O amor dos companheiros pelo profeta Muhammad (parte 1 de 2): Quem eram os companheiros?
Descrição: Uma descrição da sociedade árabe no advento do Islã e um breve olhar nas pessoas ao redor do profeta Muhammad.
- Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
- Publicado em 21 Mar 2016
- Última modificação em 06 May 2018
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A definição mais amplamente aceita de um companheiro do profeta Muhammad é alguém que encontrou e acreditou no profeta Muhammad e morreu como muçulmano. A tradução em árabe da palavra companheiro é sahabi e companheiros (plural), sahaba. Como todas as palavras árabes existem muitas nuances e níveis de significado. A raiz da palavra é sa-hi-ba e significa proximidade física ou se sentar com. Portanto, um sahabi geralmente é considerado alguém que foi próximo do profeta Muhammad e passou tempo considerável em sua companhia ou presença. Os companheiros, homens, mulheres e crianças, amavam profundamente o profeta Muhammad e qualquer um deles daria a vida em sua defesa ou em defesa da religião emergente.
Tanto Deus quanto o profeta Muhammad retribuíam o amor e devoção dos companheiros.
"Quanto aos primeiros (muçulmanos), dentre os migrantes e os socorredores (Ansar do Mensageiro), que imitaram o glorioso exemplo daqueles, Deus se comprazerá com eles e eles se comprazerão n’Ele; e lhes destinou jardins, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente." (Alcorão 9:100)
O profeta Muhammad, que Deus o exalte, disse: "O melhor de minha nação é a minha geração e depois aquela que a sucede e então aquela que a sucede." [1]
Os companheiros são considerados a melhor geração da nação islâmica, na época e agora. Aprendemos sobre suas etiquetas e maneiras, lemos suas histórias e nos maravilhamos com suas façanhas; admiramos seu zelo religioso e sua profunda devoção a Deus e Seu mensageiro. Entretanto, com frequência nos falta um entendimento holístico de suas vidas. Quem eram esses homens, mulheres e crianças? Quais eram suas vidas antes do advento do Islã? Que tipos de pessoas eram antes de escolherem amar e seguir o profeta Muhammad? E, além disso, o que havia no profeta Muhammad que produzia essa devoção completa?
As pessoas que viviam na sociedade do profeta vinham de estilos de vida diferentes, exatamente como você encontraria hoje em uma cidade pequena. Alguns eram ricos e outros pobres, alguns eram gentis e outros cruéis. Alguns eram honestos e outros não eram. Os companheiros do profeta, que Allah o exalte, eram os melhores dentre todas as pessoas. Ibn Masud, um dos companheiros, disse: "Allah, o Exaltado, escolheu Muhammad como Seu profeta porque ele era o mais piedoso de Seus servos e Allah o enviou com a Mensagem. Allah então escolheu os companheiros do profeta para estarem com ele, porque eles eram os melhores dentre todas as pessoas depois dele."
Na Arábia pré-islâmica não havia sistema de governo e, portanto, não havia lei e nem ordem. Se fossem cometidos crimes, a parte prejudicada fazia justiça com suas próprias mãos. Uma pessoa só se sentia segura entre sua própria tribo e parece que a península estava em um estado constante de guerra. As disputas eram acertadas em batalhas e códigos antigos e galantes, assim como sistemas de honra, eram reconhecidos e usados. O comércio caravaneiro era uma característica importante na Arábia e se fazia e perdia fortunas por meio do comércio de coisas tão diversas como camelos, passas e barras de prata.
O Islã foi capaz de pegar e usar o melhor da sociedade árabe. Suas características inatas de valor, força e furor foram canalizadas e domadas pelo Islã. Uma conexão com Deus mudou as vidas dos companheiros do profeta Muhammad. O Islã pegou um povo indisciplinado e usou para estabelecer um sistema de governo diferente de qualquer outro conhecido pela humanidade. O amor pelo profeta Muhammad mudou vidas então, assim como o faz agora. Deixe-nos olhar para algumas das mudanças nas vidas dos companheiros e veremos que a primeira geração de muçulmanos era muito semelhante às pessoas que se convertem ao Islã agora, no século 21.
