Jesus Cristo – Filho de Deus? (parte 1 de 2): O Significado de “Filho de Deus”

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Descrição: Uma análise do conceito de que Jesus é o filho de Deus a partir das fontes cristãs.  O significado do termo “Filho de Deus” no Velho e Novo Testamento.

  • Por Laurence B. Brown, MD
  • Publicado em 04 Jan 2009
  • Última modificação em 19 Sep 2021
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“Uma das diferenças mais marcantes entre um gato e uma mentira é que um gato tem apenas nove vidas.”

           —Mark Twain, Calendário de Pudd’nhead Wilson

Jesus_Christ_-_Son_of_God_(part_1_of_2)_001.jpgFilho de Deus, filho de Davi, ou filho do Homem?  Jesus é identificado como “filho de Davi" quatorze vezes no Novo Testamento, começando com o primeiro verso (Mateus 1:1). O Evangelho de Lucas documenta quarenta e uma gerações entre Jesus e Davi, enquanto Mateus lista vinte e seis.  Jesus, um descendente distante, pode usar o título “filho de Davi” apenas metaforicamente.  Mas como então devemos entender o título, “filho de Deus?”

O “Trilema,” uma proposta comum dos missionários cristãos, afirma que “Jesus ou era um lunático, ou um mentiroso, ou o Filho de Deus, como ele clamava ser.”  Em nome do argumento, vamos concordar que Jesus não era nem um fanático e nem um mentiroso.  Vamos também concordar que ele era precisamente o que clamava ser.  Mas o que, exatamente, era isso?  Jesus chamou a si mesmo de “Filho do Homem” com freqüência, consistentemente, talvez até enfaticamente, mas onde ele se chamou de “Filho de Deus”?

Vamos recapitular.  O que significa “Filho de Deus” em primeiro lugar?   Nenhuma denominação cristã legítima sugere que Deus se casou e teve um filho, e com certeza nenhuma concebe que Deus teve um filho com uma mãe humana fora do casamento.   Além disso, sugerir que Deus fisicamente se relacionou com um elemento de Sua criação está além dos limites da tolerância religiosa já que seria o cúmulo da blasfêmia, na mesma linha da mitologia grega.

Sem explicação racional disponível dentro dos dogmas da doutrina cristã, a única alternativa para a conclusão dessa alegação é um mais um mistério doutrinário.  Aqui é onde os muçulmanos relembram a questão apresentada no Alcorão:

“...Como pode Ele ter tido um filho quando Ele não teve companheira?...” (Alcorão 6:101)

...enquanto outros gritam, “Mas Deus pode fazer qualquer coisa!”  A posição islâmica, entretanto, é que Deus não faz coisas inapropriadas, apenas coisas divinas.  No ponto-de-vista islâmico, o caráter de Deus é parte do Seu ser e é consistente com Sua majestade.

Então, novamente, o que significa “Filho de Deus”?  E se Jesus Cristo tem direitos exclusivos ao termo, por que a Bíblia registra, “...porque Eu (Deus) sou um pai para Israel, e Efraim (ou seja, Israel) é meu primogênito”  (Jeremias 31:9) e “...Israel é meu filho, meu primogênito”  (Êxodo 4:22)? Adotando o contexto de Romanos 8:14, que diz, “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus,” muitos eruditos concluem que “Filho de Deus” é metafórico e, como com christos, não implica exclusividade. Afinal, The Oxford Dictionary of the Jewish Religion (Dicionário Oxford da Religião Judaica) confirma que no idioma judaico “Filho de Deus” é claramente metafórico. Fazendo a citação, “Filho de Deus, termo ocasionalmente encontrado na literatura judaica, bíblica e pós-bíblica, mas em nenhum lugar implicitando descendência física de Deus.”[1]  O Dicionário Bíblico de Hasting comenta:

No uso semítico “filiação” é uma concepção empregada de certa forma com liberdade, para denotar relacionamento moral ao invés de  físico ou metafísico.  Portanto, “filhos de Belial” (Juízes 19:22, etc.) são homens maus, não descendentes de Belial; e no NT as “crianças da câmara nupcial” são convidados do casamento.  Assim um “filho de Deus” é um homem, ou mesmo um povo, que reflete o caráter de Deus.  Existe pouca evidência de que o título foi usado nos círculos judaicos do Messias, e uma filiação que implicava mais do que um relacionamento moral seria contrária ao monoteísmo judaico.[2]

E em qualquer caso, a lista dos candidatos a “filho de Deus” começa com Adão, de acordo com Lucas 3:38:  “...Adão, que era filho de Deus.”

Aqueles que refutam citando Mateus 3:17 (“E eis uma voz dos céus, que dizia: ‘Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo’”) fazem vista grossa para o fato da Bíblia descrever muitas pessoas, Israel e Adão incluídos, como “filhos de Deus.”  Tanto em 2 Samuel 7:13-14 quanto em 1 Crônicas 22:10 se lê, “Este (Salomão) edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.  Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho.”

Nações inteiras são referidas como filhos, ou crianças de Deus.  Os exemplos incluem:

Gênesis 6:2, “Vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens...”

Gênesis 6:4 “Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens…”

Deuteronômio 14:1 “Filhos sois do Senhor, vosso Deus;”

Jó 1:6 “Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR...”

Jó 2:1 “Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR...”

Jó 38:7, “Quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus?”

Filipenses 2:15 “para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta...”

1 João 3:1-2, “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus;” e, de fato, somos filhos de Deus.”

Em Mateus 5:9 Jesus diz, “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.”  Mais adiante em Mateus 5:45, Jesus prescreveu para seus seguidores a obtenção de atributos nobres, “para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste...” Não exclusivamente seu Pai, mas Pai deles...

Copyright © 2007 Laurence B. Brown; usado com permissão.

O excerto acima foi tirado do próximo livro do Dr. Brown, MisGod’ed, que deve ser publicado junto com a sua continuação, God’ed.  Ambos podem ser vistos no site do Dr. Brown, www.LevelTruth.com   O Dr. Brown pode ser contatado em BrownL38@yahoo.com



Footnotes:

[1] Werblowsky, R. J. Zwi e Geoffrey Wigoder. p. 653.

[2] Hastings, James. Dictionary of The Bible. p. 143.

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