Nação do Islã (parte 1 de 2): Quando um muçulmano não é um muçulmano?
Descrição: O surgimento e história de uma religião incorretamente associada com o Islã.
- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
- Publicado em 16 Feb 2015
- Última modificação em 16 Feb 2015
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Muitos de nós ouvimos falar do termo "Nação do Islã" e podemos achar que é meramente uma forma diferente de expressar a frase Ummah de Muhammad, que significa aqueles que seguem os ensinamentos de Muhammad, que Deus o exalte. Outros podem ainda associar as palavras Nação do Islã com afroamericanos. Talvez pareça óbvio que "Nação do Islã" se refira aos muçulmanos afroamericanos, mas um pouco de pesquisa prova que isso está errado. Embora esse grupo ocasionalmente se alinhe com a religião do Islã, o sistema de crença é muito diferente e, de fato, vai totalmente contra os ensinamentos do Islã. O primeiro pilar do Islã, a crença básica, é não há divindade exceto Allah e Muhammad é Seu mensageiro final.
No final dos anos 1920 apareceu um homem nas ruas de Detroit, EUA, vendendo artesanato africano de porta em porta. O nome que usava na época era Wallace Fard Muhammad. Suas origens, ancestrais e etnia eram, e ainda são, abertos ao debate. Entretanto, definitivamente é verdade que sua personalidade carismática permitiu que convencesse muitos membros da comunidade afroamericana a se unirem à sua recém-criada religião, "Nação do Islã". Em 1930 ele abriu o primeiro templo. Wallace Fard ensinava "liberdade, justiça e igualdade para os membros da tribo perdida de Shabazz na selva da América do Norte". Ensinava aos afroamericanos pobres que tinham "um passado, um futuro, uma história e um destino". Dentro de três anos ele havia convertido quase 8.000 seguidores.[1]
Um dos seguidores mais devotos de W Fard Muhammad era Elijah Poole, um mecânico de carros desempregado da Geórgia. Ele mudou o nome para Elijah Muhammad e logo se tornou o principal ministro de Fard. No verão de 1934 repentinamente Fard desapareceu tão misteriosamente quanto havia chegado. Elijah Muhammad foi nomeado o novo líder e assumiu o título de "Mensageiro de Allah". Tendo em mente que tal título é uma grande blasfêmia, associado com a declaração a seguir do livro de Elijah Muhammad, Message to the Blackman (Mensagem ao homem negro), podemos ver desde o início que a Nação do Islã não tem conexão com a religião do Islã. Nem mesmo no sentido de ser chamado de uma ramificação ou culto.
"Allah (Deus) veio a nós da cidade sagrada de Meca, Arábia, em 1930. Usava o nome de Wallace D. Fard, geralmente assinando como W. D. Fard. No terceiro ano (1933) Ele assinou Seu nome W. F. Muhammad, que significa Wallace Fard Muhammad. Veio sozinho. Começou a nos ensinar o conhecimento de nós mesmos, de Deus e do demônio, da medida da terra, dos outros planetas e das civilizações de alguns outros planetas além da terra." [2]
O Islã diz categoricamente e sem reservas que não há deus exceto Allah. Não tem parceiros, associados, filhos ou filhas. Deus não assume forma humana e até sugerir essa possibilidade é um grande pecado e desvio dos ensinamentos do Islã.
O convertido mais importante da Nação do Islã é Malcolm Little, que se converteu em uma prisão de Concord, Massachusetts, em 1947. Malcolm Little é mais conhecido no mundo agora como Malcolm X. Enquanto Malcolm estava na prisão Elijah Muhammad pregava que a sociedade branca trabalhava ativamente para impedir os afroamericanos de ter poder e alcançar sucesso político, econômico e social. A Nação do Islã também reivindicou um estado próprio, não habitado por brancos. Quando saiu em condicional em 1952, Malcolm era um seguidor devotado com o novo sobrenome X. (Little era um nome escravo e Malcolm escolheu "X" para significar seu nome tribal perdido).