Hamzah lbn Abdul Muttalib, o tio paterno do profeta, tinha a mesma idade de Muhammad e eles brincavam juntos quando crianças. Entretanto, quando cresceram seguiram caminhos diferentes. Hamzah preferiu a vida de lazer tentando assegurar um lugar entre os líderes de Meca, enquanto que Muhammad escolheu uma vida de contemplação. Hamzah desfrutava sua vida e era forte e bem respeitado. Parecia estar no caminho da liderança, mas logo todos os seus conhecidos falavam sobre Muhammad e de como ele estava destruindo o estilo de vida que tinham passado a desfrutar. Hamzah se viu tendo que tomar uma decisão quando um dia soube que Muhammad havia sido insultado pelos homens que tinha como amigos em sua busca pela vida boa. Escolheu Muhammad e se converteu ao Islã e, ao fazê-lo, deu as costas a uma vida de luxo e indolência. Hamzah conhecia bem Muhammad, o amava como a um irmão e não achou que fosse uma decisão difícil de tomar.
O caminho de Omar Ibn Al Khattab para o Islã começou com um ódio veemente de Muhammad, mas aquele ódio logo se transformou em amor profundo. Quando os ensinamentos de Muhammad se tornaram um problema para os homens de Meca, Omar pronunciou seu ódio pelo Islã abertamente e participou do abuso e tortura de muitos dos convertidos mais fracos ao Islã. O ódio de Omar pelo Islã e pela forma como a religião mudava as vidas era tão forte, que Omar se ofereceu como voluntário para matar o profeta Muhammad. Ao tomar a decisão e sem um segundo de hesitação, desceu as ruas de Meca com a intenção de desembainhar sua espada e acabar com a vida do profeta de Deus. Omar era um homem forte, temido e admirado por sua coragem, mas ele também foi vencido pela beleza sublime do Alcorão e seu reconhecimento da bondade e justiça inatas do homem Muhammad.
O líder de Meca conhecido como ‘Abu Jahal’ (ou seja, pai da ignorância) se chamava de fato Amr ibn Hisham e era comumente conhecido como 'Abu Hakam' (pai de sabedoria). Sua hostilidade e beligerância incansáveis em relação ao Islã, entretanto, fez com que conquistasse o nome de Abu Jahal entre os muçulmanos. Era um politeísta declarado e odiava o profeta Muhammad. Aproveitava toda oportunidade para amaldiçoá-lo e humilhá-lo. Se descobrisse um convertido, o recriminava e humilhava. Se descobrisse um negociante que tinha se convertido ao Islã, ordenava que ninguém negociasse com ele, arruinando dessa forma seu meio de sustento e fazendo com que empobrecesse. Abu Jahal pereceu na primeira batalha travada contra os mecanos, a batalha de Badr. Seu filho Ikrimah, entretanto, se tornou um dos líderes civis e militares importantes da nação islâmica. Depois de anos de ódio pelo Islã, abraçou a nova fé quando observou a justiça do profeta Muhammad com as pessoas de Meca. Quando Meca foi conquistada o profeta Muhammad podia ter facilmente condenado à morte seus inimigos, mas seu senso de retidão fez com que concedesse perdão e anistia gerais.
Esses três homens eram muito fortes, tanto em caráter quanto fisicamente. Não eram dominados facilmente e eram geralmente os que estavam em posição de comando. Tomaram decisões rápidas e firmes de abraçar o Islã e seguir o profeta Muhammad. No próximo artigo veremos as qualidades e traços de caráter do profeta Muhammad e perguntaremos o que fez as pessoas suportaram tortura e tribulações para apoiar sua nova religião e seguir seu profeta.
