Deus Tornou-se Homem? (parte 2 de 5): Os deuses, o homem é Deus, e Deus Se Torna Suas criaturas
Descrição: Um olhar no conceito de Deus e de panteísmo em crenças politeístas, especificamente o Hinduísmo.
- Por Dr. Bilal Philips
- Publicado em 10 Sep 2012
- Última modificação em 10 Sep 2012
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Os deuses
Entretanto, permanece um aspecto da crença em Deus que desafia toda a lógica e razão, mas que se tornou uma pedra angular de fé. É a crença de que Deus Se tornou homem. Onde a crença monoteísta original em Deus degenerou-se em uma crença em que deve haver intermediários entre seres humanos e o Ser Supremo para transmitir as buscas humanas ou agir em nome de Deus no mundo, os intermediários tornaram-se objetos de adoração. Os intermediários geralmente eram concebidos como espíritos encontrados em todas as manifestações da natureza. Consequentemente, os humanos dos tempos primitivos adoravam espíritos da floresta, rios, céus e da terra, etc., até o momento presente. Ocasionalmente a própria natureza era adorada e, em outras épocas, símbolos que representavam a natureza. Os sistemas religiosos que evoluíram a partir desses tipos de crenças tenderam a serem localizados e permaneceram dispersos entre os povos primitivos em todo o mundo até hoje. Tais crenças não convergiram na forma de um sistema de crença único de impacto internacional, com base no que é conhecido nos registros atuais da história humana.
Por outro lado, onde a crença monoteísta degenerou-se na personificação do poder de Deus em entidades intermediárias separadas representadas por imagens, os ídolos se tornaram o ponto focal para adorar Deus. Os poderes de Deus se tornaram deuses. Tais crenças culminaram, em tempos antigos e modernos, em religiões naturais de impacto internacional. As religiões dos egípcios, gregos e romanos antigos morreram devido à subversão completa desses impérios pelo Cristianismo. Entretanto, a expressão indiana do Hinduísmo sobreviveu às colonizações muçulmana e cristã e permanece a religião nacional de aproximadamente um bilhão de pessoas na Índia. O Cristianismo e o Islã, com exceção de Bali na Indonésia, suplantaram seu impacto internacional direto na maior parte do Oriente Longínquo. Entretanto, as diferentes formas de Budismo, sua derivação, tornou-se a principal religião de centenas de milhões no Oriente Longínquo. Formas diferentes desse movimento de reforma hindu continuam a se propagar no Ocidente hoje.
O homem é Deus
De acordo com o Hinduísmo, o conceito básico é de que tudo é Deus. Não existe nenhuma distinção entre Deus e Sua criação. Na filosofia hindu, todo ser vivo tem um eu ou uma alma que é chamada Âtmã. Em geral acredita-se que a alma é, de fato, Deus, chamado Brama. Consequentemente, a essência da crença hindu é a ideia de que Âtmã e Brama são um e o mesmo; em outras palavras, a alma humana é divina. Além disso, a sociedade humana é dividida em castas ou classes, em que cada casta representa seres humanos que passaram a existir de partes diferentes do ser divino, Brama. A casta superior, os brâmanes, vieram da cabeça de Deus, enquanto que a casta mais baixa, os Sudras, vieram dos pés de Deus. Embora oficialmente só existam quatro castas principais, existem, na realidade, muitas subcastas. Cada uma das castas principais é subdividida em milhares de castas menores. Os hindus acreditam que quando uma pessoa morre, reencarna. A alma, Âtmã, da pessoa morta nunca morre e é continuamente renascida. Se as pessoas são boas nessa vida, serão renascidas em um nível superior do sistema de castas na próxima vida. Se forem más nessa vida, serão renascidas em um nível inferior, uma das principais razões de muitos hindus cometerem suicídio anualmente. Diariamente os jornais registram incidentes de indivíduos e famílias enforcadas em suas casas. Em uma edição recente de um dos jornais locais, um homem hindu se matou quando a Índia perdeu um jogo de críquete com o Sri Lanka. Quando um sistema de crença adota a reencarnação, o suicídio se torna uma rota fácil para fugir das dificuldades nessa vida.
Quando uma pessoa alcança a casta mais alta, os brâmanes, depois de várias reencarnações, o ciclo de renascimento termina e ela se reúne com Brama. Esse processo de reunificação é chamado Moksha e no Budismo é chamado Nirvana[1]. O Âtmã é mais uma vez reunido com Brama. Assim, o homem se torna Deus.
