Linda Delgado, ex-cristã, EUA (parte 1 de 2)
Descrição: Como uma policial americana veio a saber sobre o Islã.
- Por Linda Delgado (© 2013 Linda D. Delgado)
- Publicado em 10 Jun 2013
- Última modificação em 11 Jun 2013
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Cinco anos atrás estava com cinquenta e dois anos e era cristã. Não era membro de nenhuma igreja cristã, mas toda a minha vida tinha buscado pela verdade. Frequentei muitas igrejas e estudei com seus professores. Todas decepcionaram e não reconheci nenhuma como sendo a verdade sobre Allah. Desde os nove anos li a Bíblia todos os dias de minha vida. Não posso dizer quantas vezes procurei a verdade nela, ao longo dos anos.
Durante os longos anos de minha busca pela verdade, estudei com muitos religiosos. Por um ano estudei duas vezes por semana com um padre católico, mas não consegui aceitar a crença católica. Passei outro ano estudando com as Testemunhas de Jeová e não aceitei suas crenças também. Passei quase dois anos com os mórmons e não encontrei a verdade. Tinha um amigo judeu e tivemos muitas discussões sobre as crenças judaicas. Fui a muitas igrejas protestantes, em algumas por meses, tentando encontrar respostas para minhas perguntas.
Meu coração me dizia que Jesus não era Deus, mas um profeta. Meu coração me dizia que Adão e Eva eram responsáveis por seu pecado, não eu. Meu coração me dizia que devia orar a Deus e ninguém mais. Minha razão me dizia que era responsável por meus bons e maus atos e que Deus nunca assumiria a forma de um homem para me dizer que eu não era responsável. Ele não precisava viver e morrer como um humano; afinal de contas, Ele é Deus.
Então lá estava eu, cheia de perguntas e orando a Deus por ajuda. Tinha um temor real de morrer e não saber a verdade. Orei e orei. Recebi respostas de pregadores e padres do tipo: “Isso é um mistério.” Sentia que Deus queria que as pessoas fossem para o paraíso e não transformaria em mistério como chegar lá, como viver a vida de acordo com isso e como compreendê-Lo. Sabia em meu coração que tudo que ouvia não era verdade.
Moro no Arizona, EUA, e com a idade de cinquenta e dois anos nunca tinha conversado com um muçulmano. Eu, como muitos ocidentais, tinha lido muito na mídia sobre o Islã ser uma religião fanática de terroristas e nunca tinha pesquisado livros ou informação sobre o Islã. Não sabia nada sobre a religião.
Minha Descoberta
Há cinco anos aposentei-me depois de vinte e quatro anos como policial. Meu marido também se aposentou como policial. No ano anterior à minha aposentadoria ainda era sargento da polícia/supervisora. Policiais em todo o mundo tem um elo comum que chamamos de irmandade policial. Sempre nos ajudamos, independente do departamento policial ou país.
Naquele ano recebi um folheto pedindo ajuda com um grupo de policiais sauditas que tinham vindo para os Estados Unidos aprender inglês na universidade local e frequentar uma academia de polícia na cidade em que moro. Os policiais sauditas procuravam casas para morar com famílias anfitriãs para aprender sobre os costumes americanos e praticar o inglês que aprendiam.
Meu filho cuidava de minha neto como pai solteiro. Nós o ajudamos a encontrar uma casa próxima da nossa para que pudéssemos ajudar na educação dela. Conversei com meu marido e decidimos que seria bom ajudar esses policiais. Seria uma oportunidade para nossa neta aprender sobre pessoas de outro país. Disseram que os jovens eram muçulmanos e estava muito curiosa.
Na universidade estadual do Arizona o intérprete saudita trouxe um jovem chamado Abdul para nos encontrar. Ele não falava inglês. Mostramos a ele um quarto e banheiro, que poderia ser dele quando ficasse conosco. Gostei de Abdul imediatamente. Sua maneira respeitosa e gentil conquistou meu coração!
