Essa vida terrena versus o melhor retorno (uma explicação do Alcorão 3:14 – 18) (parte 1 de 2)
Descrição: Uma introdução a cinco versículos inspiradores do Alcorão e uma discussão mais profunda do versículo 3:14.
- Por Aisha Stacey (© 2017 IslamReligion.com)
- Publicado em 10 Apr 2017
- Última modificação em 10 Apr 2017
- Impresso: 20
- 'Visualizado: 9,181
- Classificado por: 0
- Enviado por email: 0
- Comentado em: 0
O Alcorão é o livro que os muçulmanos creem ser as palavras diretas e literais de Deus e é o maior presente de Deus para a humanidade. Não é como nenhum outro; não é um livro de história, de contos ou um manual científico, embora contenha todos esses gêneros. O Alcorão e sua habilidade surpreendente de falar ao coração de qualquer ser humano é um fenômeno belo. Parece compreender os pensamentos mais profundos de uma pessoa e podem responder perguntas formuladas pela metade pelo leitor. No segundo versículo do segundo capítulo do Alcorão, Deus descreve o Alcorão chamando-o de um livro no qual não há dúvida, há orientação para os virtuosos, piedosos etementes a Deus (Alcorão 2:2). Uma pessoa pergunta ou até pensa a pergunta e o Alcorão oferece orientação. Venha comigo em uma viagem de descoberta, ele parece dizer. Acena ao leitor a examinar profundamente o coração da humanidade e ver o mundo através dos olhos de Deus.
Nesse artigo examinaremos e discutiremos cinco versículos do terceiro capítulo do Alcorão. Esse capítulo é chamado "A família de Imran" (Aali Imran). O Alcorão nos conta que Imran é o pai de Maria, a mãe de Jesus. A família toda inclui o profeta Zacarias e o homem que os cristãos conhecem como João Batista, tido em alta consideração. Esse capítulo fala particularmente aos cristãos e os exorta a adorar o Deus Único. Entretanto, nesse capítulo estão contidos alguns belos pedaços de prosa que descrevem a natureza da humanidade. E quem é melhor para nos descrever e nos dar uma visão de nossa natureza complicada que nosso Criador - Deus?
Os versículos a seguir começam pela descrição de nosso desejo de estarmos cercados pela beleza e nossa inclinação natural a coletar coisas terrenas, nos apegarmos e ficarmos satisfeitos com elas. Eles então nos lembram que a vida eterna no Paraíso vale mais que esse mundo e tudo que ele contém, e nos mostram como podemos alcançar esse objetivo supremo.
Aos homens foi abrilhantado o amor à concupiscência relacionada às mulheres, aos filhos, ao entesouramento do ouro e da prata, aos cavalos de raça, ao gado e às sementeiras. Tal é o gozo da vida terrena; porém, a bem-aventurança está ao lado de Deus.
Dize (ó Profeta): Poderia anunciar-vos algo melhor do que isto? Para os que temem a Deus haverá, ao lado do seu Senhor, jardins, abaixo dos quais correm rios, onde morarão eternamente, junto a companheiros puros, e obterão a complacência de Deus. Porque Deus é observador dos Seus servos.
Que dizem: ó Senhor nosso, cremos! Perdoa os nossos pecados e preserva-nos do tormento infernal.
São perseverantes, verazes, consagrados (a Deus), caritativos, e nas horas de vigília imploram o perdão a Deus.
Deus dá testemunho de que não há mais divindade além d’Ele; os anjos e os sábios O confirmam Justiceiro; Não há mais divindades além d’Ele, o Poderoso, o Prudentíssimo. (Alcorão 3:14 – 18)
A primeira frase nos conta que Deus encheu a terra com beleza e deliberadamente embelezou as coisas que desejamos, as que naturalmente cobiçamos. Essa vida é um deleite. Existem muitas tradições da vida do profeta Muhammad que testemunham isso.
A vida é um deleite e o melhor deleite é uma esposa virtuosa.[1]
Em verdade o mundo é verde e úmido e Allah os fez em gerações sucessivas para observar como agirão. Então, cuidado com o mundo...[2]
As mulheres e o perfume me são caros, mas a oração é a doçura dos meus olhos.[3]
Não entrará no Paraíso quem tiver um átomo de arrogância em seu coração." O profeta Muhammad disse: "Não entrará no Paraíso quem tiver um átomo de orgulho em seu coração." Um homem disse: "E se o homem gostar de boas roupas e sapatos"? Ele disse: "Deus é belo e ama a beleza. Orgulho significa negar a verdade e olhar para as pessoas com desdém."[4]
3:14 Aos homens foi abrilhantado o amor à concupiscência relacionada às mulheres, aos filhos, ao entesouramento do ouro e da prata, aos cavalos de raça, ao gado e às sementeiras. Tal é o gozo da vida terrena; porém, a bem-aventurança está ao lado de Deus.
