Adoração no Islã (parte 1 de 3): O Significado da Adoração
Descrição: O significado e componentes da adoração no Islã, junto com uma discussão das formas interiores de adoração.
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- Publicado em 09 Mar 2009
- Última modificação em 03 Jun 2012
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O conceito e propósito da adoração no Islã não têm paralelo com qualquer outra religião existente. Ele combina o mundano com o espiritual, o indivíduo com a sociedade, e a alma interna com o corpo externo. A adoração tem um papel singular no Islã, e através da adoração, uma pessoa é considerada um verdadeiro muçulmano que leva sua vida inteira de acordo com a Vontade de Deus.
A importância da adoração pode ser vista no fato de que foi prescrita por Deus em todas as religiões antes do Islã. Deus disse no Alcorão:
“E certamente enviamos a todos os povos um mensageiro (com o mandamento): adorai a Deus...” (Alcorão 16:36)
A adoração no Islã tem tantas facetas que é difícil descrever todas elas em palavras. O significado mais genérico de adoração no Islã inclui tudo que agrada a Deus, seja lidar com assuntos da crença ou atos do corpo. Pode incluir tudo que uma pessoa compreende, pensa, pretende, sente, diz e faz. Também se refere a tudo que Deus requer, externo, interno ou interativo. Isso inclui tanto rituais quanto crenças, trabalho, atividades sociais e comportamento pessoal, já que o ser humano é um todo, e todas as partes se afetam mutuamente.
A adoração pode ser classificada em dois tipos:
1) Crenças específicas, sentimentos e atos visíveis de devoção que Ele ordenou feitos em reverência a Deus.
2) Todos os outros atos de bondade geralmente encorajados na vida de um muçulmano.
Devoção a Deus
Essa faceta da adoração inclui que certos atos que Deus ordenou em Sua religião sejam cumpridos, lidem eles com o eu interior ou com o corpo exterior, e sejam eles obrigatórios ou voluntários. Essa faceta da adoração não está limitada somente a seguir Seus mandamentos, mas também inclui abandonar as coisas que Ele proibiu. A adoração, nesse sentido, pode ser definida como qualquer coisa que se acredita, sente ou faz como um ato de obediência a Deus.
Nesse respeito, a adoração também pode ser chamada de servidão, já que é em essência viver a vida em completa servidão a Deus, fazendo o que Ele ordena, e evitando o que Ele proíbe, como um servo vive dentro da vontade de seu amo. Em essência todas as criações são servas de Deus, gostem elas ou não, porque todas estão sujeitas às leis que Ele estabeleceu em Sua criação:
“Todo ser que está nos céus e na terra chegará ao Misericordioso como um servo obediente.” (Alcorão 19:93)
“A Ele se submetem todas as criaturas nos céus e na terra, de bom ou mau grado.” (Alcorão 3:83)
Mas adoração difere de servidão no sentido de que deve ser combinada com amor, respeito e reverência. Nenhum ato de obediência é considerado adoração a menos que seja combinado com esses sentimentos; deve-se amar o ato e amar, ter respeito e reverência por Quem o ato está sendo feito.
Por essa razão, na discussão desse tópico, deve-se enfatizar que adoração é um direito somente de Deus. O Islã adere à forma mais estrita de monoteísmo e não tolera que qualquer ato de adoração seja direcionado para outro além de Deus. Deus somente exige nossa obediência, e é Deus somente que merece o nosso amor. Qualquer veneração de outras deidades além de Deus, sejam elas semideuses, profetas, anjos, santos ou mártires, ou suas relíquias, estátuas ou representações, é considerado um rompimento nesse monoteísmo e uma pessoa é considerada fora do Islã se o fizer. Mesmo que se justifique que veneram santos devido aos seus serviços a Deus, ou suas relíquias como lembrança deles, o Islã não diferencia entre adoração direta e indireta, ou subordinada e superior. Toda a adoração e atos de veneração, reverência e obediência devem ser oferecidos a Deus somente.
