Reflexões filosóficas (parte 1 de 5)
Descrição: Essa série de artigos fornece uma estrutura conceitual para responder às “grandes questões” relacionadas a nossa existência. Parte 1 discute a necessidade de buscar pela verdade.
- Por Hamza Andreas Tzortzis
- Publicado em 27 Jun 2016
- Última modificação em 27 Jun 2016
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Essas reflexões filosóficas são meus pensamentos sobre verdade, sucesso, propósito, morte, pensamento e visão de mundo. Foram escritos com a intenção de expressar meu pensamento inicial, que levou às minhas conclusões atuais sobre a vida. Terminei deliberadamente em perguntas, ao invés de respostas, porque queria fornecer uma estrutura conceitual para os leitores que podem não compartilhar de minha visão de mundo e buscar as respostas por si próprios. Foram incluídos versículos relevantes do Alcorão como dispositivos literários introdutórios, para evocar o pensamento e estabelecer um cenário mental. Essa abordagem é um tema principal no Alcorão, já que frequentemente menciona: "Não refletem?"
Há um provérbio africano que afirma: "Aquele que pergunta não pode evitar as respostas" e espero que essas reflexões evocarão o pensamento e facilitarão a orientação para todos que a buscam.
Verdade
"(Esta é a) Verdade emanada de teu Senhor.
Não sejas dos que dela duvidam!" (Alcorão 2: 147)
"E não disfarceis a verdade com a falsidade, nem a
oculteis, sabendo-a." (Alcorão 2: 42)
A questão da verdade tem deixado a mente de quase todo ser humano que viveu nesse planeta perplexa. O que é verdade? Como conhecemos a verdade? Existe a verdade? Esse tipo de pensamento remonta ao filósofo grego Sócrates, quando um rapaz perguntava e buscava incansavelmente a verdade. Entretanto, em nossos dias atuais não pensamos realmente sobre conceitos como a verdade. Podemos argumentar "diga-me a verdade!" se suspeitamos de traição de nossos amigos ou "juramos dizer a verdade" em um tribunal, mas quando se trata de nossa existência e ao questionamento do que significa ser um ser humano, esquecemos sobre a verdade e adotamos o ceticismo como filosofia.
O ceticismo responde na negativa a pergunta a seguir: podemos saber alguma coisa? Isso essencialmente implica a crença de que a verdade sobre a vida e o universo nunca serão conhecidos. Fundado por Pirro de Elis, o ceticismo foi defendido e registrado pelo filósofo grego Sexto Empírico, que foi o primeiro a detalhar e codificar a doutrina. Essa escola de filosofia é comum na sociedade de hoje. Entretanto, sua abordagem em relação à verdade é despropositada porque podemos descobri-la, e a única maneira de fazê-lo é por meio do questionamento interminável e insistente. Sócrates foi muito bom no questionamento e ao fazê-lo fazia seus oponentes perceber a verdade. Isso porque ele acreditava que a verdade já estava dentro de nós. Por exemplo, existem muitos princípios universais que não podemos negar e negá-los seria negar o conhecimento em si. Considere, por exemplo, duas tábuas de madeira iguais em comprimento: sabemos que são iguais porque têm o mesmo comprimento ou sabemos o que é o conceito de igualdade antes de nossa experiência? É porque temos o conceito de igualdade inato e integrado que temos a capacidade de ver que as tábuas de madeira são do mesmo comprimento. Também sabemos que a metade de algo é menos que o todo e conhecemos a verdade de que todos os pais são homens. Essas ideias e conceitos inatos são conhecidos em epistemologia como a priori, o que significa conhecimento independente de experiência.
A partir de uma perspectiva prática a posição do cético é insustentável, porque conhecemos a verdade das leis da física que permitem que pontes sustentem cargas pesadas, incluindo as leis que permitem que barcos flutuem. Se uma posição cética fosse assumida ao construirmos nossas casas, concordaríamos em implementar o projeto do arquiteto? O filósofo polonês Leszek Kolakowski escreve:
"Podemos dizer: bem, como não sabemos nada, qual a finalidade de construir teorias que não têm base? Mas se filósofos e sábios tivessem tentado seriamente alcançar essa serenidade de autossatisfação, teriam sido capazes de construir nossa civilização? A física moderna teria sido inventada?"
Assim, existem algumas verdades universais que nos sentimos seguros em aceitar e a maneira de encontrar outras verdades é usar essas verdades universais como ponto de partida, o que é chamado de fundacionismo epistêmico, na linguagem de filosofia.
