Mormonismo (parte 1 de 2): Quem são os mórmons?
Descrição: Uma breve introdução que explica os mórmons e suas crenças.
- Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
- Publicado em 20 Jun 2016
- Última modificação em 20 Jun 2016
- Impresso: 12
- 'Visualizado: 11,472
- Classificado por: 0
- Enviado por email: 0
- Comentado em: 0
Mormonismo - as doutrinas e práticas da igreja mórmon baseadas no Livro dos Mórmons.[1]
Os mórmons são membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O nome Últimos dias vem da crença de que após a morte dos primeiros apóstolos a igreja cristã caiu em apostasia e precisava ser restaurada nos "últimos dias".[2]
A igreja dos Santos dos últimos dias foi estabelecida em 1830 e, desde aquela época, cresceu de uma pequena congregação para uma religião mundial com mais de 14 milhões de adeptos. Embora o centro da igreja seja no estado americano de Utah, somente 14% dos mórmons vivem lá. A igreja tem quase 30.000 congregações em mais de 130 templos em todo o mundo. Imprime revistas mensais em 50 idiomas e publicou mais de 100 milhões de cópias do Livro dos Mórmons em mais de 93 idiomas. Atualmente (2012), a igreja tem mais de 50.000 missionários em 162 países.[3]
No nível mais básico o Mormonismo compartilha algumas das crenças judaico-cristãs; a criação do mundo, as histórias de Adão e Eva, o dilúvio e os profetas. Entretanto, adotam uma abordagem ligeiramente diferente para algumas dessas histórias. Por exemplo, os mórmons acreditam que o Arcanjo Miguel nasceu na terra como Adão, o primeiro homem mortal. Na versão mórmon da história da criação, Jesus Cristo, que antes de seu nascimento era Jeová da Bíblia hebraica, criou a terra e todas as coisas sobre ela sob a orientação de Deus, o Pai. Essa é uma noção muito semelhante às crenças das Testemunhas de Jeová.[4]
O entendimento dos mórmons sobre Deus é muito diferente da maioria das denominações cristãs, e nem precisa dizer que é muito diferente do Judaísmo e do Islã. Os mórmons acreditam que Deus é imortal e algum dia foi um homem, embora um homem perfeito e exaltado. Deus não é de outra espécie, nem é o grande incognoscível; é, de fato, nosso Pai no céu. Deus, de acordo com a igreja dos Santos dos últimos dias, é literalmente o pai de cada ser humano. Tem um corpo e emoções como todos os seres humanos. Para os muçulmanos e cristãos isso soa blasfemo e contribui para as razões por que a maioria das denominações cristãs não considera os mórmons como cristãos. De fato, as denominações católica e metodista os mórmons que se convertem têm que se batizar na fé cristã, o que geralmente não é o caso quando cristãos deixam uma denominação cristão por outra.
Uma crença mórmon que atinge o âmago de qualquer um que pratique uma das crenças abrâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islã) é a insistência de que Jesus é o Filho de Deus no sentido mais literal. É o irmão mais velho de todos os mortais e o primogênito espiritual de Deus. Acreditam que de Maria, uma mulher mortal, Jesus herdou a capacidade de morrer e de Deus, um ser exaltado, herdou a capacidade de viver para sempre.[5]
Consequentemente e baseado no que a maioria dos cristãos acredita, a versão mórmon da Trindade é um tanto fora do comum. De acordo com os mórmons a Trindade é uma divindade que consiste de três seres separados e distintos: Deus o Pai, também chamado Elohim, Jesus Cristo, que também é o Jeová do Velho Testamento e o Espírito Santo. Os mórmons também acreditam que existe mais de um Deus e que os seres humanos têm o potencial de se tornarem deuses.
Como um pêndulo, as crenças mórmons oscilam entre o que é aceito pelas igrejas cristãs tradicionais e a mistura peculiar própria de Cristianismo e histórias visionárias. De acordo com o cientista pesquisador e ex-bispo mórmon, Simon G. Southerton[6], o Livro dos Mórmons é baseado no conceito de que a Mesoamérica era uma terra desabitada povoada por judeus que flutuaram pelo oceano em um barco que parecia dois grandes discos fixados para formar um côncavo. Desnecessário dizer que não há evidência histórica ou arqueológica para suportar essa teoria.
Entretanto, os mórmons acreditam que o Jesus ressuscitado ministrou para essas pessoas, chamadas os nefitas. Ele apareceu perante uma congregação no templo deles e permitiu que sentissem as feridas em suas mãos e pés. Ficou com eles por vários dias, ensinando e curando e ordenou doze discípulos. Deu ao povo vários mandamentos e presenteou-os com o dom do Espírito Santo.