Malcolm era inteligente e articulado e logo se tornou o porta-voz nacional da Nação do Islã. Estabeleceu novas mesquitas (templos) e usou todos os ramos da mídia disponíveis na época para propagar a mensagem da Nação do Islã pelos Estados Unidos. Tem o crédito de ter aumentado a filiação de 500 em 1952 para mais de 30 mil até 1963. Durante esse tempo Malcolm pregou que os negros eram geneticamente superiores aos brancos, mas eram dominados por um sistema de supremacia branca.
"Quem estudou a fase genética da biologia sabe que o branco é considerado recessivo e o negro é considerado dominante. Toda a economia americana é baseada na supremacia branca. Até as filosofias religiosas, em essência, se baseiam em supremacia branca. Um Jesus branco. Uma Virgem branca. Anjos brancos. Tudo branco. Mas um demônio negro, claro. O fundamento político do "tio Sam" é baseado na supremacia branca, relegando os não brancos a uma cidadania de segunda classe. Desnecessário dizer que a filosofia social é estritamente supremacista branca. E o sistema educacional perpetua a supremacia branca."[3]
À medida que os anos passaram, pela graça de Deus, Malcolm X se aproximou do verdadeiro Islã. Lia muito e viajava bastante. No início de 1964 Malcolm declarou publicamente sua separação da Nação do Islã, afirmando diferenças irreconciliáveis e tensões crescentes entre ele e Elijah Muhammad. No mesmo ano participou da peregrinação anual à Meca. Malcolm ficou maravilhado pela irmandade universal que experimentou no Hajj e voltou aos EUA um muçulmano sunita, determinado a pregar sua mensagem para todas as raças. Malcolm X foi assassinado a tiros no Audoban Ballroom no Harlem, Nova Iorque, em 21 de fevereiro de 1965.
Elijah Muhammad continuou a liderar a Nação do Islã até sua morte em 25 de fevereiro de 1975, de ataque do coração. O filho dele, Warith Deen Muhammad, tornou-se o novo líder da Nação do Islã. Por causa de seu conhecimento do Islã começou a fazer mudanças, a mais dramática a de fundir seus seguidores com o Islã sunita ou tradicional.
"Venho tentando o que costumava ser chamado de Nação do Islã para o que chamo de comunidade islâmica natural e normal. A ideia que tínhamos de comunidade não é islâmica e veio dos dias do nacionalismo negro." [4]
Muitos dos antigos seguidores de Elijah Muhammad ficaram satisfeitos com a nova direção de Wallace, mas muitos outros não ficaram. Em 1979 a facção desencantada, liderada por Louis Farrakhan, se separou da nova missão muçulmana americana de Wallace, que agora permitia filiados de cor branca. O grupo de Farrakhan aderiu aos ensinamentos originais de supremacia negra e novamente se identificou como Nação do Islã.
The Watchman Expositor[5] um ministério cristão de pesquisa e apologético independente fundado em 1979 afirma que "Embora a organização de Farrakhan alegue ser a autêntica Nação do Islã, há três outras organizações fazendo a mesma afirmação. John Muhammad, irmão de sangue de Elijah Muhammad, chefia uma, com base em Detroit. Uma segunda organização está baseada em Atlanta e é chefiada por Silas Muhammad. Emanuel Abdulla Muhammad estabeleceu uma terceira organização em Baltimore. A mais reconhecida das quatro é a fundada por Louis Farrakhan."
Na parte 2 nos aprofundaremos no mundo da Nação do Islã. Descobriremos que podem de fato ter mais em comum com a Cientologia do que com o Islã e dedicaremos algum tempo comparando os ensinamentos da fé.
Notas de rodapé:
[1] Gnosis Magazine, p. 59. & Lincoln, The Black Church Since Frazier, (New York: Schocken Books, 1989) p. 163. Ambos citados no artigo The Nation of Islam e arquivados em http://www.watchman.org/profile/nationofislampro.htm
[2] Message to the Blackman, Elijah Muhammad. Capítulo 8, parágrafo 5.
[3] Alex Haley, "The Playboy Interview: Malcolm X", Playboy Magazine, May 1963
[4] The Atlanta Journal Constitution, 4 de maio de 1985, p. 3C.
[5] (http://www.watchman.org/profile/nationofislampro.htm)
Nação do Islã (parte 2 de 2)
Descrição: Não há divindade exceto Deus e histórias de ficção científica são companheiros estranhos.
- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
- Publicado em 16 Feb 2015
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Lembrete: Definição da Nação do Islã ~ uma organização religiosa e cultural fundada em 1930 nos Estados Unidos abraçando princípios islâmicos e favorecendo a independência econômica, política e social para os afroamericanos.[1]
Abraçar ~ adotar, defender, apoiar.[2]
Louis Farrakhan, o líder do grupo mais aceito que se auto intitula de "Nação do Islã" nasceu Louis Eugene Walcott em maio de 1933, na cidade de Nova Iorque. Foi recrutado por Malcolm X e progrediu rapidamente nos escalões da Nação do Islã. Depois da morte de Malcolm X tornou-se o porta-voz nacional de Elijah Muhammad. Farrakhan liderou o grupo que se recusou a seguir Warith Deen, o filho de Elijah Muhammad, para o Islã tradicional.
A Nação do Islã representa a esperança para milhões de nosso povo na América e ao redor do mundo que foram privados dos altos padrões de um estilo de vida virtuoso. Essas palavras foram tiradas do website da Nação do Islã e indica que, como o Islã, enfatiza a importância da moralidade e modéstia, respeito mútuo e disciplina no vestir e se comportar. Os membros da Nação do Islã leem o Alcorão e professam acreditar em um Deus Único a quem se referem, assim como os muçulmanos, como Allah. Entretanto, é aqui que terminam as semelhanças. Como mencionado anteriormente, o primeiro pilar do Islã, a fundação absoluta da crença, é o testemunho de fé. Não há divindade exceto Allah e Muhammad é Seu servo e mensageiro final.
O maior pecado no Islã é cometer shirk. Ou seja, associar algo ou alguém com Deus. Como muito enfatizado no Alcorão e nas tradições autênticas do profeta Muhammad, que Deus o louve, só há um Deus. Não tem parceiros, filhos ou filhas e nada é semelhante a Ele. Um aspecto do shirkh é dar a Deus a forma ou qualidades de um ser humano. O Islã afirma que Deus é separado e distinto de Sua criação e que Ele nunca Se tornou ou tornará humano. O fato de a Nação do Islã considerar que Wallace Fard (Muhammad) foi Deus encarnado imediatamente questiona suas crenças e sua associação implícita com o Islã.
Quando Elijah Muhammad, também conhecido como Elijah Poole, assumiu a liderança da Nação do Islã adotou o título de mensageiro de Allah. Em toda a doutrina islâmica é claramente afirmado que Muhammad é o último profeta de Deus.
"Em verdade, Muhammad não é o pai de nenhum de vossos homens, mas sim o Mensageiro de Deus e o último dos profetas." (Alcorão 33:40)
Uma das doutrinas da Nação do Islã afirma - Não há divindade exceto Allah, Que apareceu na pessoa do mestre W.D. Fard Muhammad, nosso salvador, messias e grande Mahdi. Agrademos a Ele eternamente por nos dar Seu mensageiro divino, o último e maior dos mensageiros de Allah para o mundo na pessoa do mais honorável Elijah Muhammad.
Embora a Nação do Islã tenha muitas coisas em comum com o Islã, particularmente a convocação para um comportamento virtuoso e inclua orações cinco vezes ao dia, também há muitos desvio que não podem ser inseridos nas seitas islâmicas, em ramificações ou escolas de pensamento. O Islã afirma categoricamente que todos os seres humanos são criados de maneira igual, independente de raça ou etnia. Entretanto, a Nação do Islã prega a supremacia negra. Ensina que o negro é o humano original e que a partir dele vieram as outras raças, pardos, amarelos e vermelhos, e que o branco é criação de um cientista negro chamado Yacub (profeta Jacó). O Islã, entretanto, tem outra explicação.