A importância da verdade foi enfatizada por muitos pensadores do passado e do presente. Platão, o filósofo da antiguidade, disse: "E não é ruim ser iludido sobre a verdade e bom saber o que é a verdade? Porque suponho que por saber a verdade você quer dizer conhecer as coisas como elas realmente são." Então, por que é importante a busca pela verdade? A significância da verdade não é somente intuitiva; é algo que nos dá um senso de realidade, de que as coisas são reais. Na ausência de verdade, a vida pode parecer irreal e ilusória em certo sentido. Adicionalmente, muitos psicólogos reconheceram que os seres humanos querem estar certos e buscam aprender de normas sociais quando não estão certos sobre coisas. Esse processo psicológico é conhecido como "Influência social normativa e informacional". Nessa visão a busca pela verdade é muito importante, pois tem a possibilidade de moldar quem somos ou a pessoa que queremos ser.
Outra maneira de ver é que não buscar pela verdade equivale a mentir para nós mesmos ou até aceitar uma mentira, porque qualquer outra coisa além da verdade será aceitar o seu oposto. Assim, a busca pela verdade seria um meio de tentarmos ser mais sinceros com nossa própria existência, pois estaríamos buscando estabelecer a verdade de quem somos e a vida que estamos vivendo. Finalmente, apegar-se à opinião cética de que não existe verdade é contraproducente, porque a alegação de que não há verdade é de fato uma afirmação de verdade. Então, como pode alguém afirmar que o ceticismo é verdadeiro, mas tudo o mais não é? Essa é a inconsistência da posição cética; um cético afirma a verdade do ceticismo, mas nega todas as outras verdades! Consequentemente, não importa qual posição sustentemos, ainda temos que aceitar a verdade e, em vista disso, que a busca pela verdade comece!
Reflexões filosóficas (parte 2 de 5)
Descrição: Essa série de artigos fornece uma estrutura conceitual para responder às “grandes questões” relacionadas a nossa existência. Parte 2 nos encoraja a refletir sobre o que é sucesso de fato, e se nossa existência tem um propósito.
- Por Hamza Andreas Tzortzis
- Publicado em 04 Jul 2016
- Última modificação em 04 Jul 2016
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Sucesso
"... são os bem-sucedidos." (Alcorão 7:157)
"Em verdade, esse é o sucesso supremo!" (Alcorão 37:60)
Uma das melhores definições que encontrei para sucesso é "A conclusão do que é pretendido". Por exemplo, se tenho a intenção de aprender a dirigir e passo no teste de direção, isso seria um sucesso. Como seres humanos temos a intenção de alcançar coisas o tempo todo; conseguir uma promoção; sermos nosso próprio patrão; ser um bom pai e marido; viajar pelo mundo ou escrever um livro. Se alcançamos ou concluímos nossos objetivos podemos argumentar que fomos bem-sucedidos. Entretanto, essa visão de sucesso tem sentido? Diria que não.
Se vivemos nossas vidas para concluir as coisas que temos a intenção de alcançar, sem mesmo questionar a intenção de nossa própria existência, não teremos encontrado nenhum significado fundamental para nossas próprias vidas. Portanto, nossa visão de sucesso é quase infundada e destituída de valor real. Se cada pessoa completa sua vida ao ter a intenção de alcançar todas as coisas que mencionamos e nem ao menos completou o significado pretendido para sua vida, podemos considerar sua vida como bem-sucedida? Podemos até perguntar: realmente importa até se existiram ou não? A vida dela pode ser de alguma importância relacionada às coisas que querem concluir, mas qual é a importância fundamental de concluir sua própria vida?
Vejamos de uma perspectiva científica: nossos filhos, nossas ações, nossos entes queridos e tudo que fazemos são apenas arranjos de moléculas. Carbono e outros átomos em várias combinações compõem nossas vidas e até as coisas que pretendemos concluir. A partir dessa perspectiva a humanidade não é mais importante que um enxame de moscas ou um rebanho de ovelhas, porque sua composição é a mesma. Se seguirmos a linha de pensamento científico nosso fim também não tem sentido. Apenas morremos. Isso é verdade para todas as pessoas. As realizações maravilhosas do cientista para o avanço do pensamento humano, a pesquisa de biomedicina em andamento para encontrar a cura do câncer, os esforços do político para estabelecer justiça e paz no mundo, tudo isso se reduz a nada. Mesmo que os seres humanos existissem para sempre, a mera duração infinita de nossas vidas não as faria mais significativas. Continuariam sem uma importância fundamental.