Depois Fahd foi levado para nossa casa. Era mais jovem e mais tímido, mas um rapaz maravilhoso. Tornei-me tutora deles e compartilhamos muitas discussões sobre trabalho policial, os EUA, Arábia Saudita, Islã, etc. Observei como se ajudavam e também aos outros dezesseis policiais sauditas que vieram para os EUA aprender inglês. Durante o ano que ficaram aqui, passei a admirar e respeitar Fahd e Abdul por não deixarem a cultura americana ter qualquer impacto sobre eles. Iam à mesquita nas sextas-feiras, faziam suas orações mesmo estando cansados e eram sempre cuidadosos com o que comiam, etc. Mostraram como cozinhar algumas comidas tradicionais sauditas e me levaram aos mercados e restaurantes árabes. Eram muito gentis com minha neta. Eles a cobriram de presentes, brincadeiras e amizade.
Tratavam meu marido e eu com muito respeito. Todo dia ligavam para saber se eu precisava que fossem ao mercado antes de irem estudar com seus amigos sauditas. Mostrei a eles como usar o computador e pedir jornais árabes online e comecei a pesquisar na internet para aprender mais sobre eles, seus costumes e religião. Não queria fazer coisas que os ofendessem.
Um dia perguntei se tinham um Alcorão extra. Queria ler o que tinha a dizer. Contataram sua embaixada em Washington DC e conseguiram para mim um Alcorão em inglês, tapes e outros panfletos. A pedido meu, começamos a discutir o Islã (tinham que falar em inglês e isso se tornou o foco de nossas sessões de tutoria). Passei a amar esses rapazes e me contaram que eu era a primeira não-muçulmana a quem tinham ensinado o Islã! Depois de um ano eles completaram seus estudos e treinamento na academia de polícia. Fui capaz de ajuda-los com seus estudos na polícia, já que tinha sido instrutora da polícia durante minha carreira policial. Convidei muitos de seus irmãos-policiais para a minha casa para ajudar com os projetos da universidade e praticar inglês. Um irmão trouxe a esposa para ficar aqui nos EUA e fui convidada para ir a casa deles. Foram muito graciosos e pude conversar com a esposa dele sobre vestimenta islâmica, abluções para oração e coisas semelhantes.
Uma semana antes dos “meus filhos postiços” retornaram para casa na Arábia Saudita, planejei um jantar familiar com suas comidas tradicionais favoritas (comprei uma parte porque não sabia como cozinhar todas elas). Comprei um hijab e uma abaia (longa túnica islâmica). Queria que quando fossem para casa lembrassem-se de mim vestida apropriadamente como uma irmã muçulmana. Antes de comermos disse minha shahada (declaração pública de fé). Os meninos choraram e sorriram e foi muito especial. Acredito em meu coração que Allah enviou os meninos para mim em resposta aos meus anos de orações. Acredito que Ele me escolheu para ver a verdade através da luz do Islã. Acredito que Allah enviou o Islã para a minha casa. Eu O louvo por Sua misericórdia, amor e bondade comigo.
Minha Jornada no Islã
Meus meninos sauditas voltaram para sua terra natal uma semana após minha reversão. Senti muito a falta deles, mas continuava feliz. Filiei-me a uma mesquita local como membro quase imediatamente após minha reversão e me registrei como muçulmana. Estava antecipando uma boa acolhida de minha nova comunidade muçulmana. Pensava que todos os muçulmanos eram como os meus meninos sauditas e os outros jovens policiais sauditas que tinha encontrado e passado tempo durante o ano anterior.
Minha família continuava em estado de choque! Achavam que ficaria nessa nova religião por um tempo, ficaria desgostosa e seguiria em frente para outra religião, como tinha feito durante toda minha vida adulta. Estavam surpresos com as mudanças que comecei a fazer em minha vida diária. Meu marido é um homem amigável e quando eu disse que passaríamos a comer alimentos halal e eliminar os alimentos haram (proibidos) ele disse “ok”.
Minha próxima mudança foi remover fotos de pessoas e animais dos quartos na casa. Um dia meu marido chegou em casa do trabalho e me viu colocando as fotos de família que antes estavam nas paredes de nossa casa em álbuns de foto grandes e belamente encadernados. Observou e não comentou.
