N.K, Ex-Católico, EUA (parte 4 de 5)

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Descrição: Um católico que rejeita a fé e adota a Filosofia e posteriormente aceita o Islã, devido a muitas perguntas não-respondidas. Parte 4: Mais perguntas sem respostas na Filosofia e leituras sobre o Islã.

  • Por N.K.
  • Publicado em 03 Aug 2009
  • Última modificação em 03 Aug 2009
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Essas considerações estavam em minha mente no segundo ano que estudei em Chicago, onde me conscientizei através de estudos dos sistemas morais filosóficos de que a filosofia não tinha sido bem sucedida em influenciar a moral das pessoas de forma significativa e prevenir injustiça no passado, e percebi que havia pouca esperança de que faria isso no futuro.  Descobri que comparar sociedades e sistemas culturais humanos em sua sucessão histórica e multiplicidade tinha levado muitos intelectuais ao relativismo moral, uma vez que não podia ser descoberto nenhum valor moral que por seus próprios méritos fosse transculturalmente válido, uma reflexão que leva ao niilismo, a perspectiva que vê civilizações humanas como plantas que crescem da terra, espalhando suas várias sementes e solos, florescendo por um tempo e depois morrendo.

Alguns anunciaram isso como liberação intelectual, entre eles Emile Durkheim em seu “Formas Elementares da Vida Religiosa”, ou Sigmund Freud em seu “Totem e Tabu”, que discutiu a humanidade como se fosse um paciente e diagnosticou suas tradições religiosas como uma forma de neurose coletiva que poderíamos ter a esperança de curar, ao aplicar-lhes um ateísmo científico completo, um tipo de salvação através da ciência pura.

Sobre esse assunto comprei a tradução de Jeremy Shapiro de “Conhecimento e Interesses Humanos” de Jurgen Habermas, que argumentava que não havia tal coisa como ciência pura da qual se podia depender para forjar um aperfeiçoamento contínuo de si mesmo e do mundo.  Chamou isso de cientismo mal entendido, não ciência.  A ciência no mundo real, disse ele, não era livre de valores, quanto menos de interesses.  Os tipos de pesquisa que conseguiam fundos, por exemplo, eram uma função do que sua sociedade considerava significativo, conveniente, lucrativo ou importante.  Habermas tinha sido de uma geração de acadêmicos alemães que, durante as décadas de trinta e quarenta, sabia o que estava acontecendo em seu país, mas insistiam que estavam simplesmente engajados em produção intelectual, que estavam vivendo no ramo da erudição, e não precisavam se preocupar com o que quer que o estado decida fazer com suas pesquisas.  A horrível indagação que foi vinculada aos intelectuais alemães quando as atrocidades nazistas se tornaram públicas depois da guerra fez Habermas pensar profundamente sobre a ideologia de ciência pura.  O que era óbvio era que o otimismo do século dezenove de pensadores como Freud e Durkheim não era mais defensável.

Comecei a reavaliar a vida intelectual ao meu redor.  Como Schopenhauer, sentia que o nível mais elevado de educação devia produzir seres humanos mais elevados.  Mas na universidade, encontrei pessoas do laboratório falando sobre forjar dados de pesquisa para assegurar o financiamento do próximo ano, eruditos que não permitiam que gravassem suas aulas por medo que os rivais no mesmo ramo pudessem avançar com suas pesquisas e conseguir publicação; professores disputando entre si sobre a extensão dos planos de ensino de seus cursos.  As qualidades morais que estava acostumado a associar com a humanidade comum e incorrigível pareciam ser encontradas com a mesma frequência em acadêmicos sofisticados e em pescadores.    Riram-se de pescadores que, depois de conseguirem um carregamento de peixe em uma grande pescaria, andam para lá e para cá na frente dos outros para deixá-los ver o quanto estão carregados, procurando ostensivamente por mais peixe, o que dizer dos Phds que se comportam da mesma forma sobre seus trabalhos e artigos?  Senti que seu conhecimento não os tinha desenvolvido como pessoas, que o segredo do homem mais elevado não reside em sua sofisticação.

Perguntei-me se não tinha me aprofundado na filosofia tanto quanto possível.  Embora ela tivesse ridicularizado meu Cristianismo e fornecido alguns esclarecimentos genuínos, ainda não tinha respondido as grandes questões.  Além disso, sentia que isso estava de certa forma conectado (não sabia se era causa ou efeito) ao fato de nossa tradição intelectual não parecer mais se ver de forma séria.  O que éramos todos nós, filósofos, pescadores, lixeiros ou reis, se não jogadores em um drama que não entendíamos, desempenhando diligentemente nossos papéis até que nossos substitutos fossem enviados e fizéssemos nosso último desempenho?  Mas podia-se genuinamente esperar por mais que isso?  Li “Kojves Introduction to the Reading of Hegel” (Introdução de Kojves à Leitura de Hegel, em tradução livre), no qual ele explicava que para Hegel a filosofia não culminava no sistema, mas no Homem Sábio, alguém capaz de responder a qualquer questão possível sobre implicações éticas das ações humanas.  Isso me fez considerar nossa própria condição no século vinte, que não podia mais responder a uma única questão ética.

Era como se esse domínio sem paralelo desse século das coisas concretas, tivesse de alguma forma nos feito de coisas.  Contrastei isso com o conceito de Hegel do concreto em sua “Fenomenologia da Mente”.  Um exemplo do abstrato, em seus termos, era a realidade física limite do livro que agora tem em suas mãos, enquanto que o concreto era sua interconexão com as realidades maiores que pressupunha, os modos de produção que determinaram o tipo de tinta e papel, os padrões estéticos que ditaram sua cor e design, os sistemas de marketing e distribuição que o levaram ao leitor, as circunstâncias históricas que construíram a alfabetização e gosto dos leitores; os eventos culturais que tinham mediado seu estilo e uso; em resumo, o quadro maior no qual foi articulado e passou a existir.  Para Hegel, o movimento de investigação filosófica sempre leva do abstrato ao concreto, ao mais real.  Ele era, portanto, capaz de dizer que a filosofia necessariamente levava à teologia, cujo objeto era o basicamente real, a Divindade.  Isso me pareceu apontar para uma carência irredutível em nosso século.  Comecei a me perguntar se, ao materializar nossa cultura e nosso passado, não tínhamos de alguma forma nos abstraído de nossa humanidade mais ampla, de nossa verdadeira natureza em relação à realidade mais elevada.

Nesse ponto li várias obras sobre o Islã, entre elas os livros de Seyyed Hossein Nasr, que acreditava que muitos dos problemas do homem ocidental, especialmente aqueles relacionados ao meio ambiente, derivavam de ter deixado a sabedoria divina da religião revelada, que o ensinou seu verdadeiro lugar como uma criatura de Deus no mundo natural e a compreendê-lo e respeitá-lo.  Sem isso, ele queimava e consumia a natureza com estilos tecnológicos de exploração comercial cada vez mais efetivos que arruinaram esse mundo enquanto ficava cada vez mais vazio por dentro, porque ele não sabia por que existia ou com qual objetivo devia agir.

Refleti que podia ser verdade, mas continuava com a pergunta em relação à religião revelada.  Tudo na face da terra, todos os sistemas religiosos e morais, estavam no mesmo plano, a menos que se pudesse obter certeza de que um deles era de uma fonte mais elevada, a garantida da objetividade, da força completa, da lei moral.  De outra forma, a opinião de um homem era tão boa quanto a de outros, e continuávamos em um mar sem diferenciação de interesses individuais conflitantes, no qual nenhuma objeção válida pode ser levantada sobre o forte comer o fraco.

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