Existencialistas como Jean-Paul Sartre e Albert Camus compreenderam a realidade sem significado da vida, na ausência do reconhecimento de propósito para nossa existência. É por isso que Sartre escreveu sobre a "náusea" da existência e Camus via a vida como absurda, indicando que o universo não tem significado algum. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche argumentou em pronunciamentos claros e concisos que o mundo e a história humana não têm qualquer significado, qualquer ordem racional ou objetivo. Nietzsche argumentou que só existe um caos insensato, um mundo sem direção e sem fim.
Se constatássemos a intenção de nossa existência, dando às nossas vidas um significado fundamental, e alcançássemos e completássemos o que foi pretendido - isso seria sucesso verdadeiro. Em contraste a esse tipo de pensamento pode-se argumentar afirmando que toda essa discussão supões que alguma entidade metafísica criou todo o universo com algum tipo de propósito. Isso é verdade, mas ao remover essa suposição estaremos apenas presumindo que o ateísmo é verdadeiro. Adicionalmente, a conclusão lógica do ateísmo é que nossa existência não tem sentido, uma conclusão que poucos ateus gostariam de seguir, por estar em conflito com nossa natureza inata e disposição psicológica. Então as perguntas a seguir surgem naturalmente: qual a intenção de nossa existência e qual perspectiva daria sentido a nossa busca contínua por significado e sucesso fundamentais?
Propósito
"Assim, pois, aonde ides?" (Alcorão 81:26)
"Senhor nosso! Não criaste isto em vão." (Alcorão
3:191)
"Deus não criou isto senão com prudência; ele elucida
os versículos aos sensatos." (Alcorão 10:5)
O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, que inspirou dois dos movimentos filosóficos principais do século 20, disse uma vez: "Não sei por que estamos aqui, mas estou certo que não é para nos divertirmos." Wittgenstein não tinha a respostas para a pergunta eterna de qual é o propósito da humanidade, mas indicou que deve haver um, mesmo que a resposta não possa ser descoberta de forma intuitiva. Entretanto, pode-se argumentar que a suposição de que há um propósito pode ser falsa e, se for falsa, então não há com o que se preocupar e devemos todos apenas seguir vivendo. Como Albert Camus, o filósofo e jornalista franco-argelino, que recebeu o Nobel de Literatura, explicou: "Você nunca viverá se estiver procurando pelo significado da vida." O ponto de Camus não é ontológico, não investiga a natureza da realidade, e sua preocupação parece ser existencial, o que significa que o importante é como a vida funciona para você, a vida do indivíduo, independente de qualquer verdade por trás da existência. Em vista disso, devemos perguntar: é razoável acreditar que temos um propósito?
Para responder, leve em consideração os pontos a seguir:
Você provavelmente está lendo isso em seu quarto, sentado em sua cadeira e, definitivamente, está usando algumas roupas. Então, pergunto: para qual propósito? Por que está usando as roupas e qual o propósito da cadeira? Como são perguntas retóricas você não tem que respondê-las, porque todos sabemos a resposta. O propósito da cadeira é nos permitir sentar apoiando nosso peso e nossas roupas cumprem o propósito de nos manter aquecidos, ocultar nossa nudez e nos dar uma boa aparência! Agora, do seu quarto deixe-me transportá-lo para uma floresta em algum lugar no mundo. Essa floresta obviamente tem árvores e em uma árvore em particular há uma mariposa. Essa mariposa está nessa árvore bebendo sua seiva e sob essa mariposa há outra mariposa, cujo papel é um tanto bizarro, porque bebe o excremento da primeira mariposa. Isso porque a primeira mariposa quase instantaneamente remove seu resíduo enquanto bebe a seiva. Você provavelmente está pensando onde estou indo com esse argumento. Bem, primeiro discutamos qual o propósito da segunda mariposa. Seu propósito é limpar o excremento da primeira, para prevenir que escoe pela árvore e formigas e outros insetos sejam encorajados a seguir pela trilha e, em consequência, comer a primeira mariposa. Então, em termos simples a segunda mariposa é a apólice de seguros da primeira!