As Formas Interiores de Adoração
Como mencionado anteriormente, os atos de adoração prescritos por Deus lidam com o eu interior ou com o corpo exterior. Aqueles que lidam com o eu interior o fazem com crença e sentimentos. Os humanos são ordenados a acreditarem em certas verdades supremas, discutidas nos artigos de fé, e esse é o aspecto mais importante da adoração. A crença é a base para o que uma pessoa sente e faz – atos e sentimentos são um reflexo da crença. Se a crença de uma pessoa estiver incorreta ou fraca, ela nunca produzirá os resultados desejados em relação aos seus sentimentos ou atos. Por exemplo, se uma pessoa incorretamente acredita que Deus perdoou seus pecados devido meramente à fé, sua crença não produzirá o sentimento desejado de temor que deve estar presente em seu coração, nem sua crença fará a pessoa parar de pecar e realizar atos de virtude.
Deus também nos ordenou a manter certos sentimentos em nossos corações, tanto em relação a Deus quanto às Suas outras criações. Os muçulmanos devem amar a Deus, temê-Lo, respeitá-Lo, ter plena confiança Nele, e reverenciá-Lo. Os muçulmanos também devem amar seus companheiros muçulmanos, ter misericórdia e compaixão em relação a eles, amar a virtude e odiar o pecado. Todos esses são considerados atos de adoração do eu interior porque são em essência um cumprimento de mandamentos de Deus; os muçulmanos serão recompensados se os realizarem.
Adoração no Islã (parte 2 de 3): As Formas Exteriores de Adoração
Descrição: A outra forma de adoração no Islã e complemento da interior, e o propósito e benefício da adoração.
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- Publicado em 09 Mar 2009
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As Formas Exteriores de Adoração
Através da história, certas religiões, devido à sua evolução, colocaram mais ênfase na forma interior de adoração, menosprezando no todo ou em parte a importância do exterior, enquanto outras colocaram mais ênfase nos atos aparentes e visíveis de rituais, diminuindo o valor da crença. Como mencionado anteriormente, no Islã, não existe separação absoluta entre o interior e o exterior - o estado interior produz e deve produzir manifestações exteriores, e condições e atos externos têm conseqüências interiores. Sem dúvida existe uma correspondência entre o estado interior e o exterior, e um tende a modificar o outro. Todas as intenções interiores levam a posturas e ações equivalentes. Geralmente pode-se julgar o estado interior de uma pessoa pelo seu exterior. Uma pessoa em desespero ou medo, por exemplo, tem uma certa postura e expressão em seu rosto. Da mesma forma, se certas atividades ou posturas são adotadas elas terão como resultado o estado interior equivalente.
Atos visíveis de adoração oferecidos a Deus são frutos da crença do muçulmano. Por essa razão, o Islã não apenas exige que uma pessoa acredite nas verdades supremas estabelecidas em sua doutrina, mas também que a crença em Deus produza ação visível. Não é suficiente alguém manter certas crenças de salvação mas, ao contrário, atos são essenciais para que se seja bem sucedido nessa vida e na outra.
Deus ordenou que os muçulmanos cumpram certos mandamentos ao longo do curso de suas vidas, exemplificados nos cinco pilares do Islã. Eles foram prescritos diariamente, como a oração, e anualmente, como a caridade compulsória e o jejum de Ramadã, ou no mínimo uma vez na vida, como o Hajj. Existem muitos outros atos de adoração prescritos no Islã além dos cinco pilares, alguns dos quais são obrigatórios e outros voluntários, com sua realização deixada a critério do muçulmano.
Embora exista um ritual conectado a esses atos de adoração, eles não devem ser confundidos com ritualismo ou regimentação. Atos de adoração devem ser feitos com plena consciência do que está sendo feito e consciência da presença de Deus. Atos realizados mecanicamente ou como hábitos só produzem autômatos e não facilitam o crescimento espiritual.