Em seguida escrevi uma carta para minha família não-muçulmana contando a eles sobre minha reversão e como isso mudaria e não mudaria nossas relações familiares. Expliquei um pouco dos básicos do Islã. Minha família continuava sem se pronunciar e eu continuei a trabalhar no aprendizado da oração e leitura do meu Alcorão. Fiquei ativa em grupos de irmãs na internet e isso facilitou meu aprendizado sobre minhas novas crenças.
Linda Delgado, ex-cristã, EUA (parte 2 de 2)
Descrição: Novas experiências após abraçar o Islã.
- Por Linda Delgado
- Publicado em 17 Jun 2013
- Última modificação em 17 Jun 2013
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Também frequentei uma aula de “Fundamentos do Islã” na mesquita quando pude sair do meu trabalho. Continuava sendo um sargento da polícia e era difícil - não, impossível, me cobrir. Isso se tornou uma fonte de descontentamento e preocupação reais para mim. Em oito meses poderia me aposentar e, assim, pedi e consegui o direito de trabalhar de maneira remota de minha casa três dias por semana, fazendo planejamento e projetos de pesquisa.
Depois que os primeiros seis meses tinham passado, as irmãs na mesquita que frequentava ainda não tinham me recebido bem. Estava desapontada. Comecei a me sentir como uma intrusa. Estava intrigada e preocupada. Tentei tornar-me ativa nos serviços comunitários com umas poucas irmãs que tinham sido amigáveis comigo. Procurei pela gentileza, amizade e excelentes maneiras que eram praticadas diariamente por meus meninos sauditas. Cometi muitos erros na mesquita, como falar no salão de oração enquanto tentava levantar e abaixar do chão. Fui a uma celebração da comunidade e comi com minha mão esquerda; usei esmalte em minhas unhas e fui repreendida. Fiz wudu (abluções) incorretamente e me torceram o nariz. Fiquei muito desencorajada.
Então um dia recebi um pacote no correio de uma irmã-amiga que tinha encontrado na internet. No pacote havia várias abaias, hijabs, meias de seda e uma nota calorosa e amigável me dando as boas vindas como sua irmã no Islã. Ela mora no Kuwait. Em seguida uma irmã querida me enviou uma roupa para oração e um tapete de oração que fez a mão. Essa irmã mora na Arábia Saudita. Recebi um e-mail que tinha uma afirmação que sempre lembro nas vezes que tenho aquela sensação de ser uma “estrangeira”. A nota dizia:“Estou feliz por ter me tornado muçulmana antes de encontrar muitos muçulmanos.” Não é um insulto. É um lembrete de que o Islã é perfeito e nós muçulmanos somos imperfeitos. Assim como tenho falhas, minhas irmãs e irmãos também podem ter. Também comecei a entender o que pessoalmente acredito ser uma das grandes dádivas que Allah deu aos muçulmanos: a irmandade no Islã.
Durante os últimos quatro anos minha vida mudou muito. Minha família passou a aceitar com generosidade e tolerância que sou muçulmana e continuarei muçulmana. Todos os agradecimentos são para Allah, por me poupar das tribulações com as quais muitos revertidos têm que lidar com a família tentando dissuadi-los do Islã.
Gradualmente fiz algumas amizades com irmãs localmente e pelo ciberespaço dúzias de amigas irmãs se tornaram minha família muçulmana, me dando apoio, amor e amizade. Foi perto do meu primeiro ano como muçulmana que fiquei doente com uma série de doenças apresentando risco de vida. Apeguei-me à corda do Islã e sou grata pelo chá de semente preta e pela água de Zam-Zam que minhas amigas-irmãs enviaram para mim de todo o mundo, junto com suas súplicas diárias.