Agora, leve isso em consideração. Você provavelmente não sabia de nada sobre essa mariposa três minutos atrás. De fato, se o genocídio da mariposa ocorresse, você não se importaria - bem, a maior parte de vocês. Entretanto, atribuímos propósito a uma criatura insignificante e, voltando às nossas roupas e à cadeira, que são objetos inanimados sem faculdades emocionais e mentais, atribuímos propósito a eles também! Ainda assim, não atribuímos propósito a nossa própria existência? Não é absurdo?
Reflexões filosóficas (parte 3 de 5)
Descrição: Essa série de artigos fornece uma estrutura conceitual para responder às “grandes questões” relacionadas a nossa existência. Parte 3 continua com a discussão sobre se nossa existência tem um propósito.
- Por Hamza Andreas Tzortzis
- Publicado em 11 Jul 2016
- Última modificação em 11 Jul 2016
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Acreditar que não temos propósito não é só irracional, é problemático em termos práticos, porque apresenta uma indicação de que muitas das coisas que alcançamos como seres humanos muito provavelmente não teriam acontecido, já que muitas das pessoas que realizaram conquistas surpreendentes, inclusive a descoberta da penicilina, não teriam tido a motivação para alcançar o que alcançaram. Isso porque essas muitas pessoas tinham uma abordagem à vida motivada por um propósito, sem o qual seriam como animais obedecendo nossos instintos. Em outras palavras, robôs químicos vagando à espera da bateria secar! As realidades de uma existência sem propósito também foram destacadas pelo filósofo Arthur Schopenhauer que afirmou que o mundo está falido e não há razão para alegrar-se por sua existência. Ele até argumentou que seria melhor se não existisse e questionou se o suicídio era uma solução plausível.
Por que isso é irracional? Bem, é irracional porque se tudo complexo e projetado que descobrimos parece ter um propósito, incluindo a mariposa insignificante e também as coisas que desenvolvemos e criamos, então logicamente temos um propósito também. Negar isso seria equivalente a acreditar em coisas sem qualquer evidência, já que não há evidência para dizer que não temos propósito. Ao contrário, temos evidência para dizer que as coisas têm um propósito e podemos inferir o mesmo sobre nós mesmos também. Até os cientistas indicam que é irracional afirmar que nosso universo é impessoal e produto de acaso. É interessante que explicaram que os processos físicos no universo têm algum tipo de propósito. Por exemplo, o astrônomo Sir Fred Hoyle descreveu o universo com os atributos de Deus e os físicos Zeldovich e Novikov perguntaram por que a natureza escolheu criar esse universo, ao invés de outro?
Finalmente, podemos argumentar que sem um propósito não temos um significado mais profundo para nossa vida. Por exemplo, se adotarmos a conclusão lógica de uma visão científica apática sobre nossa existência, estamos em um barco naufragando. Esse barco é chamado o universo porque, de acordo com cientistas, o universo sofrerá uma morte quente e um dia o sol destruirá a terra. Portanto, esse barco afundará. Pergunto a você: qual o objetivo de remodelar as cadeiras do deck ou dar um copo de leite para a idosa? Como Fyodor Dostoyevsky, o escrito e ensaísta russo disse: "Sem algum objetivo e algum esforço para alcançá-lo, ninguém consegue viver."
Várias disputas podem se seguir a partir dessa discussão. Primeiramente, uma visão de mundo sem propósito nos dá mais liberdade para criar propósito para nós mesmos. Para explicar ainda mais, alguns existencialistas têm argumentado que nossa vida é, de fato, baseada em nada e desse nada podemos criar um novo campo de possibilidade para nossas vidas e, portanto, criar propósito para nós mesmos. Essa filosofia se apoia na ideia de que tudo é sem sentido e devemos criar uma nova linguagem para nós mesmos, de modo a levar vidas gratificantes. A falha nessa abordagem é que usa significado para afirmar ausência de significado. Também representa uma auto ilusão, já que negam propósito, mas criam um para si mesmos. Adicionalmente implica em não haver verdades e valores morais objetivos, porque está ausente uma base ontológica. Isso é contra intuitivo e se opõe ao nosso consenso intercultural de nosso pensamento moral. A filosofia de guerra é um bom exemplo para mostrar esse tipo de consenso moral. Por 2.500 anos houve um acordo intercultural que não se deve usar venenos na guerra, mesmo que se esteja sendo derrotado. Embora na prática as pessoas nem sempre cumpram, de fato concordaram com essa norma.
