Melech Yacov, ex-judeu, EUA (parte 1 de 2)
Descrição: Melech nos dá uma visão da vida e religião judaicas e seu afastamento lento do Judaísmo chassídico.
- Por Melech Yacov
- Publicado em 06 Jan 2014
- Última modificação em 06 Jan 2014
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Quando nasci recebi o nome hebraico de Melech Yacov. Hoje continuo morando na área em que nasci, em Nova Iorque. Éramos uma família semirreligiosa; pertencíamos a uma congregação chassídica a qual íamos todos os sábados, mas não respeitávamos todas as observâncias estritas exigidas no Judaísmo chassídico. Para aqueles que não sabem, o chassidismo é conhecido como Judaísmo “ultra ortodoxo”. São chamados assim por causa de suas observâncias estritas da Halacha (lei judaica) e por seguirem o misticismo judaico (cabala). São as pessoas estranhas que você vê andando na rua usando ternos e chapéus pretos e deixando suas barbas e costeletas bem longas.
Entretanto, não éramos assim. Minha família cozinhava e usava eletricidade no Sabbath e eu não usava um yarmulke na minha cabeça. Além disso, cresci em um ambiente secular, cercado por colegas de escolas e amigos não judeus. Por muitos anos continuava a me sentir culpado por dirigir aos sábados e comer alimentos não-kosher.
Embora não observasse todas as normas tinha, entretanto, um forte senso de ser esse o caminho que Deus queria que vivesse e, assim, toda vez que omitia uma norma, estava cometendo pecado aos olhos de Deus. Desde pequeno minha mãe lia para mim as histórias de grandes rabinos como Eliezar, o Baal Shem Tov e as lendas da Haggada (parte do Talmude além da Halacha) e o Torá.
Todas essas histórias tinham a mesma mensagem ética que me ajudou na identificação com a comunidade judaica e, posteriormente, com Israel. As histórias mostravam como os judeus foram oprimidos ao longo da história, mas como Deus sempre ficou do lado de Seu povo até o fim. As histórias com as quais nós judeus crescemos nos mostravam que milagres sempre salvaram os judeus, toda vez em que estiveram em seus maiores momentos de necessidade. A sobrevivência dos judeus ao longo da história, apesar das probabilidades em contrário, é vista como um milagre por si só.
Se uma pessoa quiser uma visão objetiva de por que a maioria dos judeus tem uma posição sionista irracional em relação a Israel, deve entender a forma como foram doutrinados com essas histórias desde criança. É por isso que os sionistas fazem de conta que não estão fazendo nada de errado. Todos os góis (gentios) são vistos como inimigos esperando para atacar e, dessa forma, não são confiáveis. O povo judeu tem um vínculo muito forte entre si e se vê como o “povo escolhido” de Deus. Por muitos anos eu mesmo acreditei nisso.
Embora tivesse um forte sentido de identidade como judeu, não aguentava ir aos serviços religiosos (shul) aos sábados. Ainda me lembro de, quando menino, ser forçado a ir ao shul com meu pai. Lembro o quanto era terrivelmente entediante para mim e como todos pareciam estranhos em seus chapéus pretos e barbas orando em um idioma estrangeiro. Era como ser jogado em um mundo diferente, longe de meus amigos e pessoas que conhecia. Isso era o que eu achava de deveria ser, mas eu (e meus pais) nunca adotei a vida chassídica como o resto de minha família.
Quando fiz 13 anos, tive um bar mitzvah como todo menino judeu que se torna um homem. Também comecei a usar tefilin (amuletos hebreus) todas as manhãs. Disseram que era perigoso não colocá-los porque era como um agouro e coisas ruins podiam acontecer a você. No primeiro dia que não usei o tefilin o carro de minha mãe foi roubado! Aquele evento me encorajou a usá-lo por muito tempo.
Pouco depois do meu bar mitzvah minha família parou de vez de ir à sinagoga. Não conseguiam aguentar três horas e meia de oração e achavam que terem feito meu bar mitzvah era o mais importante. Posteriormente meu pai se envolveu em uma discussão boba com alguns membros da congregação e paramos de ir aos serviços religiosos. Então algo estranho aconteceu: meu pai foi convencido por um amigo a aceitar Jesus em seu coração. Pela vontade de Deus minha mãe não se divorciou do meu pai por conta de sua conversão ao Cristianismo, mas manteve um ódio silencioso a isso desde então.
Também foi um período no início de minha adolescência em que procurei buscar algo com o que me identificar. A conversão de meu pai me ajudou a questionar minhas próprias crenças. Comecei a fazer perguntas como: O que é exatamente um judeu? O Judaísmo é uma cultura, uma nação ou uma religião? Se é uma nação, então como os judeus podem ser cidadãos de duas nações? Se o Judaísmo é uma religião, por que as orações são recitadas em hebraico, orações para Eretz Israel e observância de rituais “orientais”? Se o Judaísmo é apenas uma cultura, a pessoa não deixaria de ser judia se parasse de falar hebraico e praticar os costumes judaicos?
Se um judeu é aquele que observa os mandamentos do Torá, por que Abraão é chamado de o primeiro judeu se viveu antes do Torá descer para Moisés? A propósito, o Torá não diz que ele era judeu; a palavra judeu vem do nome de um dos 12 filhos de Jacó, Judá. Os judeus não eram chamados de judeus até o reino de Judá ser estabelecido, depois da época de Salomão. A tradição diz que um judeu é aquele cuja mãe era judia. Então, você pode continuar sendo um judeu se praticar o Cristianismo ou o ateísmo. Cada vez mais comecei a me afastar do Judaísmo. Havia muitas leis e mitzvahs (boas ações) para observar. Qual o sentido de todos esses rituais diferentes, comecei a me questionar. Para mim eram todos feitos pelo homem.
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