Anja, ex-cristã, Alemanha (parte 1 de 4)

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Descrição: Por um período de dois anos e meio, essa estudante universitária passou a levar o Islã muito a sério.  Parte 1.

  • Por Anja
  • Publicado em 18 Aug 2014
  • Última modificação em 18 Aug 2014
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"...Hoje, completei a religião para vós; tenho-vos agraciado generosamente e escolhi para vós o Islã como sua religião..." (Alcorão 5:3)

Nasci em 1967 em uma pequena cidade Sauerland County, Alemanha.  Meu irmão mais novo e eu crescemos no interior, onde meus pais e avós viviam em uma casa para duas famílias.  Meu avô costumava ser o diretor de uma escola primária.  Meu pai queria ter sido guarda florestal, mas ao invés disso se tornou um professor na escola secundária.  Ainda ama muito a natureza.  Mas ao longo dos anos parece ter perdido o amor por Jesus Cristo, o que foi muito decepcionante para minha avó, que sempre foi uma crente firme.  Ela era membro de uma igreja pequena na qual participou ativamente e tentou muito prover um verdadeiro exemplo cristão para seus filhos.  Meu avô, por outro lado, dificilmente poderia ser chamado de um crente; isso foi algo que minha avó só descobriu depois do casamento.  A frequência regular à igreja se mostrou não ser prova de fé.  Até hoje depois de cada serviço religioso meus avós se envolvem em discussões acaloradas sobre a crença cristã em geral e o conteúdo do último sermão em particular.  Essa situação afetou seus três filhos.  Hoje apenas um deles é membro da igreja.

Minha mãe, por outro lado, vem de uma família em que devoção à fé era chave.  A crença nunca foi sujeita à discussão.  Na verdade, nada foi sujeito à discussão. Minha mãe, por ser a mais nova, nunca foi levada a sério. Para o que mais serviria uma filha?  Até hoje ela lamenta não lhe terem permitido aprender outra profissão.  E foi dado como certo que minha mãe se casaria com meu pai. Uma vez que o filho de um professor era um bom partido. A fé compartilhada garantiria um casamento feliz.

Mas durante os primeiros anos o casamento se tornou instável devido a tensões religiosas.  Enquanto minha avó foi eleita a primeira mulher no conselho de anciãos da igreja, meus pais, um de cada vez, deixou a igreja.  E chegou o dia em que não tinham mais nada em comum.  Então, depois de 20 anos de casamento e incontáveis tentativas de se acertarem, ambos concordaram em jogar a toalha e em 1986 o casamento foi dissolvido.

Naquela época meu irmão e eu não éramos muito apegados à religião, o que aumentou a tristeza da minha avó.  Ingressamos em grupos jovens cristãos e fizemos aulas bíblicas, mas nenhum de nós se tornou membro da igreja.  Na verdade não éramos nem batizados.  A igreja a qual minha família pertencia não batizava crianças, só adultos que se decidiam conscientemente a favor de Cristo.  Quando atingimos a idade necessária, ambos decidimos não ser batizados.

Não que eu não fosse interessada em religião.  A religião sempre me fascinou.  O Cristianismo oferece uma abordagem aceitável, na crença em um Deus único, que contatou a humanidade enviando profetas.  Dessa forma Deus ensinou às pessoas quem elas eram e como deviam interagir entre si e com seu meio ambiente.  Mas logo percebi que os valores cristãos podiam ser ajustados facilmente.  O que a teologia cristã ensina?  Todo ser humano é cheio de pecados. O pecado original é um fardo sobre nós desde o nascimento.  Deus enviou Seu filho para o mundo para sofrer e morrer na cruz e nos salvar desse fardo de culpa.  Várias perguntas continuavam sem respostas para mim. O filho de Deus, que supostamente era um homem e ao mesmo tempo o Deus verdadeiro, orava para ser salvo da crucificação, mas para quem ele orava tão ardentemente?  A vida dele se tornou um ponto decisivo da história, que divide povos em "antes" e "depois" de Cristo.  A crença nele é a única maneira de ser salvo.  Ele próprio não disse: "Sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai exceto por mim." (João 14:6)

Com a morte de Jesus a vida eterna perdeu seu terror. O Cristianismo prega que Deus é Amor. Então como pode haver um inferno?  O demônio, que costumava ser um meio de opressão para manter os membros da igreja em ordem, foi aposentado.  Os valores do Cristianismo contemporâneo ficaram bem restritos ao "ame o seu próximo".  Desde que eu não prejudique ninguém, está tudo certo.  Jesus diz: "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir." (Mateus 5:17) A diferença não parece ser tão grande no Cristianismo moderno.  Os mandamentos estão de fora.  A igreja acompanha a época.  Apesar de não suficientemente rápida para alguns de seus membros.