Outra disputa inclui a posição do evolucionista de que nosso propósito é propagar nosso DNA, como a afirmação de Richard Dawkins em sua publicação "O Gene Egoísta", de que nossos corpos foram desenvolvidos para fazer exatamente isso. O problema com essa análise é que relega nossa existência a um acidente aleatório por meio de um prolongado processo biológico. Em essência, o valor de nossa vida perde seu significado e a moralidade é relegada ao gosto do indivíduo, como afirma Michael Ruse, um filósofo de ciência:
"A moralidade é uma adaptação biológica como as mãos, os pés e os dentes... A moralidade é apenas um auxiliar para a sobrevivência e a reprodução e qualquer significado mais profundo é ilusório."
A perspectiva evolucionária cria mais problemas do que soluções, já que não consegue fornecer uma explicação adequada para a consciência e a presença de nossas faculdades racionais. Adotando a consciência como exemplo, como uma realidade imaterial subjetiva pode vir de uma substância material? A consciência não é uma coisa física; não está contida em qualquer célula ou estrutura biológica. A realidade mais intuitiva e inquestionável é que somos todos conscientes, mas não conseguimos descrever ou explicar o que é essa consciência. Uma coisa da qual podemos estar certos é que essa consciência não pode ser explicada biológica ou quimicamente e a principal razão para isso é que a evolução não descobre a consciência. É justamente o contrário. Porque a evolução tentar e explicar a verdade da consciência seria equivalente a debater em um círculo! Até os cientistas reconhecem isso. O físico Gerald Schroeder destaca que não há diferença real entre um monte de areia e o cérebro de um Einstein. Para os que advogam uma explicação física para a consciência, seriam necessárias respostas para perguntas mais complexas: "como certos pedaços de matéria repentinamente criam uma nova realidade que não tem semelhança com a matéria?"
Então, se a consciência não pode ser explicada fisicamente, a próxima pergunta deve ser: "como veio a existir?" A história do universo indica que a consciência surgiu espontaneamente e a linguagem emergiu sem qualquer precursor evolucionário. Até os neo-ateus fracassaram em chegar a um acordo sobre a natureza da consciência ou sua fonte, porque não há explicação física coerente o suficiente para convencer. Até o neo-ateu Richard Dawkins admite a derrota em relação à consciência e afirma: "Não sabemos. Não a compreendemos."
Em conclusão, existem mais razões para acreditar que temos um propósito mais profundo, ao invés das outras opções de ausência de propósito e propagação fria e sem valor de nosso DNA. Perceber que temos um propósito é a melhor explicação por meio de inferências que fazemos em relação ao universo e as coisas que nos rodeiam. Atribui-se ao filósofo escocês David Hume a frase: "Um homem sábio correlaciona sua crença à evidência". Assim, nesse caso, seria mais sábio concluir que seres humanos devem ter um propósito e não esqueçamos que isso nos nutre com uma explicação mais significativa para nossa existência. Entretanto, naturalmente surge a pergunta: qual é nosso propósito?
Reflexões filosóficas (parte 4 de 5)
Descrição: Essa série de artigos fornece uma estrutura conceitual para responder às “grandes questões” relacionadas a nossa existência. Parte 4 nos lembra que pensar sobre a morte é a força impulsionadora por trás da reflexão sobre as questões que realmente importam e começa a discussão sobre o processo de pensamento que deve ser empregado para alcançar as conclusões certas.
- Por Hamza Andreas Tzortzis
- Publicado em 25 Jul 2016
- Última modificação em 01 Aug 2016
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Morte
"Toda a alma provará o sabor da morte."
(Alcorão 21:35)
"Onde quer que vos encontrardes, a morte vos
alcançará..." (Alcorão 4:78)
A morte é algo que nós seres vivos não gostamos de pensar a respeito. Cria a percepção dentro de nós de que todos os apegos que construímos nesse mundo não existirão mais. É significativo que nos desperta para o fato brutal de que não existiremos mais no planeta. Têm havido muitas filosofias sobre a morte. Por exemplo, pensadores discutiram que a morte é uma interrupção da vida, como o sono ou uma doença, só que permanente. Outros explicaram que a morte deve ser considerada como parte da vida, algo que toda pessoa tem que se reconciliar para viver bem; parte do que está envolvido na aceitação de nossa finitude. Alguns pensadores afirmaram que a morte deve ser considerada como uma transição dessa vida para uma vida posterior, a vida eterna de bênção ou dor.