Os mórmons acreditam piamente que Jesus Cristo começou a restauração de sua igreja na terra por meio do profeta Joseph Smith, em 1820. Joseph começou a ter visões de restauração da igreja aos 14 anos e alegou ter os mesmos ensinamentos e organização básica da igreja estabelecida por Jesus na época do Novo Testamento. De acordo com o site oficial da igreja dos Últimos Dias[7]: "Em 1823 Joseph Smith foi visitado por um mensageiro celestial chamado Moroni, assim como os anjos frequentemente apareceram para os apóstolos no Novo Testamento. Moroni disse a Joseph sobre um registro dos habitantes antigos do continente americano (os nefitas) que foram enterrados em uma montanha próxima e estava escrito sobre placas finas de ouro." Joseph encontrou as placas próximo de sua casa em Palmyra, Nova Iorque. Com inspiração celestial, porque Joseph não compreendia o idioma "egípcio reformado" escrito nas placas, traduziu o livro para o inglês. O livro foi chamado de Livro dos Mórmons por causa do profeta que o compilou.
Junto com o Livro dos Mórmons, os mórmons acreditam que a Bíblia é sagrada e, como os muçulmanos, acreditam que as palavras de Deus encontradas na Bíblia são uma mistura de verdade e erro, porque muitas foram alteradas ou esquecidas. Entretanto, a versão mórmon não é de forma alguma aceitável para o Islã. A escritura sagrada mórmon também inclui um livro chamado A pérola de grande preço, que inclui dois livros perdidos da Bíblia, uma tradução do evangelho de Mateus e 13 artigos de fé; e A doutrina e alianças, um grupo de 138 revelações de Deus e dois outros documentos oficiais.
No próximo artigo continuaremos a explorar as diferenças entre Mormonismo e o Cristianismo e o Islã tradicionais.
Mormonismo (parte 2 de 2)
Descrição: Neste artigo explicaremos alguns dos artigos de fé mórmons e esclareceremos as diferenças entre eles e o Cristianismo tradicional, enquanto também destacamos as vastas diferenças entre os conceitos mórmons e as doutrinas do Islã.
- Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
- Publicado em 27 Jun 2016
- Última modificação em 27 Jun 2016
- Impresso: 11
- 'Visualizado: 9,288
- Classificado por: 131
- Enviado por email: 0
- Comentado em: 0
A igreja dos Santos dos Últimos Dias, melhor conhecida como igreja mórmon, tem uma lista de doutrinas básicas conhecidas como os 13 artigos de fé. Escritos por Joseph Smith em 1842, os artigos cobrem os elementos essenciais do que os mórmons acreditam. À primeira vista parecem inócuos e típicos de qualquer igreja cristã. Entretanto, eles deixam de fora algumas crenças importantes que fazem a igreja mórmon única, e explicam a razão por que muitos cristãos tradicionais acreditam que o Mormonismo não é uma denominação cristã. Por exemplo, eles não descrevem o conceito de famílias eternas ou batismo dos mortos. Nem mencionam algumas das práticas e crenças estranhas, como usar roupa íntima especial de proteção e cerimônias secretas incomuns.
No artigo anterior examinamos a afirmação extraordinária de que tanto Deus quanto Jesus foram homens mortais que desempenharam papeis distintos na criação da terra e da humanidade. São as duas primeiras partes de uma trindade que inclui o Espírito Santo (espírito). Os muçulmanos acham ofensiva a noção de que Deus algum dia foi um ser humano. A doutrina fundamental do Islã é que Deus é Um, único, incomparável e diferente de Sua criação. Da mesma forma, a maioria dos cristãos acha espantoso o conceito de Deus como um ser humano mortal, apesar de não terem problema em aceitar Jesus como sendo mortal e divino ao mesmo tempo.
Os mórmons e os muçulmanos compartilham a crença de que a doutrina do pecado original não existe e, assim, ambos acreditam que as pessoas não são punidas por pecados ou erros feitos por Adão e Eva, e seus filhos não são responsáveis perante Deus por suas ações até que tenham alcançado a idade da responsabilidade. No Mormonismo isso é por volta da idade de 8 anos e no Islã é com a idade da puberdade. É aqui que terminam as semelhanças. A punição no Mormonismo é não ser capaz de habitar com Deus no terceiro céu; não envolve o Inferno porque os mórmons não acreditam que o inferno exista, enquanto que a existência do inferno é um dos pilares da crença no Islã. As denominações cristãs geralmente têm algum conceito de Inferno ou um lugar de punição eterna.
