Graça, Fé e Obras (parte 2 de 4): Palavras, Ações e o Amor de Deus
Descrição: A relação entre fé interior e boas obras no Islã. Parte 2: O papel das palavras e obras na relação com a fé e amor.
- Por J. Hashmi (© 2011 IslamReligion. com)
- Publicado em 13 Jun 2011
- Última modificação em 13 Jun 2011
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A Afirmação da Língua
Deve-se declarar publicamente a fé em Deus. Até Satanás tinha crença em seu coração, mas ele não fez sua promessa de aliança a Deus. Ao contrário, se declarou em rebelião e oposição. Sendo assim, um muçulmano deve declarar que “não há ninguém merecedor de adoração exceto Deus” e deve crer em todos os profetas de Deus que ensinaram essa mensagem.
Ibn Taimiyyah afirmou em O Livro da Fé:
“Aquele que acredita em seu coração, mas não declara verbalmente sua crença, não é considerado um crente nessa vida e nem na Outra Vida. Deus não declarou que essa pessoa - que simplesmente tem conhecimento da fé em seu coração - é um crente na Mensagem [de Deus]. Não é considerado um crente a menos que confirme com suas palavras.
Sendo assim, o discurso exterior é um aspecto essencial da fé e, de acordo com os primeiros sábios e com aqueles que os seguiram, não será salvo a menos que testemunhe verbalmente... aquele que não faz a confissão de fé, embora tenha a habilidade de fazê-lo, é um descrente. É um descrente internamente e externamente.” (Kitab al-Iman - Livro da Fé)
A Importância das Ações
A crença no coração resulta em boas obras. Como pode uma pessoa dizer que acredita no coração, nunca fazer boas obras? O grande sábio Ibn Taimiyyah disse:
“E isso é por que a raiz da fé é o que está no coração e as obras externas são inevitáveis devido a ela. É inconcebível que exista fé no coração e ainda assim não existam [boas] obras dos membros [como consequência]. Ao contrário, quando os atos externos diminuem é devido à diminuição da crença que está no coração.... Uma vez que as obras estão relacionadas ao coração, certamente é desejável que um homem não se contente com a fé no coração e sim com as obras virtuosas que definitivamente a acompanham.” (al-Fatâwâ, 7/198)
O Islã ensina que não existe dicotomia entre crença e obras. Ao contrário, fé e obras se complementam mutuamente e estão interligados. A pessoa que alega crer – e não mostra isso com obras – é uma hipócrita.
Se um homem ama sua esposa no coração, ele a tratará bem com suas ações. Se um homem negligencia e abusa de sua esposa, certamente ele não a ama de verdade. O amor se manifesta em obras. Se um homem ama sua esposa, fará o que a agrada. Se um homem verdadeiramente ama Deus, deve demonstrá-lo em sua obediência aos mandamentos divinos. Essa pessoa saberia como fazer boas obras para agradar Deus. Empenhar-se-ia através de suas obras para buscar a satisfação de Deus, que é o caminho para a salvação.
Al-Hasan al-Basri, um grande sábio do Islã, explicou:
“A fé não se dá através de embelezamento ou interpretações convenientes, mas é o que se estabelece no coração e é verificado através das ações. Quem quer que fale o bem, mas não faça o bem, terá suas palavras comparadas às suas ações por Deus. Quem quer que diga o bem e faça o bem, terá suas palavras elevadas por suas ações. Porque Deus disse:
“Até a Ele ascendem as puras palavras e as nobres ações.” (Alcorão 10:35)
(Ibn Battah em Al-Ibaanah Al-Kubraa 3/120 e Al-Khateeb Al-Baghdaadi em Iqtidaa’ Al-’Ilm Al-’Amal #56.)
Fé verdadeira significa ter esperança e depender da promessa de Deus. Deus Todo-Poderoso diz no Alcorão:
“Adora-O, pois, e encomenda-te a Ele, porque teu Senhor não está desatento de tudo quanto fazeis!” (Alcorão 11:123)
“E encomenda-te ao Vidente, Imortal, e celebra os Seus louvores.” (Alcorão 25:58)
Existe uma diferença entre esperança verdadeira em Deus e mero otimismo. Ibn al-Qayyim (2/27-28) explicou:
“A diferença entre mero otimismo e esperança verdadeira é que o mero otimismo envolve preguiça em que a pessoa não se esforça ou se empenha [para alcançar o que deseja]. Esperança e confiança em Deus, entretanto, implicam em esforço, empenho e bela confiança [em Deus]. O primeiro [mero otimismo] é como aquele que deseja que a terra plante e semeie suas próprias sementes por ele. O segundo [esperança em Deus] é como o que [de fato] cultiva o solo, planta as sementes e então espera que a safra cresça ... A esperança não está correta, exceto se vier acompanhada pela ação.”