Qualquer que sejam nossas opiniões sobre a morte, uma coisa com a qual todos concordamos é que é algo sobre o qual não pensamos o suficiente. Pode soar mórbido, mas existe um valor profundo em refletir sobre a morte, porque traz a percepção de que somos todos seres humanos com uma vida curta. Nossos egos não parecerão mais tão importantes, nossos apegos e desejos ao mundo material são colocados em perspectiva e nossas vidas são questionadas. Tudo isso é uma fonte de grande benefício, como disse o teólogo e filósofo do século 11, al-Ghazali: "...na recordação da morte existe recompensa e mérito." Contemplar a morte provoca o pensamento e nos dá aquela janela em nossas vidas para refletir realmente sobre a natureza efêmera de nossa existência.
À luz da morte, como devemos ver a vida? O que ela nos diz sobre a importância que damos às coisas e como dá significado à nossa existência? Se virmos a vida por meio das lentes da morte, parecemos estar em um espaço emocional e intelectual no qual podemos de fato avaliar nossa situação nesse planeta. De onde viemos? O que devo fazer aqui? Para onde estou indo? A morte é a força impulsionadora por trás dessas perguntas críticas, porque no momento em que reconhecemos que essa vida é curta e que daremos nosso último suspiro um dia, tudo fica em perspectiva.
Então, reflitamos sobre a morte. Imagine que está aqui em um minuto e no próximo não está mais. Provavelmente experimentou entes queridos que faleceram. Como se sentiu? Não houve um senso de solidão, vazio e desapego às coisas que costumávamos levar muito a sério? Agora, se experimentasse a morte nesse momento, como todo ser humano experimentará, o que significaria para você? O que gostaria de ter feito de maneira diferente, se tivesse a chance de voltar? Que pensamentos e ideias levaria mais a sério? E qual seria sua perspectiva se pudesse reviver sua vida tendo experimentado a realidade trágica da morte?
O triste sobre a morte é que não podemos voltar para mudar nossas perspectivas, pensar sobre a vida ou desafiar nossa perspectiva e nos desapegarmos da natureza vazia da vida terrena. Entretanto, a coisa boa é que podemos dar o passo corajoso de refletir profundamente sobre a morte e o melhor de tudo, podemos fazer todas essas mudanças agora, nesse exato minuto.
Pensamento
"…para aqueles que refletem." (Alcorão
10:24)
"Ele ensinou a Adão todos os nomes..." (Alcorão 2:31)
"Não o compreendeis?" (Alcorão 6:32)
"Porventura não refletem em si mesmos?" (Alcorão 30:8)
Então como devemos pensar? Como podemos compreender o mundo ao nosso redor? Que métodos devemos usar para obter um entendimento verdadeiro do mundo? Essas perguntas têm intrigado as mentes de muitos grandes pensadores ao longo da história. Nossa tradição humana está cheia de debates e discussões que tentam encontrar respostas. Locke, Hume, Kant e muitos outros tentaram fornecer respostas para lançar luz sobre o debate eterno em relação a nossa compreensão do mundo. Alguns desses pensadores, como Locke, afirmaram que nosso conhecimento do mundo é limitado apenas às nossas percepções. Em outras palavras, o conhecimento depende de nossa experiência da percepção, também conhecida como a posteriori em epistemologia, que forma a tradição empirista em filosofia.
Locke argumentou que nossas mentes eram uma folha em branco, uma tábula rasa, esperando para serem escritas pela experiência. Outros pensadores, como Leibniz argumentou em seu ‘Nouveax Essais sur l’entendement humain’, que como os seres humanos temos conceitos e ideias inatos necessários para compreender o mundo ao nosso redor, conhecidos como a priori em epistemologia, o que significa que o conhecimento pode ser obtido independente da experiência de percepção, formando a tradição racionalista em filosofia. A visão de Leibniz parece ser uma posição mais forte, já que faz mais sentido. Entretanto, alguns filósofos e cientistas negam e afirmam que não se pode pensar sobre exemplos de coisas que podemos conhecer independente de nossa experiência de percepção. Isso não é verdade. Leve em consideração os exemplos a seguir:
·Círculos não têm cantos.
·4+4 = 8.
·O tempo é irreversível.
·Tudo que começa a existir tem uma causa.
·O todo é maior que sua metade (coma apenas metade de uma maçã!)