Os mórmons acreditam no batismo por imersão na água e na imposição de mãos, através da qual uma pessoa recebe o Espírito Santo. Esses ritos são essenciais e sem eles uma pessoa não será "salva". As crianças mórmons são batizadas com a idade de 8 anos. No Cristianismo o batismo é realizado geralmente em bebês, basicamente para remover a mancha do pecado original. Algumas denominações cristãs usam imersão completa na água, enquanto outras usam a água simbolicamente. O Islã não tem esse rito, acreditando que todas as pessoas nascem muçulmanas, ou seja, já nascem conhecendo e se submetendo a Deus. Com a idade de 12 anos as crianças mórmons são capazes de ir ao templo e fazer batismos para os mortos, um processo único da igreja mórmon. Depois de extensa pesquisa genealógica os mórmons vão para os templos com lista dos mortos a serem batizados.
O artigo 9 da fé mórmon afirma: "Acreditamos em tudo que Deus revelou, em tudo que Ele não revelou, e acreditamos que Ele ainda revelará muitas coisas grandes e importantes pertencentes ao Reino de Deus." Isso basicamente significa que Deus está continuando Suas revelações por meio da linha contínua de profetas mórmons. Todos os líderes supremos da igreja dos Santos dos Últimos Dias são profetas, começando com Joseph Smith, seu sucessor Brigham Young e assim por diante, por gerações. A última vez que um profeta mórmon divulgou revelação de Deus foi em 1978, quando foi concedido aos negros a habilidade de exercer cargos na igreja mórmon. Na maioria das denominações cristãs a linha de profetas de Deus para em Jesus Cristo, embora existam várias pessoas alegando serem profetas. No Islã o profeta final é reconhecido como profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, que também é o único profeta a trazer revelação de Deus, depois de Jesus Cristo. Um dos princípios do Islã afirma que Muhammad é o profeta final.
Muitos mórmons usam o que geralmente é chamado de maneira irônica de roupa íntima especial ou mágica. Essa é uma prática completamente desconhecida para os seguidores do Cristianismo e do Islã, embora possa ser equiparada com o hábito de usar itens de roupa como amuleto. Os muçulmanos acreditam categoricamente que não há poder ou força exceto de Deus e não carregam ou usam talismãs ou amuletos de qualquer tipo. Os cristãos, entretanto, não são impedidos por sua religião de usar ou vestir um talismã ou amuleto.
Na igreja mórmon a roupa íntima especial é conhecida como uma "vestimenta" e, de acordo com o website dedicado aos templos da igreja dos Santos dos Últimos Dias, são um gesto simbólico das promessas que um mórmon faz a Deus. A vestimenta é sempre usada sob outra roupa, próxima a pele, geralmente no lugar da roupa íntima comum. Os mórmons começam a usá-la durante sua primeira visita ao templo, quando passam por uma cerimônia sagrada chamada de dotação do templo. Durante esse ritual roupas especiais adicionais são colocadas, mas a "vestimenta" é usada o tempo todo, de dia e de noite, a partir dali. "Serve como um lembrete constante das alianças feitas durante a dotação do templo."[1]
As igrejas mórmons são lugares públicos de adoração dedicados nos quais os mórmons e visitantes podem se encontrar para orar, estudar escritura, participar do sacramento e continuar a aprender suas responsabilidades como filhos de Deus. Os templos, entretanto, são lugares dedicados nos quais são realizadas ordenanças sagradas necessárias para a vida eterna. Por causa de sua natureza sagrada, a frequência nos templos é limitada aos mórmons que obedecem aos mandamentos de Deus e, portanto, são os únicos merecedores de entrar.
As cerimônias de dotação são administradas para mórmons no templo. Aparentemente essas são ordenanças e promessas sagradas que tornam uma pessoa elegível para o paraíso mais elevado e aqueles mórmons considerados merecedores participam voluntariamente durante uma visita ao templo. As dotações são consideradas vitais para a colocação de uma pessoa na outra vida, mas só podem ser realizadas na terra. São secretas em grande parte; entretanto, recentemente muitas pessoas insatisfeitas com a igreja saíram e revelaram muitos aspectos dos rituais. As cerimônias podem durar até cinco horas e podem incluir lavagem e unção ritual do corpo todo e o recebimento de um nome novo.
Desnecessário dizer que essas cerimônias não existem no Cristianismo ou no Islã, mas antigos membros da igreja mórmon destacaram as semelhanças entre os rituais secretos e os rituais maçônicos.
O mormonismo contém muitas crenças e ações que o coloca fora do que pode ser chamado de denominações cristãs normais. A tal ponto que muitos líderes cristãos têm condenado a igreja como um culto não cristão. Para um muçulmano o mormonismo contém tantos elementos do pecado de atribuir parceiros a Deus e outras práticas estranhas, que praticamente não existem pontos comuns entre as duas religiões.
Adicione um comentário