“Não é virtude que voltes tuas faces para o Levante e para o Poente, mas a virtude é de quem crê em Deus e no Dia do Juízo, nos anjos, no Livro e nos profetas; e de quem concede a riqueza a seus parentes, aos órfãos, aos necessitados e na libertação de cativos; e de quem cumpre a oração e paga o zakah; e dos que cumprem suas promessas quando as fazem; e dos que são perseverantes na adversidade e no infortúnio e em tempo de guerra. Esses são os que são verdadeiros e os que temem a Deus.” (Alcorão 2:177)
O Propósito e Benefício da Adoração
Deus não precisa de nossa adoração. A adoração foi legislada no Islã e em todas as religiões anteriores para o benefício da humanidade, tanto no sentido individual quanto social. A adoração é essencial para a manutenção da espiritualidade na vida dos muçulmanos e seu crescimento. A adoração formal treina o indivíduo a amar seu Criador e a desenvolver uma consciência constante de Deus. Deus diz:
“Ó humanos! Adorai vosso Senhor Que vos criou e aos que vieram antes de vós de modo que sejam virtuosos.” (Alcorão 2:21)
Deus também disse a Moisés:
“E estabelecem a oração em Minha lembrança.” (Alcorão 20:14)
Atos de adoração servem como um meio através do qual se lembra de Deus e se mantém um relacionamento com Ele. Os muçulmanos fazem a oração no mínimo cinco vezes ao dia de modo a manterem esse relacionamento. Quando se suplica, implora, louva Deus, recita versículos de Sua revelação, que foram chamados de “o Relembrador”[1], junto com outras formas de adoração ao longo do dia, elas alcançarão o sentido de que o Poder e Conhecimento de Deus está presente em todos os momentos, levando ao sentimento de consciência de Deus.
A adoração também cria um forte sentimento em um muçulmano para remover o mal de dentro de si mesmo, da comunidade, do ambiente e para estabelecer a palavra de Deus em todo o mundo. Deus diz:
“De fato a oração coíbe a obscenidade e o reprovável.” (Alcorão 29:45)
Quando uma pessoa passa o seu dia executando atos específicos de adoração, ela é constantemente relembrada do propósito da vida e seu objetivo final, e isso por sua vez a ajuda a ajustar sua vida de acordo com a Vontade de Deus, fazendo o que Lhe agrada e evitando o que Lhe desagrada.
Pode-ser ver claramente o impacto que a adoração tem a um nível coletivo. A sociedade é apenas um aglomerado de indivíduos, e quando os indivíduos são espiritualmente e moralmente elevados, a sociedade em si também será elevada. Idealmente, a sociedade sentirá que Deus está sempre a observando; uma sociedade para qual atos beneficentes de gentileza serão um adjetivo inseparável, e o pecado e o vício serão confinados e limitados.
Embora para alguns possa parecer que adoração e obediência a Deus sejam semelhantes à prisão e escravidão, a adoração de Deus e servidão a Ele na verdade libera os humanos de todos os tipos de subjugação. Uma pessoa se liberta das correntes da sociedade, companheiros e família, e se libera para agradar a Seu Único e Verdadeiro Senhor. Essa é a verdadeira liberdade que traz segurança e contentamento. A servidão a Deus é a fonte suprema de liberdade.
Adoração no Islã (parte 3 de 3): A Abrangência da Adoração
Descrição: A vida inteira de um muçulmano transformada em adoração, e um retorno ao estado original de harmonia com todos, o Criador e as criaturas.
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- Publicado em 09 Mar 2009
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Como mencionado anteriormente, a definição de adoração no Islã é abrangente, incluindo tudo que a pessoa compreende, pensa, pretende, sente, diz e faz. Também se refere a tudo que Deus requer, externo, interno ou interativo. Isso tanto inclui rituais quanto crenças, trabalho, atividades sociais e comportamento pessoal.
Existe uma distinção entre o que é bom, o que é mal e o que é neutro. Uma coisa boa é aquela que está de acordo com os propósitos e natureza feitos por Deus. Leva à harmonia e é, portanto, uma recompensa em si porque remove o conflito e o sofrimento. Disso se conclui que qualquer coisa que esteja de acordo com essa definição deve ser uma forma de adoração.
O entendimento islâmico de adoração permite que toda a vida de uma pessoa seja um ato de adoração, desde que o objetivo dessa vida seja agradar a Deus, o que é alcançado fazendo o bem e evitando o mal. Uma pessoa pode transformar atividades diárias em atos de adoração purificando sua intenção e sinceramente buscando a satisfação de Deus através dessas atividades. O Mensageiro de Deus, que Deus exalte sua menção, disse:
“Ajudar uma pessoa ou seus pertences em sua montaria é um ato de caridade. Uma palavra boa é caridade. Cada passo dado no caminho para realizar as orações é caridade. Remover um obstáculo da estrada é caridade.” (Saheeh Al-Bukhari)
Ganhar o sustento pode ser uma forma de adoração. Os Companheiros viram um homem e ficaram atônitos com seu trabalho duro e indústria. Eles lamentaram: “Se ele estivesse fazendo todo esse trabalho em nome de Deus...”