·Causalidade
Tomemos a causalidade como exemplo para ilustrar que não podemos apenas nos apoiar em nossa experiência de percepção. A causalidade pode ser conhecida sem experiência porque a trazemos para toda a nossa experiência, ao invés de nossa experiência a trazer para nós. É como usar óculos pintados de amarelo. Tudo parece amarelo, não por causa de qualquer coisa no mundo, mas por causa dos óculos por meio do qual estamos olhando para tudo. O argumento de que isso é apenas uma suposição não é verdadeiro, porque sem a causalidade não seríamos capazes de ter o conceito do mundo real e não compreenderíamos nossa experiência de percepção. Leve em consideração o exemplo a seguir: imagine que está olhando para a Casa Branca em Washington DC. Seus olhos podem vagar para a porta, colunas e então para o telhado e finalmente para o gramado na frente. Agora contraste isso com outra experiência. Você está no rio Tâmisa em Londres e vê um barco passar. O que dita a ordem na qual teve essas experiências? Quando olhou para a Casa Branca teve uma escolha para ver o chão primeiro e então as colunas e assim por diante. Entretanto, com o barco não teve escolha, já que a frente do barco foi a primeira coisa a aparecer.
O ponto aqui é que você não seria capaz de distinguir que algumas experiências são ordenadas por você mesmo e outras de maneira independente, a menos que tivéssemos a ideia inata de causalidade. Na ausência de causalidade nossa experiência seria muito diferente do que é. Seria uma sequência única de experiências: uma após outra.
Assim, parece que a maneira correta de formar conclusões é usar nossas ideias inatas e as experiências do mundo ao nosso redor. Em outras palavras, usar pensamento racional ou o que algumas pessoas chamam de razão. Apenas nos apoiarmos em nossa experiência do mundo material não seria suficiente como um método de pensamento, já que ela não seria capaz de confirmar verdades políticas, morais, matemáticas, lógicas e, não esqueçamos de mencionar, uma verdade fundamental como a causalidade.
Reflexões filosóficas (parte 5 de 5)
Descrição: Essa série de artigos fornece uma estrutura conceitual para responder às “grandes questões” relacionadas a nossa existência. Parte 5 continua com a discussão sobre o processo de pensamento que deve ser empregado para chegar às conclusões certas e explica que as bases intelectuais de qualquer visão de mundo devem ser avaliadas para julgar a validade de sua verdade.
- Por Hamza Andreas Tzortzis
- Publicado em 01 Aug 2016
- Última modificação em 01 Aug 2016
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Embora possamos compreender o mundo ao nosso redor usando pensamento racional, como podemos formular um argumento ou verificar nossas conclusões? Bem, isso encontra no estudo da lógica que essencialmente significa os princípios de raciocínio, com ênfase particular sobre a estrutura de nossos argumentos.
Ilustremos o uso da lógica no exemplo a seguir: se nossa amiga Maria diz: "João está vindo para jantar esta noite" e Davi diz: "Maria não está vindo para jantar esta noite." O que dizem é consistente? Bem, a lógica nos diria que se estão se referindo a mesma pessoa e ao mesmo dia então não, suas afirmações não seriam consistentes. Entretanto, se estão se referindo a uma pessoa diferente ou a um dia diferente, então sim, suas afirmações seriam consistentes.
Então combinemos os dois processos. João diz: "O que começa a existir tem uma causa e o universo começou a existir - portanto, o universo tem uma causa." Agora, de uma perspectiva lógica é um argumento válido, já que a última afirmação - "portanto, o universo tem uma causa" - logicamente deriva das duas primeiras afirmações. Mas isso não significa que seja racional ou razoável. Para descobrir que é razoável teríamos que investigar usando nossas ideias inatas e nosso senso de experiência, para ver se as duas primeiras afirmações são verdadeiras. Se forem, então a conclusão não só será um argumento válido, mas também seria um argumento sólido.
Apenas se apoiar no empirismo não nos daria uma resposta, já que nos levaria a suspender o julgamento sobre se o universo tem uma causa ou não, porque não pode ser sentido. Entretanto, isso seria equivalente a negar a existência de nossa tatatatataravó, porque não há evidência empírica da existência dela. Você pode argumentar "mas eu não estaria aqui hoje!" e isso é verdade, mas isso seria usar o pensamento racional para formar essa conclusão, já que você teria que deduzir que deve ter tido uma tatatatataravó, como todos os seres humanos devem ter tido uma avó para existirem.
É assim que todos nós devemos começar a pensar sobre a vida e o universo, para que possamos formar as conclusões certas, usando argumentos válidos.