Shah al-Kirmani disse:
“O sinal de esperança sólida é boa obediência.” (como citado por Ibn al-Qayyim, 2/27-28)
Ibn al-Qayyim (2/27-28) continuou:
“E esperança é de três tipos: dois são louváveis e um tipo é censurável e mera ilusão. Os dois primeiros são: (1) a esperança de uma pessoa que faz um ato de obediência por Deus, sob a orientação de Deus, esperando nisso uma recompensa; (2) alguém que comete um pecado e se arrepende, esperando pelo perdão, gentileza, magnanimidade, clemência e generosidade de Deus. (3) O terceiro [tipo] é como uma pessoa que persiste no pecado e na transgressão dos limites e ainda assim espera pela misericórdia de Deus sem fazer qualquer ato [para garanti-la]. Isso é ilusão, mero otimismo e falsa esperança.”
Devemos amar Deus. Mas não devemos amar Deus somente com nossos corações, mas amar Deus com nossas ações. Se orarmos ao longo da noite, isso instilará em nossos corações a lembrança de Deus. Disso, vemos que uma ação (como a oração) pode reforçar nossa crença interior. Por outro lado, ações pecaminosas diminuem a fé. Se um homem passa a noite em fornicação ilícita, isso afetará seu coração e diminuirá sua fé. Boas ações fortificam a crença no coração, enquanto que a ação má corrompe o coração.
A verdade é que aqueles que alegam amar Deus – e ainda assim não têm obras para provar – não têm crença em seus corações, convicção em suas línguas e suas ações não refletem coisa alguma, exceto o vazio de seus corações. Encontramos muitas pessoas de algumas crenças que fazem alegações pomposas sobre seu suposto amor por Deus e, ainda assim, não as apóiam com suas ações. Um muçulmano deve recitar a Declaração de Fé, ou shahada, como é conhecida em árabe. A palavra literalmente significa “testemunhar” e significa ser uma testemunha de que não existe nada merecedor de adoração exceto Deus. Testemunhar com a língua é uma tarefa fácil; é um sinal muito maior de crença testemunhar a glória de Deus com o corpo, ações e até mesmo com a vida. É por isso que a palavra shahid (aquele que fisicamente dá sua vida a Deus) vem da mesma raiz de shahada (Declaração de Fé), porque a forma mais excelente de declarar a glória de Deus é com as ações e não apenas com a língua.
É uma questão de bom senso: um filho dizer ao pai que o ama é uma coisa, mas se lhe oferecer seu próprio rim, é um nível mais alto de amor. Um homem pode dizer que ama seu país, mas é um nível mais alto para um homem arriscar sua vida no exército defendendo seu país. Pode soar clichê, mas é um truísmo que ações falam mais alto que palavras. Com frequência vemos que os adeptos de certas crenças estão ocupados nos dizendo quanto amam Deus, mas não sabem que nós muçulmanos estamos muito ocupados demonstrando como amamos Deus! Demonstramos nosso amor a Deus cinco vezes ao dia, quando nos curvamos perante Ele em oração, e quando aderimos aos mandamentos de Deus. Além disso, os muçulmanos são muito humildes e tímidos para reivindicar que nosso amor por Deus é tão forte que nos foi prometido o Paraíso! Quem é superior: a pessoa que continuamente promove seu amor por Deus ou aquela que humildemente o manifesta em suas obras, se empenhando para agradar seu Senhor?
No Alcorão, Deus Todo-Poderoso ordenou ao profeta que dissesse aqueles que alegam amar Deus para apoiarem isso com suas obras em obediência:
“Dize: Se verdadeiramente amais a Deus, segui-me; Deus vos amará e perdoará as vossas faltas, porque Deus é Indulgente, Misericordiosíssimo.” (Alcorão 3:31)
Esse é um desafio de Deus Todo-Poderoso, no qual Ele nos diz que se nós verdadeiramente amamos Deus, devemos obedecer aos mandamentos de Deus para provar. Se, entretanto, desafiamos as leis de Deus não O amamos realmente, e isso é falta de sinceridade e mera hipocrisia.
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