Nascemos “para ser livres”? (parte 2 de 2): O Que Deus Quer de Nós
Descrição: Uma visão islâmica de Destino, e como os muçulmanos implementam de forma prática esse conceito em suas vidas.
- Por Ruqaiyyah Waris Maqsood
- Publicado em 06 Apr 2009
- Última modificação em 06 Apr 2009
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Cada um dos profetas, incluindo Abraão, Moisés, Jesus e Muhammad, ensinou que o que as pessoas escolhem com respeito à crença em Deus e obediência à Sua vontade fará uma grande diferença no resultado final de seus assuntos. Os humanos têm uma capacidade tremenda de amar e serem gentis, ou de odiar e serem destrutivos. Isso significa que embora todos tenham nascido com almas de igual valor, eles não continuam iguais. O livre arbítrio é a mais difícil das dádivas de Deus para se compreender ou apreciar. O ponto do livre arbítrio é dar significado à moralidade humana - sem ele não haveria boa ou má conduta, porque simplesmente seríamos autômatos.
Se não podemos fazer escolhas realmente livres então o julgamento não nos pode ser aplicado – seria totalmente injusto. Quando as pessoas não são livres para fazer escolhas, não podem ser responsabilizadas. Aishah registrou que o Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele, deixou claro que aqueles cuja liberdade ou intelecto eram limitados – por exemplo, aqueles muito jovens ou muito ignorantes, ou cujo equilíbrio mental estivesse comprometido – não podiam ser responsáveis moralmente por suas ações, seja em um tribunal da shariah (ou um tribunal no Reino Unido, por exemplo), ou no julgamento que virá.
Então, e o conceito islâmico de al-Qadr, a doutrina chave do controle final e completo de Deus sobre o cumprimento de eventos, ou Destino? Como se equilibra a idéia de Deus saber absolutamente tudo com a idéia de livre arbítrio? Se Deus sabe antecipadamente tudo que acontecerá, então certamente a vida de uma pessoa deve ser inteiramente predestinada. Além disso, se Deus não intervém para impedir que coisas em particular aconteçam, então se pode dizer que somente Ele é responsável por elas. Isso está ligado ao problema do mal. Quem é responsável pelo mal, se Deus é em última instância responsável por tudo? Um ladrão pode alegar inocência, porque certamente estava predestinado a roubar e, portanto, como poderia ser sua culpa?
Muitas pessoas pensam que todos os muçulmanos são fatalistas, que acreditam que uma vez que ‘tudo está escrito’ e que Deus sabe tudo com antecedência, tudo deve estar predestinado. Nenhum cérebro humano foi de fato capaz de desvendar esse problema totalmente – certamente não o meu – mas toda a questão de Deus enviar Mensageiros com revelações certamente indica que se espera que os humanos ouçam, façam escolhas, e então ajustem suas vidas de acordo (Alcorão 6:91; 23:73). Deus de fato revelou:
“Deus jamais mudará as condições que concedeu a um povo, a menos que este mude o que tem em seu íntimo.” (Alcorão 13:11)
Isso parece indicar que os humanos têm o poder de mudar através de seu próprio livre arbítrio, e essas decisões alteram seus destinos. Deve ser verdade que Deus sabe tudo e toda possibilidade, mas os humanos não. Consequentemente, se um humano escolhe uma coisa em particular, haverá um resultado particular levando a uma conclusão particular. Se o humano escolhe um curso de ação diferente, então o resultado e a conclusão serão diferentes. Se escolher engolir um vidro inteiro de analgésicos, você morrerá essa tarde; mas se escolher engolir apenas dois, pode curar sua enxaqueca e viver até os cem anos. Deus sabe todos os resultados possíveis mas deixa a escolha para você. Podemos não entender, mas Deus pode – Sua ‘inteligência’ é milhões de vezes maior e totalmente diferente da nossa.
A verdade reside no campo do al-Ghayb [questões que estão além da percepção humana]. Tudo que os crentes podem fazer é pedir orientação ao longo de seu caminho na vida. Podemos não ser capazes de ver o caminho da estrada de longe, mas podemos orar para que Deus nos mostre o próximo passo, um passo de cada vez. Se fosse impossível para as pessoas escolherem porque seus futuros e destinos já estavam fixados, não apenas Deus seria injusto ao invés de justo, mas haveria pouco sentido em tentarmos viver vidas boas. O fatalismo leva ao desespero e desesperança, ao derrotismo, e impede as pessoas de fazerem qualquer esforço para melhorarem suas próprias dificuldades ou as dificuldades daqueles ao seu redor.
O que Deus quer de nós? Quer que alcancemos felicidade e sucesso. Ele quer que encontremos a verdadeira liberdade. Se a verdadeira liberdade traz felicidade, então parece que as coisas não são como muitas pessoas pensam. Pode ser muito feliz ser livre para ter um relacionamento com um parceiro diferente cada semana, ou para me empanturrar com comida saborosa mas que não é saudável, ou gastar uma fortuna em roupas ou jóias ou CDs de música pop, ou para fumar, ou ficar fora até tarde dando preocupação aos meus pais, ou evitar tarefas domésticas ou trabalho de casa, ou rir dos meus inimigos, ou ganhar muito dinheiro talvez de forma desonesta, ou ser famoso e admirado por muitas pessoas. São essas coisas que fazem as pessoas felizes?
Como seria simples se assim fosse. É tão fácil para Satanás enganar as pessoas – o caminho que leva à destruição é tão tentador e agradável. Mas pare e pense. Muitas das pessoas mais ricas e poderosas no mundo são as mais solitárias. Pessoas que se empanturram têm todos os problemas e misérias de estarem acima do peso. Os preguiçosos e que evitam aprender em sua juventude acordam para as realidades de suas vidas fracassadas mais tarde. Fumantes que soltam fumaça alegremente por trás de discussões inúteis morrerão jovens de câncer ou infarto – para grande sofrimento daqueles que os amam. Pessoas que são promíscuas geralmente terminam com o coração partido por elas mesmas e pelos filhos que posteriormente negligenciam, abandonam (geralmente pais jovens) ou matam no aborto (as mães jovens).
A verdadeira felicidade é cuidar do que Deus nos emprestou e confiou à nossa guarda por um período breve – nossos corpos, nossas famílias, nossos talentos, nossa sensibilidade em relação aos outros. Isso significa não ser livre para ceder às nossas luxúrias e desejos, as coisas que sabemos muito bem que nos prejudicarão e a outros no curso devido. Mas o estranho é que a pessoa que abre mão desse tipo de liberdade egoísta e concorda em ser um servo de Deus será sempre verdadeiramente livre. Saberão que fizeram o melhor que podiam; suas consciências estarão limpas, seus íntimos estarão confiantes e cheios de esperança, e nunca serão escravos de seus próprios eus, ou de qualquer outra pessoa ou coisa.
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