A Bíblia quase não tem mais peso.  É provável que se possa encontrar alguma verdade nela, mas quem decide o que é verdade ou não?  Quem decide o que é válido ou não?  A igreja?  Os teólogos?  Ou é cada um por si?  Não é cada um fabricando a própria crença de acordo com seu próprio conhecimento e consciência?  Sejamos sinceros e paremos de chamar o resultado de Cristianismo.  Chamemos de "Claudismo" ou "Susanismo"!

Cristãos crentes protestarão agora, claro.  Dirão que existe uma base comum.  Bem, onde ela está?  A revelação verdadeira, as palavras que Deus disse a Jesus de Nazaré, onde estão?  Na Bíblia não há nenhum capítulo dedicado a elas.

Frases centrais de fé que dividem a igreja derivaram de relatos históricos e cartas, decididas durante conferências teológicas ou apenas declaradas doutrina de Estado.  E quantas vezes você ouviu: "Você não pode entender isso. Apenas tem que acreditar!" Acredito que Deus nos deu cérebros para que possamos usá-los.  E acredito que uma mensagem de Deus, quando é questionada, tem que oferecer mais respostas do que isso.

Foi isso que disse ao meu instrutor religioso quando minha turma do segundo grau passou o final de semana em um monastério pouco antes da graduação.  Chamaram de "dias de reflexão".  O professor me surpreendeu com sua resposta.  Disse: "Deus não abrirá mão de você. Você verá." No fim ele estava certo, embora provavelmente tivesse imaginado algo um pouco diferente.

Meu interesse em Deus e na religião despertaram novamente quando me deparei com o Islã.  Depois de concluir meu segundo grau, mudei para uma cidade para estudar economia na universidade.  Na época pensei que esse campo de estudo seria bom para conseguir um emprego.  Não estava muito interessada no assunto, mas pensei que meus estudos passariam muito rápido. Ao invés disso, fiquei sujeita a uma atmosfera muito depressiva, com auditórios lotados e aulas entediantes dadas por professores entediantes. Como alunos nessas aulas, estávamos ocupados com outras coisas. "Viu o que a loira alta na terceira fileira está usando hoje?" - "Você tem fogo?"

A vida de estudante, por outro lado, foi fascinante desde o início.  Até aquele momento tinha vivido em uma cidade pequena.  Mesmo durante meu ano como estudante de intercâmbio nos EUA.  Fiquei em uma cidade pequena que me obrigava a visitar a igreja aos domingos! Agora, na universidade, parecia ser um mundo novo se abrindo para mim.  Passei a conhecer muitas pessoas diferentes e gostava de discutir Deus e o mundo.  Entre meus novos conhecidos estavam alguns estudantes estrangeiros, que eram muçulmanos.  Então surgiu o assunto sobre o Islã.

Geralmente me divertia com o pensamento de que ainda havia pessoas que seguiam seriamente uma lei da Idade Média.  Mas na realidade tudo parecia muito diferente do que pensava.  A vida dos estudantes estrangeiros na Alemanha não tem nada em comum com um conto das Mil e Uma Noites.  No começo ainda perguntava a meus vizinhos muçulmanos no alojamento de estudantes, brincando, por que os tomates não tinham que ser cortados seguindo um ritual.  Ou por que um muçulmano, que se lembra de Deus antes de comer e agradece a Deus depois da refeição, não faz a mesma coisa quando bebe sua cerveja no bar.

Mas quanto mais aprendia sobre o Islã, menos engraçadas ficavam essas brincadeiras.  Na verdade a religião islâmica não era tão estranha para mim como sempre tinha pensado.  Redescobri muitos dos componentes dos quais sempre tinha gostado no Cristianismo.  Um, claro, era a crença em Deus.  O Islã é estritamente monoteísta.  Só existe um Deus.  Deus em árabe é "Allah".  A expressão não significa nada além do que "o Deus" e também é usada na versão árabe da Bíblia.

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