Capítulo 2, versículos 285 & 286: Crenças básicas e relação com Deus (parte 1 de 2)

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Descrição: Uma discussão dos dois últimos versículos do capítulo 2, que definem as crenças básicas de um muçulmano, sua humildade e relação com Deus. Parte 1 discute as crenças básicas e a prestação de contas da humanidade na Outra Vida. 

  • Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
  • Publicado em 12 Dec 2016
  • Última modificação em 12 Dec 2016
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"O Profeta (Muhammad) crê no que foi enviado a ele de seu Senhor, e assim também os crentes. Todos creem em Deus, Seus anjos, Seus livros e Seus profetas. (Eles dizem,) ‘Nós não fazemos distinção entre nenhum de Seus profetas.’ Disseram: ‘Escutamos e obedecemos.Só anelamos a Tua indulgência, ó Senhor nosso! A Ti será o retorno!’ Deus não impõe a nenhuma alma uma carga superior às suas forças. Beneficiar-se-á com o bem quem o tiver feito e sofrerá mal quem o tiver cometido. Ó Senhor nosso, não nos condenes, se nos esquecermos ou nos equivocarmos! Ó Senhor nosso, não nos imponhas carga, como a que impuseste a nossos antepassados! Ó Senhor nosso, não nos sobrecarregues com o que não podemos suportar! Tolera-nos! Perdoa-nos! Tem misericórdia de nós! Tu és nosso Protetor! Concede-nos a vitória sobre os incrédulos!" (Alcorão 2: 285 & 286)

Chapter-2,-Verses-285---286.jpgEsses são os dois últimos versículos do segundo capítulo do Alcorão, Al-Baqarah ou, em português, A Vaca. Esse capítulo foi revelado em Medina e é o mais longo no Alcorão. Foi revelado ao longo de vários anos e o tema cobre uma gama de questões, predominantemente regras, mas também doutrinas de fé e conceitos islâmicos fundamentais. Os dois últimos versículos fornecem um resumo dos temas principais do capítulo e definem as crenças básicas de um muçulmano, destacando a relação do crente com Deus.

De acordo com as tradições do profeta Muhammad, a recitação desses dois versículos contém muitas virtudes. Por exemplo, o profeta Muhammad disse a seus companheiros: "Quem recita os dois últimos versículos de Al-Baqarah à noite, isso lhe será suficiente (contra qualquer mal)".[1] Estão entre os versículos mais memorizados e recitados do Alcorão.

Começamos com a confirmação de que o mensageiro, profeta Muhammad, crê no que foi enviado a ele. Assim fazem aqueles que o seguem, conhecidos e descritos como os crentes. A fé do profeta Muhammad deriva diretamente das revelações que recebeu. É aqui que quatro artigos de fé são esboçados. Os muçulmanos creem em Deus, Seus anjos, Seus livros e Seus mensageiros.

Deus é a autoridade suprema e toda a autoridade temporal deriva Dele. Ele não tem parceiros e é o único provedor de vida e sustento. A crença nos anjos constitui crença no invisível, algo além da observação humana. O que a humanidade pode ver e sentir é apenas uma pequena parte da realidade. A crença nas escrituras e mensageiros de Deus flui naturalmente a partir da crença em Deus. Crer em Deus é acreditar em tudo que é revelado por Ele. Temos uma série de livros, como o Torá, o Evangelho e os Salmos, e uma série de mensageiros.  Os seguidores do profeta Muhammad são os herdeiros para essa orientação.

Os próprios crentes dizem que não discriminam entre quaisquer dos mensageiros. Não acreditam em alguns e rejeitam outros. É uma confirmação de que todos os mensageiros vieram com a mesma mensagem: adorar a um Deus. As leis trazidas pelos mensageiros antes do profeta Muhammad são ab-rogadas, mas a essência da adoração, a mensagem em si, permanece a mesma: não há divindade merecedora de adoração, exceto Deus.

Os crentes dizem: ouvimos a mensagem e obedecemos os mandamentos de Deus. Depois da aceitação das crenças básicas, os muçulmanos se submetem obedientemente à vontade de Deus. A submissão é uma expressão externa de sua fé. Com submissão e obediência vem o reconhecimento das deficiências e, assim, o crente apela a Deus por perdão, um apelo para que Ele releve suas falhas e defeitos.  "Conceda-nos o perdão", pede o crente. É ao mesmo tempo um apelo e uma súplica.

O crente também reconhece a realidade da Outra Vida. Retornaremos a Ti (Deus), dizem. Isso implica em crença na Outra Vida e é outro artigo de fé: crença no Dia do Juízo e na prestação de contas da humanidade. A crença na Outra Vida desempenha um papel central em moldar a consciência e comportamento de uma pessoa e sua percepção das consequências de suas ações.

Quando prosseguimos, Deus aborda um problema que incomodava muitos dos companheiros do profeta Muhammad. Como novos muçulmanos, novos crentes, estavam preocupados em terem que prestar contas por seus pensamentos e punidos de acordo, mesmo se nenhuma ação pecaminosa fosse cometida. Deus acalma seus temores dizendo que não sobrecarrega uma alma com mais do que ela pode suportar. O crente entende que Deus está completamente ciente das limitações e habilidades da humanidade, como um todo e especificamente. O indivíduo não será sobrecarregado ou colocado sob coação. Isso alivia as mentes de todos os crentes.

