doutrina trinitária.
Sexto, o fato de que o Novo Testamento não cita essa passagem mostra que até os autores do Novo Testamento não tomaram esse verso como sendo em referência a Jesus.
Sétimo, a passagem está falando sobre as maravilhas realizadas pelo Senhor para Ezequias, rei de Judá. Os versos precedentes em Isaías 9 falam de um grande triunfo militar de Israel sobre seus inimigos. Na época que se diz que Isaías escreveu essa passagem, Deus tinha acabado de libertar o rei Ezequias e Jerusalém de um cerco imposto pelos assírios sob o comando do general Senaqueribe. Diz-se que a libertação foi realizada de forma espetacular: um anjo foi para o campo assírio e matou 185.000 soldados enquanto dormiam. Quando Senaqueribe acordou e encontrou seu exército dizimado, ele e os soldados remanescentes fugiram, quando então ele foi assassinado por seus próprios filhos (Isaías 37:36-38). Os capítulos 36 e 37 contam como Ezequias se manteve firme em face do vasto exército de Senaqueribe e suas palavras blasfemas contra Deus. Quando tudo parecia perdido, Ezequias continuou a confiar no Senhor, e por isso foi recompensado com uma vitória milagrosa. É interessante notar que a afirmação, “o zelo do Senhor dos exércitos fará isso,” encontrado no final de Isaías 9:7 é encontrada em apenas dois outros lugares na Bíblia: Isaías 37:32 e 2 Reis 19:31. Ambas as passagens discutem a libertação milagrosa de Ezequias por Deus. Sendo assim, em luz do que foi exposto, Isaías está contando a defesa de Jerusalém por Deus durante o cerco assírio. Além disso, o comentário de Soncino diz que o capítulo é sobre a queda da Assíria e o anúncio do nascimento de Ezequias, o filho de Acaz.
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