Aqui Deus nos lembra que é perfeitamente natural desejar as coisas boas que Deus nos proveu. Não só é natural, mas aceitável encontrar alegria nos deleites dessa vida, desde que se lembre que as alegrias desse mundo se desvanecem e seus deleites são perecíveis. A vida na terra pode ser cheia com beleza, nosso ambiente pode ser magnificente, o clima pode nos dar uma sensação de deslumbramento e as coisas que amamos podem nos fazer felizes. Entretanto,
Isso é enfatizado no Alcorão 57:20. Sabei que a vida terrena é tão-somente jogo e diversão, veleidades, mútua vanglória e rivalidade, com respeito à multiplicação de bens e filhos; é como a chuva, que compraz aos cultivadores, por vivificar a plantação; logo, completa-se o seu crescimento e a verás amarelada e transformada em feno.
Desejamos um cônjuge do sexo oposto e uma família, mas devemos lembrar que o amor e o desejo de agradar nossa família pode às vezes nos levar a cometer pecados. A busca por riqueza é uma coisa perfeitamente natural e admirável, especialmente se queremos gastar essa riqueza sendo gentis com a família, amigos ou vizinhos e fazendo vários atos de retidão e obediência. Entretanto, se a busca de riqueza resulta em arrogância e comportamento dominador em relação aos menos ricos, não é mais admirável e sim uma causa de pecado. É interessante notar que Deus não menciona que os seres humanos desejam apenas ouro e prata, mas que desejamos pilhas ou acúmulo de riqueza, indicando nosso desejo de acumular cada vez mais riqueza. Esse é um desejo profundo em nós e devemos tomar cuidado para controlá-lo, ao invés de deixá-lo nos controlar.
Não deixe seu amor inato pelas coisas belas distanciá-lo de Deus. Há um lugar para as coisas boas nesse mundo. Elas foram criadas para que as desfrutemos, mas devem continuar em seus lugares e não devem ser colocadas acima da obediência a Deus. O profeta Muhammad também nos lembrou disso quando comparou a vida desse mundo a um lugar no Paraíso. Disse: "Um lugar no Paraíso do tamanho do espaço entre um arco e sua corda é melhor que toda a terra na qual o sol nasce e se põe."[5]
Continuaremos nossa discussão, começando com o versículo 3:15 na parte 2.
Essa vida terrena versus o melhor retorno (uma explicação do Alcorão 3:14 – 18) (parte 2 de 2)
Descrição: Uma discussão referente aos versículos 15-18. Isso inclui uma descrição das qualidades dos que alcançarão a bênção eterna, com ênfase na importância de adorar somente a Deus.
- Por Aisha Stacey (© 2017 IslamReligion.com)
- Publicado em 10 Apr 2017
- Última modificação em 10 Apr 2017
- Impresso: 14
- 'Visualizado: 8,687
- Classificado por: 0
- Enviado por email: 0
- Comentado em: 0
No versículo 15 Deus nos lembra do valor dessa vida, comparado com o Paraíso. Essa vida pode ter muitas coisas maravilhosas, mas o que espera por aqueles que são piedosos e se lembram Dele, não se parece com nada que se pode imaginar.
3:15 "Dize (ó Profeta): Poderia anunciar-vos algo melhor do que isto? Para os que temem a Deus haverá, ao lado do seu Senhor, jardins, abaixo dos quais correm rios, onde morarão eternamente, junto a companheiros puros, e obterão a complacência de Deus."
A recompensa suprema para aqueles que obedecem a Deus e se lembram Dele com frequência será jardins eternos sob os quais correm rios. Haverá rios de leite e de mel, rios de água tão puros e prazerosos como nada que uma pessoa possa imaginar. Não só isso. Durarão para sempre. A alegria não terminará. O profeta Muhammad acrescenta à descrição de Deus quando diz: "Há saúde eterna e nunca ficarão doentes. Há vida eterna e nunca morrerão. Há juventude eterna e nunca envelhecerão. E há bênção eterna e nunca precisarão de nada."[1]
Nesse ponto compreendemos que embora Deus tenha nos provido com a morada mais bela e admirável aqui na terra, ela está longe de ser perfeita. Somos queimados pelos raios do sol, apesar de ele nos aquecer e nutrir, insetos podem arruinar nossa diversão em ambientes naturais, às vezes com picadas letais ou espalhando doenças, desastres naturais transformam paisagens deslumbrantes em ruínas e decadência e, claro, a humanidade em si é responsável pela destruição de nosso habitat mais belo. Isso não acontecerá no Paraíso. Nossa serenidade é eterna e a beleza permanece bela. Além disso, somos providos com cônjuges purificados. Somos companheiros uns dos outros, não há morte e nem condições terrenas, como menstruação ou defecação.
Assim, nos perguntamos: quem merece essa vida eterna abençoada? Deus responde aos nossos pensamentos.