Deus não pede a uma pessoa o que está além de sua habilidade.  Isso demonstra a bondade, compaixão e generosidade de Deus com Sua criação. Ressalta por que Deus é conhecido como O Misericordioso. A próxima frase nos leva um passo adiante, ao enfatizar a responsabilidade individual.  Cada pessoa recebe o bem que tiver feito e sofre ou é punida pelo mal que tiver feito. Nenhum ser humano suporta mais do que é capaz e a recompensa ou punição é dosada por indivíduos. Os pecados do pai não são transferidos para os filhos.



Notas de rodapé:

[1] Saheeh Al-Bukhari, Saheeh Muslim

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Capítulo 2, versículos 285 & 286: Crenças básicas e relação com Deus (parte 2 de 2)

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Descrição: Uma discussão dos dois últimos versículos do capítulo 2, que definem as crenças básicas de um muçulmano, sua humildade e relação com Deus.  Parte 2 explica as belas súplicas no final do capítulo.

  • Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
  • Publicado em 12 Dec 2016
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Chapter-2,-Verses-285---286Part2.jpgNo artigo anterior estabelecemos que Deus não sobrecarrega uma pessoa além de sua capacidade e que cada um é responsável por suas próprias ações.   No Dia do Juízo ninguém é capaz de interceder em nome de outra pessoa.  Cada um se apresentará sozinho diante de Deus e somente Deus questionará Seus servos e os julgará.  Boas ações serão levadas em conta e geralmente serão multiplicadas.  De acordo com o princípio de que uma má ação pertence somente àqueles que a cometeram, uma pessoa será punida somente por uma má ação que efetivamente realizou, não algo que veio à mente involuntariamente.

O profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, disse: "Deus perdoou minha Ummah pelo que dizem para si mesmos, desde que não pronunciem ou executem o que pensaram." [1] Também nos disse que: "Deus disse (aos Seus anjos): ‘Se Meu servo tiver a intenção de fazer uma má ação, não a registrem e, se ele a cometer, registrem como uma má ação. Se tiver a intenção de fazer uma boa ação, mas não a executar, então registrem como uma boa ação. Se ele a executar, registre-a como dez boas ações.’" [2]

A seguir Deus explica aos crentes como suplicar e pedir perdão e misericórdia.  O capítulo de abertura do Alcorão foi uma lição de como louvar e pedir orientação. Essa é uma lição sobre a melhor maneira de implorar a Deus.   Essencialmente é um apelo sincero dos crentes e uma oração ou súplica que define a relação do crente com Deus.  Implica a fraqueza humana e necessidade de misericórdia e perdão de Deus.  Não nos condenes, se nos esquecermos ou nos equivocarmos.  Erro ou esquecimento são duas características que definem o comportamento humano.  Entretanto, um crente sempre busca a ajuda de Deus e se volta para Ele arrependido. 

Subsequentemente os crentes apelam a Deus pedindo que não os sobrecarregue como os que vieram antes de nós.  Esse é um apelo dos fracos para o Todo-Poderoso.  No passado as pessoas carregavam fardos muito pesados que, portanto, contribuíam para que falhassem em seus deveres com seu Senhor.  Leis severas foram estabelecidas para as nações anteriores por conta do que impuseram a si mesmas; esse capítulo esboçou vários episódios que indicam isso na história dos filhos de Israel. Com isso em mente encontramos um apelo apaixonado por facilidade e leis que sejam fáceis de seguir e cumprir.

Tolera-nos, perdoa-nos e tem misericórdia de nós.  Essa frase encapsula a única garantia real de sucesso nessa vida e admissão ao Paraíso: a misericórdia de Deus.  Não importa o quanto uma pessoa se empenhe, não alcançará nada a menos que Deus lhe conceda Sua misericórdia.  Aisha, a esposa amada do profeta Muhammad, nos transmitiu que o profeta disse que ninguém alcançará o Paraíso em virtude somente de suas ações.  Ela relatou ter perguntado a ele: "Nem mesmo tu?" e ele respondeu: "Nem mesmo eu, a menos que Deus me conceda Seu perdão e misericórdia." [3]

Tu és nosso Protetor significa que Tu és nosso apoiador e ajudante.  Os crentes dizem que Tu és procurado para todo tipo de ajuda, Tu és o Único em Quem verdadeiramente nos apoiamos.  Não existe poder ou força exceto em Ti, Ó Senhor.  A linha final apela para a vitória sobre os descrentes.  Significa aqueles que rejeitam a mensagem, se recusam a aceitar a religião oferecida a eles e aqueles que negam a Unicidade de Deus.   Essa é uma afirmação que estimula os crentes a colocarem sua total confiança em Deus, que é capaz de fazer todas as coisas e defender a Verdadeira Religião contra seus inimigos.

Em mais de uma narração das tradições[4] do profeta Muhammad está registrado que Deus respondeu a essa súplica com as palavras "Eu farei" e em outra narração é dito que Deus respondeu "Eu fiz".  Esse longo capítulo que cobre muitas normas e regulamentações termina detalhando as obrigações de um crente nessa vida, enfatizando que Deus conhece bem Sua criação e considera as fraquezas e deficiências da humanidade.  Afirma que Deus não sobrecarregará os crentes.  Em conclusão, esses versículos finais são um resumo conciso dos temas do capítulo e também um resumo das características centrais da fé de um crente.



Notas de rodapé:

[1]Saheeh Muslim, Saheeh Bukhari, Ahmad, An-Nasa’ie

[2]Saheeh Muslim, Saheeh Al-Bukhari

[3]Saheeh Al-Bukhari

[4] Saheeh Muslim

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