Deus criou Adão de um punhado de solo contendo porções de todas as suas variedades na Terra. Os anjos foram enviados para a terra para coletar o solo que viria a se tornar Adão. Era vermelho, branco, marrom e preto. Era macio e maleável, duro e arenoso. Veio das montanhas e dos vales, dos desertos estéreis e das planícies férteis e de todas as variedades naturais entre essas. Os descendentes de Adão estavam destinados a ser tão diversos quanto o punhado de solo do qual seu ancestral foi criado. Todos têm aparências, atributos e qualidades diferentes.[3]
Outros ensinamentos da Nação do Islã incluem o relato de visões de Elijah Muhammad sobre o profeta Ezequiel na Bíblia. Ele o considera uma nave mãe ou OVNI. Isso parece sugerir que a Nação do Islã pode ter mais em comum com a Cientologia[4] do que com o Islã. A história da criação da Cientologia começa há 75 milhões de anos em um lugar distante da galáxia, com um malvado senhor da guerra e bombas explodindo em ilhas isoladas pelo globo. A Nação do Islã tem sua própria conexão intergaláctica.
Entre os ensinamentos de Farrakhan encontramos a história intergaláctica a seguir, completa com uma ilha e três bombas. "O honorável Elijah Muhammad nos contou sobre uma nave mãe gigante que é semelhante ao universo, esferas dentro de esferas". Os brancos as chamam de objetos voadores não identificados (OVNIs). Ezequiel, no Velho Testamento, viu uma roda que parecia uma nuvem de dia e um pilar de fogo à noite. O honorável Elijah Muhammad disse que aquela roda foi construída na ilha de Nippon, agora chamada de Japão, por alguns dos cientistas originais. Custou 15 bilhões de dólares em ouro para construí-la, na época. É feita do aço mais resistente. Disse que existem 1.500 pequenas rodas nessa roda mãe, que mede 800 m por 800 m. Essa roda mãe é como um pequeno planeta construído pelo homem. Cada um desses pequenos planos carrega três bombas.[5]
Nos últimos anos Farrakhan começou a usar os termos da cientologia como engrama, carga, tecnologia de gestão e produto final de valor. Os laços óbvios entre as comunidades negras, particularmente a Nação do Islã de Farrakhan, e a Cientologia começaram em 2006. Naquele ano no Ebony Awards, prêmio anual da cientologia, Farrakhan estava entre os quatro clérigos negros a serem homenageados. Tony Muhammad, o ministro regional do lado oeste da Nação do Islã, foi citado dizendo que estava feliz com a parceria com a Cientologia e revelou um plano para treinar membros da Nação do Islã para administrar "técnicas de estudo" e métodos para tratamento de drogas de Hubbard.
Em fevereiro de 2011 Farrakhan falou para uma casa lotada na arena Allstate em Rosemont, como parte da 81ª celebração anual do Dia do Salvador. Seu discurso cobriu um final de semana de oficinas focadas em saúde, preparação para desastres naturais e objetos voadores não identificados.[6] Farrakhan falou por quatro horas, durante as quais descreveu sua experiência religiosa de 1985 em que ascendeu a um disco voador e ouviu a voz de Elijah Muhammad predizendo eventos que vieram a acontecer. Farrakhan elogiou a Cientologia e seu fundador L. Ron Hubbard e exaltou as virtudes de seu processo de auditoria.
Em contraste a tudo isso, o Islã é uma religião simples. Conclama os seres humanos a adorar seu Criador da maneira que Ele prescreveu. Não é dificultada por ficção científica e racismo. Aos olhos de Deus todos os homens são iguais, independente de cor ou etnia. Distinguem-se uns dos outros somente pela piedade e boas ações. É louvável que a Nação do Islã tenha adotado a moralidade e modos do Islã, mas enquanto não forem capazes de professar o testemunho de fé ~ não há divindade a não ser Allah e Muhammad é seu servo e mensageiro final ~ não podem reivindicar o título de muçulmanos.[7]
Notas de rodapé:
[1] (http://www.thefreedictionary.com/Nation+of+Islam)
[2] (thesaurus.com/browse/espouse)
[3] (http://www.islamreligion.com/articles/1190/
[4]Para mais informação veja (http://www.islamreligion.com/articles/4561/)
[5] Minister Louis Farrakhan, The Divine Destruction of America: Can She Avert It?
[6] (http://articles.chicagotribune.com/2011-02-27/news/ct-met-farrakhan-20110227_1_nation-of-islam-leader-saviours-day-fard-muhammad)
[7] Para mais informação sobre a Nação do Islã e suas ramificações, veja: (http://islamnewsroom.com/news-we-need/1101-nation-of-islam-are-they-real-muslims)
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