Unitarianismo (parte 1 de 2)
Descrição: O Unitarianismo é uma ramificação do Cristianismo. Sua história inicial e influência do Islã é traçada junto com a comparação com a fé Bahai e o Cristianismo.
- Por Imam Mufti (© 2017 IslamReligion.com)
- Publicado em 14 Aug 2017
- Última modificação em 25 Jun 2019
- Impresso: 9
- 'Visualizado: 10,723 (média diária: 4)
- Classificado por: 0
- Enviado por email: 0
- Comentado em: 0
Introdução
Como outros ramos do Cristianismo, o Unitarianismo não é exceção para uma grande diversidade de crenças, adoração e uma história complexa. Nos EUA, historicamente o Unitarianismo tem sido relacionado de maneira muito próxima com o Universalismo e conhecido com Universalismo Unitário ou UU, abreviado. O Universalismo, fundado por um inglês chamado John Murray, é uma crença de que o amor de Deus redimirá todas as pessoas do pecado. Em palavras simples, todos serão salvos. Alguns consideram o UU parte do Cristianismo liberal, outros não. O UU atualmente está presente em vinte e nove países.
Desenvolvimento histórico inicial
Os unitários remontam a 325 EC e o Concílio de Niceia, no qual a igreja votou que Deus e Jesus tinham uma relação de pai e filho. Os unitários primitivos afirmavam ter a fé original, pré-Niceia, que foi condenada como heresia. Ário (256-336 EC), um padre de Alexandria, afirmou que Jesus não era Deus. Suas ideias foram rejeitadas no Concílio de Niceia em 325 EC. O "universalismo" também foi condenado como heresia dois séculos depois em 553 EC, em Constantinopla, no Quinto Concílio Ecumênico.
Historicamente o Unitarianismo teve uma presença global e os universalistas existem somente na América do Norte. O Unitarianismo tem uma história longa remontando ao movimento humanista italiano do século 15, que criou igrejas unitárias na Polônia, Grã-Bretanha e colônias britânicas.
Influência do Islã e tolerância dos muçulmanos
Miguel Servet (1511-1553 EC) da Espanha reviveu a ideia de que a trindade não era baseada na Bíblia. Foi influenciado pelos muçulmanos que viviam na Península Ibérica na época. Na realidade usou o Alcorão, o texto sagrado muçulmano, para atacar a trindade em seu livro "The Restoration of Christianity" (A Restauração do Cristianismo, em tradução livre) [1] e negou o conceito de pecado original. No fim foi queimado na estaca, em 1553 EC. É considerado um dos fundadores do Cristianismo liberal. Os unitários/antitrinitários se espalharam junto às fronteiras da Cristandade com o império muçulmano Otomano, já que seu povo era forçado a lidar com outros pontos de vista, tornando os cristãos dessas áreas mais tolerantes[2]. E "por causa das interações interculturais com o Islã, um tipo de Cristianismo pode emergir cujo profeta não era divino, mas mais como Mohammed." [3]
Os muçulmanos mostraram tolerância em relação aos unitários. Solimão I, do império muçulmano Otomano, deu apoio à monarquia de João Sigismundo, o único rei unitário na história. Solimão enviou um emissário para testemunhar a rainha Isabella amamentando o jovem príncipe, depois de saber de seu nascimento em 1540. Então, no ano seguinte o sultão enviou tropas para resgatar o exército de Isabella em Buda, que estava prestes a ser derrotado por Ferdinando do império de Hasburgo. A historiadora Susan Ritchie argumenta que há uma influência direta da tolerância islâmica sobre o Édito de Torda, que foi a "primeira articulação moderna do princípio de tolerância religiosa pelos europeus, a nível de norma de estado." [4]
Unitarianismo e fé Bahai
De algumas formas, o UU é para o Cristianismo o que a fé Bahai é para o Islã. Ambos se originaram de uma religião principal da qual tomaram emprestado alguns elementos e também tomaram emprestado fortemente de outras religiões e filosofias. Nenhuma delas tem uma escritura ou credo[5] como referência. Ambas são uma combinação de humanismo, religião e outras filosofias com um número bem pequeno de seguidores.
O Unitarianismo moderno é cristão?
O UU é cristão? A resposta depende do local e do indivíduo. Próximo da Romênia, é. Na Grã-Bretanha e Irlanda, geralmente é cristão. Nos EUA e Canadá, não é. Nos EUA, a fé não exige crença no Cristianismo para salvação e promove que outras religiões são válidas. Existem membros que acreditam em Deus e membros que não.
Unitarianismo & Cristianismo comparados
O Unitarianismo é considerado uma religião ética, não uma religião baseada em um credo. O UU é baseado na ética cristã, mas, ao mesmo tempo, não é tradicionalmente cristão. O Cristianismo predominante acredita que a morte de Jesus revelou Deus para a humanidade e a ressurreição de Jesus é o pilar de seu credo, enquanto que o UU não exige uma crença no sobrenatural. Os unitários negam a trindade com não razoável e não bíblica. Os unitários não aderem ao padrão cristão de aceitar Jesus Cristo como Senhor e Salvador. São contra o batismo de crianças. É por isso que é possível ser unitário budista ou hindu.
O UU carece de uma estrutura visível. Não existem orações ou rituais específicos. Muitos não usam a Bíblia de forma alguma, alguns têm serviços irregulares baseados na Bíblia. A meditação budista e a ioga são ativamente encorajadas. A fé é mostrada por meio de trabalho social.
A prática unitária britânica difere da americana. Nos EUA existem algumas congregações que usam livros de orações e outras que nem ao menos dizem a palavra "oração".
Notas de rodapé:
[1] Peter Hughes, "Servetus and the Qur’an," The Journal of Unitarian Universalist History, Volume xxx
(2005), p. 61.
[2] Diarmaid MacCulloch, The Reformation: A History (Nova Iorque: Viking Penguin, 2003), p. 255.
[3] ‘Introduction to the Unitarian and Universalist Traditions’ de Andrea Greenwood & Mark Harris, p. 21
[4] Susan Ritchie, "The Pasha of Buda and the Edict of Torda: Transylvanian Unitarian/Islamic Ottoman
Cultural Enmeshment and the Development of Religious Tolerance," Journal of Unitarian Universalist
History, Volume xxx (2005), p. 37.
[5] ‘Introduction to the Unitarian and Universalist Traditions’ de Andrea Greenwood & Mark Harris, p. 3
Adicione um comentário