À medida que minha saúde continuou a fraquejar e fiquei mais fraca fisicamente, tive que descontinuar o trabalho comunitário e fiquei mais isolada da comunidade muçulmana local. Continuei a trabalhar duro em minha oração, tendo grande dificuldade com a pronúncia do árabe, mas sem desistir. Minha professora islâmica fez algumas gravações e uma irmã as trouxe para minha casa para me ajudar. Depois de dois anos tinha aprendido a recitar quatro suratas (capítulos) do Alcorão. Pode parecer um número pequeno para a maioria dos muçulmanos, mas para mim foi uma grande realização. Passei a me dedicar ao aprendizado das palavras para outras partes da oração: outros dois anos de esforço.
Durante a parte inicial do meu terceiro ano como muçulmana sofri um ataque cardíaco e fiz uma cirurgia cardíaca. Foi um período triste para mim, porque sabia que nunca mais poderia tocar minha cabeça no chão ao orar e teria que sentar em minha cadeira e orar dali para frente. Foi nessa época que verdadeiramente compreendi a provisão de Allah de que o Islã é a religião da facilidade. Orar sentada na cadeira é aceitável; não jejuar quando se está doente é aceitável. Não tinha que me sentir menos muçulmana por causa dessas circunstâncias.
Depois de visitar várias mesquitas e observar que éramos como uma mini Nações Unidas, comecei a ver que os pequenos grupos dentro da mesquita eram na maioria formados com base na língua e cultura e não por gostar ou desgostar de qualquer pessoa. Senti-me bem que, independente dessas diferenças, podia sempre contar com um sorriso e um “Assalamu alaikum!”
Depois de um tempo comecei a gravitar ao redor de irmãs que são revertidas ao Islã como eu. Temos muito em comum - experimentamos muitas das mesmas tribulações, como membros da família que não são muçulmanos, dificuldade em pronunciar o árabe, ficar sozinhas nos feriados muçulmanos e não ter um membro da família para quebrar o jejum durante o Ramadã. Às vezes nossas reversões significam perder amigos de toda uma vida que simplesmente não conseguem aceitar nossos novos hábitos ou por causa de nossa descontinuação de atividades comuns aos não-muçulmanos, como dança e a mistura em grupos.
Quando fiquei menos capaz de fazer serviços comunitários, procurei alguma forma de contribuir para a comunidade muçulmana como um todo. Pedi continuamente a Allah por Sua ajuda nesse ponto. Um dia, minha jovem neta sugeriu que escrevesse livros sobre meus meninos sauditas, Islã e minha experiência familiar com o Islã. Decidi escrever os livros e também inclui histórias sobre um grupo de jovens meninas, muçulmanas e não-muçulmanas, que eram amigas. As histórias incluiriam os problemas que as jovens encontravam na escola e em casa e usaria meu conhecimento do Islã como guia para esses personagens do livro.
Comecei a escrever uma série de livros que chamei de Islamic Rose Books. Criei um grupo para irmãs autoras na internet e escritoras aspirantes e isso evoluiu para a criação da Islamic Writers Alliance (Aliança de Escritoras Islâmicas). A Aliança é uma organização internacional criada para prover apoio para autoras muçulmanas e escritoras aspirantes. Nosso objetivo principal é nos ajudarmos a promover nossos trabalhos como leitoras e editoras. Também decidi ajudar dois bancos islâmicos de alimentos, criando bancos de dados que ajudam a rastrear seu inventário, clientes e contatos para gerar relatórios necessários com o propósito de financiamento. Decidi que passaria uma grande parte de meus lucros das vendas do livro para comprar livros para bibliotecas islâmicas para crianças. Descobri que muitas bibliotecas têm muitas prateleiras vazias no setor de livros islâmicos.
Ainda tenho muito a aprender sobre o Islã. Nunca me canso de ler o Alcorão e um dos meus passatempos favoritos é ler sobre figuras islâmicas históricas e proeminentes. Quando estou insegura sobre algo no Islã, olho para a Sunnah do profeta (que a paz esteja com ele). Vejo como reagiu a situações e uso isso como minha orientação. Minha jornada no Islã continuará e estou ansiosa por muitas experiências novas. Agradeço a Allah por Sua Misericórdia e Amor.
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