O amor dos companheiros pelo profeta Muhammad (parte 2 de 2): Devoção sem comparação
Descrição: Em um mundo violento um homem ficou ao lado da retidão e foi recompensado com a devoção e amor de seus seguidores.
- Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
- Publicado em 21 Mar 2016
- Última modificação em 27 Mar 2016
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A Arábia era uma sociedade violenta e dominada por homens. Os fortes eram bem-sucedidos enquanto que os fracos pereciam. As mulheres eram menos que bens e os bebês do sexo feminino eram enterrados vivos, com menos cuidado do que hoje enterramos nossos animais de estimação. Essas eram as condições sob as quais viviam os homens, mulheres e crianças que se tornaram companheiros do profeta Muhammad. Foi nessa sociedade sem lei que Deus interveio e deu ao mundo o homem conhecido como "uma misericórdia para a humanidade". Esse era um homem que valorizava a vida, honestidade e generosidade. As pessoas o admiravam por sua confiabilidade antes mesmo da revelação do Islã. Era carismático e acessível a todos, homens, mulheres e crianças.
"Nós te enviamos [Ó Muhammad] como uma misericórdia para todos os mundos." (Alcorão 21:107)
Muhammad era um homem altruísta que devotou os últimos 23 anos de sua vida ensinando seus companheiros e seguidores como adorar Deus e respeitar a humanidade. Transmitiu a mensagem imbuída com conceitos de misericórdia, perdão e justiça para todos. Era uma mensagem de muito apelo para os pobres e destituídos, dos quais havia muitos, mas também tinha muito apelo para os ricos.
O profeta Muhammad viveu em mundo em que os fortes dominavam e os fracos pereciam, mas mesmo antes do Islã ele era um homem acolhedor e de coração gentil, cujas características e qualidades admiráveis faziam as pessoas se aproximarem dele. Era um jovem casto e contemplativo e, ainda assim, os jovens selvagens e indisciplinados gostavam de compartilhar de sua companhia. Era o que chamamos hoje de um bom rapaz, no qual se podia confiar. Quando se tornou adulto o profeta Muhammad era conhecido como um bom amigo e homem de negócios honesto. Entre as pessoas de Meca era conhecido como Al-Amin - o confiável. Recorriam a ele em busca de julgamento e aconselhamento e, por causa de sua honestidade, geralmente lhe pediam para mediar disputas ou custodiar itens.
As pessoas que conheciam melhor o profeta Muhammad tiveram pouca dificuldade de aceitar sua missão profética ou a mensagem impressionante com a qual buscou inspirar as pessoas. Estavam cientes de seu caráter, particularmente sua ausência de arrogância, e sua compaixão pelos menos afortunados do que ele próprio. Entre os primeiros seguidores do profeta Muhammad estavam muitos pobres, destituídos e solitários. Corriam para o seu lado, ansiosos por conforto em suas palavras e atos. Muitos sentiam como se finalmente tivessem alguém que compreendia suas necessidades físicas e se importava com o estado de suas almas. Entretanto, infelizmente essas pessoas foram as primeiras a serem ridicularizadas e então torturadas e abusadas por suas novas crenças. Não tinham apoio tribal e muitos sofreram terrivelmente por causa de seu apego ao profeta Muhammad e aceitação de sua mensagem do Islã.
De acordo com o biógrafo Ibn Ishaq, um escravo chamado Bilal sofreu terrivelmente por sua aceitação imediata da mensagem de Muhammad. Foi espancado sem misericórdia, arrastado pelas ruas e vales de Meca pelo pescoço e sujeito a longos períodos sem comida ou água. Relata-se que seu dono Umayya ibn Khalaf "na parte mais quente do dia o deitou de costas no chão do vale, colocou uma grande pedra sobre seu peito e disse ‘ficará aí até que morra ou negue Muhammad e adore al-Lat e al-’Uzza’".[1] Bilal não renunciou ao Islã e no meio de seu sofrimento pronunciou uma única palavra - Ahad (significando Deus Único).