O Mensageiro de Deus disse:
“Se ele estiver trabalhando para sustentar seus filhos pequenos, então isso é em nome de Deus. “Se ele estiver trabalhando para sustentar seus pais idosos, então isso é em nome de Deus. Se ele estiver trabalhando para se ocupar e manter seus desejos sob controle, então isso é em nome de Deus. Se, por outro lado, ele estiver fazendo isso apenas para se exibir e ganhar fama, então ele está trabalhando em nome de Satanás.” (al-Mundhiri, as-Suyuti)
Mesmo os atos mais naturais podem se tornar atos de adoração se forem acompanhados pela intenção adequada: O Mensageiro de Deus disse:
“Quando um de vocês se aproxima de sua esposa, isso é um ato de caridade.” (Saheeh Muslim)
O mesmo pode ser dito sobre comer, dormir e trabalhar, e atributos de bom caráter, como sinceridade, honestidade, generosidade, coragem e humildade, podem se tornar adoração através de intenção sincera e obediência deliberada a Deus.
Para que esses atos mundanos sejam contados como atos de adoração merecedores de recompensa divina, as seguintes condições devem ser atendidas:
A. A ação deve ser acompanhada pela intenção apropriada. O Mensageiro de Deus disse:
“As ações valem pelas intenções, e uma pessoa só recebe aquilo que pretendeu.” (Saheeh Al-Bukhari)
B. A ação deve ser lícita em si mesma. Se a ação for algo proibido, quem a executa merece punição. O Mensageiro de Deus disse:
“Deus é puro e bom, e Ele aceita somente o que é puro e bom.” (Saheeh Muslim)
C. Os ditames da Lei Islâmica devem ser completamente observados. Engodo, opressão e iniqüidade devem ser evitados. O Mensageiro de Deus disse:
“Aquele que engana não é um de nós.” (Saheeh Muslim)
D. A atividade não deve impedir a pessoa de cumprir suas obrigações religiosas. Deus diz:
“Ó vós que credes! Que vossas riquezas e vossos filhos não vos distraiam da lembrança de Deus.” (Alcorão 63:9)
Como vemos aqui, o conceito de adoração no Islã não está restrito ao mero monasticismo, meditação ou reconhecimento da realidade na qual Deus nos criou, nem é baseada em mero ritualismo e execução de certos atos sem significados aparentes. Ao contrário, o Islã combinou o interior e o exterior e definiu o que é virtude e estabeleceu para ela uma recompensa. É através dessa abrangência do conceito de adoração que os humanos podem cumprir o propósito para o qual foram criados. Deus diz:
“E Eu não criei os jinns e os humanos, exceto para Me adorarem.” (Alcorão 51:56)
É exigido dos humanos que não vivam de acordo com seus desejos subjetivos, automatismo, condicionamento mental ou de acordo com o que ditam as autoridades sociais, políticas ou acadêmicas, mas de acordo com seu propósito cósmico inerente em nós: a adoração de Deus.
“Então ergue tua face para a religião, a natureza estabelecida por Deus com a qual Ele criou a humanidade. Não há alteração na criação de Deus, essa é a religião reta, mas a maioria dos homens não sabe.” (Alcorão 30:30)
Quando alguém vive sua vida cumprindo os aspectos que Deus ordenou, deixando as coisas que Deus proibiu, e ajustando cada uma de suas ações à Vontade de Deus, sua vida, de manhã até a noite, do momento do nascimento até a morte, estará voltada para a adoração pela qual será recompensado. Esse foi o estado dos Profetas, como Deus diz:
“De fato, minha oração, meu sacrifício, minha vida e minha morte são de Deus, o Senhor dos mundos.” (Alcorão 6:162)
Quando alguém alcança esse estado, entra em harmonia com o resto da criação e volta ao estado natural do ser, assim como todas as outras criações de Deus estão inconscientemente em constante adoração de Deus, como Ele disse:
“Não viste que diante de Deus se prostra quem está nos céus e na terra, o sol, a lua, as estrelas, as montanhas, as árvores, os animais e muitos entre a humanidade...” (Alcorão 22:18)
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