Deus Se torna Suas criaturas
Na crença hindu os atributos de Brama são manifestos como deuses diferentes. O atributo da criação se torna o deus criador Brama, o atributo de preservação se torna o deus preservador Vishnu e o atributo de destruição se torna o deus destruidor Siva. O mais popular entre eles, Vishnu, encarna entre seres humanos em diferentes pontos no tempo. Essa encarnação é chamada em sânscrito avatar, que significa “descida”. Representa a descida de Deus no mundo humano pela transformação em um ser humano ou em uma das outras criaturas desse mundo. Primariamente o termo avatar refere-se às dez principais aparições do deus Vishnu. Entre elas está Matsya, a encarnação de Deus como um peixe; Kurma, como tartaruga; Varaha como um porco selvagem; Narasimha como meio-homem; Vamana como um anão e, provavelmente a mais comum seja Rama, a encarnação humana. Rama é o herói do épico, Ramayana, sobre o qual são feitos filmes apresentados regularmente na Índia. Outro deus popular é Krishna, a outra encarnação de Vishnu como ser humano. Seu épico é o Mahabharata, que descreve a descida dos deuses em formas humanas para salvar a deusa Terra, oprimida por demônios, sobrecarregada pela superpopulação e em risco de dissolução[2]. Existem variações diferentes dessa crença em relação a quantas encarnações existem e quais outras formas animais elas adotam, mas todas geralmente seguem essas manifestações. Consequentemente, no Hinduísmo, a crença de um quinto da humanidade, o homem é Deus ou parte de Deus. A diferença entre o Criador e Sua criação é somente superficial.
O budismo popular compartilha do conceito de encarnação hindu com suas próprias modificações. Ensina que cada ser consciente possui a “natureza Buda” e é, portanto, capaz de tornar-se um Buda. Buda, nos ensinamentos primitivos[3], era verdadeiramente um professor humano que viveu e ensinou. Entretanto, no Budismo Mayahana a ideia do Buda “eterno”, personificando a verdade absoluta, se desenvolveu e Buda foi elevado à divindade. Para revelar sua mensagem à humanidade, esse Buda eterno se manifesta de tempos em tempos como um Buda terreno para viver e trabalhar entre humanos. Assim, Sidarta Gautama, o fundador do Budismo, tornou-se apenas uma das aparições terrenas, uma aparição fantasma criada pelo Buda eterno[4]. O Budismo incorporou os elementos do sistema indiano de deuses e céus e respondeu à popularidade do Hinduísmo Bhakti, devoção pessoal a entidades salvadoras. A natureza Absoluta ou Buda era vista por alguns como possuidora de atributos manifestos como Budas eternos ou bodhisattvas[5], que existiam em campos espirituais e ofereciam seus méritos, proteção e ajuda na direção da iluminação a todos os seus seguidores que se devotavam a eles.
O principal entre os bodhisattvas eternos era Avalokitesvara, uma personificação de compaixão e Manjusri, uma personificação de sabedoria. E entre os Budas eternos estavam Aksobhya (o Imperturbável), Amitabha (Luz Eterna) e Amitayus (Vida Eterna).
Footnotes:
[1]Esse é um termo sânscrito que significa “soprado”, referindo-se à extinção de todos os desejos mundanos ou salvação. Embora o termo tenha se originado nos escritos vedanta (Bhagavad-Gita e os Vedas), é associado mais frequentemente com o Budismo. No Budismo Hinayana o termo é equiparado à extinção, enquanto que no Budismo Mahayana é um estado de graça (Dictionary of Philosophy and Religion, p. 393).
[2]A peça teológica central é o Bhagavad Gita (Dictionary of World Religions [Dicionário de Religiões do Mundo] , p. 448).
[3]O Budismo Theravada, Doutrina dos Anciãos, é essencialmente uma disciplina que um indivíduo pratica para alcançar salvação para si mesmo por si mesmo. Apenas monges que têm vigor e determinação para viver a estenuante vida religiosa podem alcançar esse objetivo e quem o alcança é chamado um arhant. Existem dois tipos de Nirvana, um com resíduo e outro sem. O primeiro é alcançado pelo arhant aqui e agora, os cinco agregados (skandhas: que compreendem todos os indivíduos; matéria, sensação, percepção, predisposição e consciência) ainda estão presentes, embora os desejos que levam ao renascimento continuado estejam extintos. Nirvana sem resíduo refere-se ao estado do arhant após a morte sobre o qual Buda mantém-se em silêncio. Só pode haver um Buda em um éon e a iluminação é reservada para uma elite de poucos. Esse aspect do Budismo é chamado Hinayana, or Veículo Menor.
Com a passage de tempo após a morte de Buda, os monges Theravada foram criticados por serem muito restritos e individualistas em seus ensinamentos. Surgiram dissensões e o Budismo evoluiu. Uma nova forma, Mahayana, ou Grande Veículo, tornou-se dominante. (Dictionary of World Religions, pp. 126-127)
[4]Dictionary of World Religions [Dicionário de Religiões do Mundo], p. 129.
[5]Originalmente esse termo referia-se a Budas anteriores enquanto estavam em sua busca por iluminação. No Mahayana o bodhisattva adia sua iluminação final complete e o alcance do nirvana para ajudar todos os outros seres humanos em sua busca por iluminação. (Dictionary of World Religions, p. 112).
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