Depois de vários anos de boicote econômico, abuso e tortura, os novos muçulmanos não tiveram escolha exceto migrar para a cidade de Yathrib (Medina). Lá as pessoas estavam prontas para dar as boas vindas ao profeta Muhammad como seu líder secular e espiritual, mas deixar Meca, especialmente em massa, se provou problemático. Os líderes de Meca já estavam indignados porque o profeta Muhammad ousou questionar e alterar seus estilos de vida. Agora, partir sem punição e sem se arrepender lhes parecia ser o maior dos insultos. Nesse período os companheiros do profeta Muhammad também demonstraram sua devoção e amor por ele. Os muçulmanos começaram a migrar e os politeístas não pouparam esforços para prejudicá-los.
Um jovem chamado Hubaib foi enforcado no cadafalso e, para salvar sua própria vida, deveria dizer que desejava que o profeta Muhammad estivesse em seu lugar. Ele respondeu à exigência com grande coragem dizendo: "Nunca! Não só não quero que tome meu lugar, como não quero que nem um espinho perfure seu pé." Ouviu-se um dos líderes de Meca dizer: "Nunca vi ninguém no mundo tão amado por seus amigos como Muhammad é amado pelos seus companheiros."[2]
Enquanto muitos muçulmanos partiram encobertos pela escuridão, um homem chamado Suhaib expressou abertamente seu desejo de migrar. Os líderes de Meca começaram a insultá-lo e a dissuadi-lo, até claramente exigir que permanecesse em Meca. Suhaib, um homem rico, lhes ofereceu toda sua fortuna em troca do direito de partir sem obstruções e isso foi, por fim, aceito. Esses companheiros não se preocuparam em abrir mão de tudo que tinham para estar com o homem que amavam e admiravam. Quando o profeta Muhammad ouviu sobre o dilema de Suhaib e o que ele fez para migrar, disse: "Suhaib fez uma troca bem-sucedida!"[3]
Logo os líderes de Meca cercaram sua própria cidade para impedir a migração para Medina. Observavam de perto a casa do profeta Muhammad, sabendo que enquanto ele permanecesse em Meca nem tudo estava perdido. Na noite em que o profeta Muhammad decidiu partir para Medina com seu amigo e confidente Abu Bakr, seu jovem primo Ali escolheu ficar em seu lugar na casa disfarçado como o profeta. Ali dormiu na cama de Muhammad, coberto pelo manto de Muhammad. Ali sentia que era protegido por Deus porque estava tentando proteger o mensageiro de Deus. Os homens guardando a casa não tinham ideia de que o profeta Muhammad havia escapado de sua rede. Entretanto, durante o dia Ali foi interrogado sobre o paradeiro dos dois fugitivos, sem dizer nada.
Essa anedota também serve para nos lembrar de que as mulheres não eram menos devotadas ao profeta Muhammad, que Deus o exalte. Quando não foi obtida nenhuma informação de Ali sobre o paradeiro do profeta, começaram a intimidar e abusar fisicamente de Asma, a filha de Abu Bakr, companheiro de viagem do profeta Muhammad. Aparentemente essa jovem foi seriamente esbofeteada no rosto e cabeça. Mas Asma não foi detida e levou alimentos para o profeta e o pai enquanto se escondiam nas cavernas fora de Meca.
Todos os companheiros do profeta Muhammad pensavam nele com amor e afeição e eram mais devotados a ele que aos seus próprios bem-estar e conforto. Os companheiros se preocupavam com as necessidades dele e dedicaram suas vidas a ele e a mensagem do Islã. Se suas dedicações fossem mencionadas, respondiam dizendo: "Ó profeta de Deus, você nos é mais querido que nossos próprios pais".
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