Visão de mundo
"É possível que repudieis algo que seja um bem para vós e, quiçá, gosteis de algo que vos seja prejudicial; todavia, Deus sabe todo o bem que fizerdes, Deus dele tomará consciência." (Alcorão 2:216)
Viva e deixe viver, não prejudique outros e ficará bem. Isso faz sentido, certo? A ponto de não dever ser questionado. Mas por que? Por que automaticamente aceitamos algumas ideias e rejeitamos outras? Por que certos pontos de vista nos parecem agradáveis e, ainda assim, discordamos de outros, tudo sem realmente pensar sobre eles?
A resposta reside no conceito de uma visão de mundo. Uma visão de mundo é uma filosofia de vida que nos capacita a fazer sentido da vida e de nossas experiências cotidianas. A visão de muno que adotamos afeta a maneira com a qual processamos ideias e nos permite compreender a sociedade e nosso lugar nela. Uma visão de mundo é importante em associação particular com a nossa sociedade hoje - isso porque o mundo contemporâneo tem tido um efeito enorme sobre a psicologia humana. Parecemos incapazes de lidar com as mudanças imprevisíveis e com a complexidade crescente da vida - subsequentemente estresse, incerteza e frustração se tornaram comuns e nossas mentes estão sobrecarregadas com informação. Uma visão de mundo é a estrutura que une tudo, nos permitindo compreender a complexidade e imprevisibilidade da vida, ajudando a tomar decisões críticas que moldarão nosso futuro e a nós mesmos e nos ajudando ao fornecer um retrato do todo.
Visões de mundo variam e podem ir de superficiais a abrangentes. Uma visão de mundo superficial é aquela que nos dá a estrutura para reagir às experiências cotidianas, como no trabalho e amizades. Esse tipo de visão de mundo geralmente é formado via nossas experiências anteriores na vida e se desenvolve criando modelos de entendimento do mundo, ao contemplar sobre nossa história com ele. Esse tipo de visão de mundo é problemático, porque nos impede de progredir ao manter uma fixação inflexível sobre o passado, sem possibilidade de ver o mundo de uma maneira positiva ou diferente que possibilitará nossa transformação. É limitada em seu escopo por só se tornar abrangente de acordo com suas experiências, e individualmente nossas experiências são muito limitadas.
Uma visão de mundo abrangente, como discutida pelo filósofo Leo Apostel, engloba tudo na vida e inclui vários componentes. Fornece, por exemplo, um modelo para o mundo ao responder à pergunta básica "quem somos?" Além disso, fornece uma explicação geralmente respondendo "por que o mundo é do jeito que é?" e "de onde viemos?" Outra parte importante de uma visão de mundo abrangente inclui extrapolar do passado para o futuro para responder à pergunta "para onde vamos?" Deve se empenhar para responder "o que é bom e o que é mal?", em outras palavras, incluir moralidade e ética, ao mesmo tempo em que nos dá um sentido de propósito, direção e objetivos para nossas ações. A resposta à pergunta "para que?" pode nos ajudar a compreender o significado real da vida e uma visão de mundo abrangente deve responder a "como devemos agir?", nos ajudando assim a resolver problemas práticos. Por último, uma visão de mundo abrangente deve responder à pergunta: "o que é verdadeiro e o que é falso?". Em filosofia isso é equivalente ao que é chamado "epistemologia" ou "a teoria do conhecimento". Portanto, nos permitiria distinguir entre o que é correto e o que é incorreto.
Para qualquer situação existem vários resultados possíveis, todos ditados pela visão de mundo que se adota. Ao invés de discutir as ações, ou frutos, de uma visão de mundo, as bases da visão de mundo devem ser desafiadas e validadas. Assim, a visão de mundo que é mais correta ou tem bases intelectuais mais fortes deve ser a adotada.
É por isso que quando examinamos o Islã o foco primário não deve ser uma avaliação dos direitos das mulheres, vestimenta e sobre casos exagerados pela mídia, porque as avaliações desses casos serão tendenciosas e distorcidas em função da visão de mundo existente. Mas ao contrário, as bases intelectuais de qualquer visão de mundo devem ser avaliadas por sua verdade e a que possuir razões maiores para acreditar em sua verdade deve ser a visão de mundo adotada, porque estará em linha com o princípio de: o que vier da verdade é verdadeiro.
Então, que a jornada comece!
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