3:16 Em verdade, quanto àqueles que dizem: "Ó Senhor nosso, cremos! Perdoa os nossos pecados e preserva-nos do tormento infernal."
Aqueles que acreditam no Deus Único e se submetem a Ele são os que merecem essa vida eterna abençoada, os crentes. Desejam muito ser parte dessa vida eterna maravilhosa e inspiradora e Deus descreve suas ações em muitos detalhes, para que não haja espaço para dúvidas. Se uma pessoa deseja viver para sempre no Paraíso, então essa pessoa deve se empenhar para agradar a Deus. O versículo 17 descreve um pouco mais que tipo de pessoas serão salvas da punição do Inferno.
3:17 São perseverantes, verazes, consagrados (a Deus), caritativos, e nas horas de vigília imploram o perdão a Deus.
Esses são os crentes que são pacientes. Ibnul Qayyim explicou[2] que ter paciência significava ter a habilidade de determos o desespero, refrearmos a reclamação e nos controlarmos em tempos de tristeza e preocupação. O genro do profeta Muhammad, Ali ibn Abu Talib, definiu paciência como "buscar a ajuda de Deus".[3]
Os outros atributos deles incluem serem crentes e obedientes, seguir as leis e mandamentos de Deus com sinceridade e da melhor forma que puderem. Eles se lembram de Deus e são agradecidos. "Recordai-vos de Mim, que Eu Me recordarei de vós. Agradecei-Me e não Me sejais ingratos!" (Alcorão 2:152). Gastam de sua riqueza com os membros da família, vizinhos e estranhos. São gentis, ajudam os destituídos e confortam os necessitados. E entre os que merecem a vida eterna estão os que oram na última parte da noite.
O profeta Muhammad tentou instilar em nós, seus seguidores, os benefícios e o desejo de orar na última parte da noite. Disse: "O Senhor desce todas as noites para o mais baixo dos céus, quando um terço da noite permanece e diz: "Quem chamará por Mim, para que Eu possa atender? Quem Me pedirá, para que Eu possa dar? Quem buscará o Meu perdão, para que Eu possa perdoar?"[4]
Se ler esse capítulo do Alcorão desde o início, notará que Deus o começa nos lembrando de que não existe deus exceto Ele. Ele diz: "La ilaha illa Huwa (Deus! Não há mais divindade além d’Ele!) Al-Hayyul-Qayyum (O Vivente, Sustentador de tudo que existe)" (Alcorão 3:2). E agora apenas uns poucos versículos depois, Ele nos lembra novamente.
3:18 Deus dá testemunho de que não há mais divindade além d’Ele; os anjos e os sábios O confirmam Justiceiro; Não há mais divindades além d’Ele, o Poderoso, o Prudentíssimo.
Não existe divindade merecedora de adoração exceto Ele. Não existe autoridade merecedora de obediência exceto Ele. Aqui no versículo 18 o próprio Deus testemunha que não existe deus exceto Ele." Assim como não há nada maior que Deus, não há afirmação mais verdadeira que essa. Ninguém mais tem o direito de ser adorado exceto Ele. É o ponto central, a essência do Islã. Existe Um Deus e somente Ele merece adoração. Nos primórdios do Islã e, claro, no século 21, existem muitas pessoas que creem em Deus, o Criador, mas estabelecem parceiros ou rivais ao lado Dele.
"E ninguém é comparável a Ele!" (Alcorão 112:4)
" Atribuíram-Lhe parceiros que nada podem criar, uma vez que eles mesmo são criados. Nem tampouco poderão socorrê-los, nem poderão socorrer a si mesmos." (Alcorão 7:191-192)
"Ele é o Primeiro e o Último; o Visível e o Invisível, e é Onisciente." (Alcorão 57:3)
Esse é um assunto importante para conhecer e compreender. Os anjos também testemunham essa verdade e também os sábios. Os sábios sabem com certeza que Deus é Único. Nesse versículo Deus mencionou os sábios ao lado Dele e dos anjos e, assim, somos capazes de compreender que buscar conhecimento e ensinar a verdade é muito importante.
Em seguida Deus nos lembra que Ele mantém Sua criação com justiça. "Nós enviamos Nossos Mensageiros com claros sinais e fizemos descer com eles o Livro e a Balança de modo a estabelecer justiça entre os homens..." (Alcorão 57:25) Deus é justo e equitativo e a palavra árabe usada no versículo 18 é qist. É traduzida geralmente como justiça, mas abrange não só a justiça, mas também equidade e equilíbrio. Você não se pergunta por que estamos na distância certa do sol? Um pouco mais próximos queimaríamos e um pouco mais afastados congelaríamos. Deus mantém Sua criação com justiça, com equilíbrio. Imaginem a precisão e cronologia que permite ao mundo e tudo que está nele funcionar. Sistemas complexos trabalham perfeitamente. Deus conclui repetindo a frase: "Ninguém mais tem o direito de ser adorado exceto Ele."
Adicione um comentário